Fala Galera! Como vocês estão meus queridos!
PaladinoMonge trazendo mais um texto de impressões iniciais sobre um jogo que acabei de jogar. Cabe sempre lembrar que esse texto é baseado apenas na experiência da partida que joguei ao conhecer o jogo e o feeling que tive. Essa sensação pode mudar com o decorrer das partidas.
Bom, depois desse pequeno aviso, se ainda continua por aqui, é porque você quer saber o que eu achei do jogo Vast.
Mas antes de começar a escrever propriamente sobre o que achei, preciso dar mais um aviso.
Vast é um jogo totalmente assimétrico onde cada jogador assume o papel de algum personagem: Cavaleira, Goblins, Dragão, Caverna e Ladrão. E cada um joga de uma forma completamente diferente. Por isso mesmo, nesse texto, vou passar apenas a impressão do que senti ao jogar com a cavaleira e o que foi proporcionado durante a partida na visão dela, não entrando em detalhes nos outros personagens, pois como não joguei com eles, não tenho a mínima ideia de como é o gameplay (apesar de que na partida você acaba aprendendo o que cada um faz, mas a sua estratégia fica focada no seu personagem).
Então vamos aos dados copiados descaradamente da Ludopédia:
Quantidade de Jogadores: 1 a 5 jogadores
Mecânicas: Colocação de peças, Force sua sorte, Jogadores com diferentes habilidades, Sistema de Pontos de ação, tabuleiro modular
Dependência de idioma: Tem em português manolo. Então não se preocupe. Mas se quiser treinar seu inglês, é um jogo bacana para isso pois tem muito texto.
(Vast as Cavernas de Cristais é um jogo totalmente assimétrico)
Nossa partida foi em quatro jogadores e seguimos a configuração sugerida pelo manual, deixando o ladrão de lado (acredito que ele deva gerar mais consequências para alguns personagens). E como falei acima, eu estava com a intrépida cavaleira.
O jogo tem um fluxo de jogo padrão, onde a cavaleira é a primeira a jogar, seguida por goblins, Dragão e caverna. Cada um joga de uma forma, tem uma dinâmica diferente e objetivos diferentes para ganhar o jogo:
- A cavaleira precisa matar o Dragão;
- Os Goblins querem matar a cavaleira;
- O dragão quer fugir e para isso precisa se fortalecer para acordar e então sair da caverna (e os goblins estão no cardápio);
- A caverna quer matar todo mundo, e para isso precisa se expandir ao máximo para, depois, soterrar quem estiver lá dentro.
Já deu para perceber a dinâmica do jogo e a iteração entre os personagens. Vast é um jogo para quem gosta de iteração, porque é o que mais vai ter no jogo. Aliás, vá com o coração calmo e alma pura, pois o jogo tem muito take that que é necessário usar para atrapalhar o jogo de outro jogador.
(O tabuleiro da cavaleira)
Como joguei com a cavaleira, minha visão ficou bastante focada em derrotar o dragão e me defender dos goblins. A cavaleira, para isso, precisa evoluir na sua trilha de bravura para liberar mais cubos de heróis. No começo você começar apenas com um cubo, mas pode chegar a ter sete cubos, o que é magnifico.
Esses cubos são usados para realizar as ações da cavaleira ou ativar seus equipamentos (se necessário). Vamos falar um pouquinho dessas ações:
- Movimento: é como podemos andar na caverna. Sempre temos 1 movimento por vez, mas podemos aumentar a quantidade alocando cubos. Andar de um tile a outro, quer ele esteja revelado ou não, custa 1 ponto de movimento. Contudo, se o tile não tiver sido revelado, ele terá que ser revelado. Mas os pontos de movimento podem ser usados depois, caso queira. É através dessa ação que vamos desbravando a caverna e correndo atrás do dragão. Você só pode revelar tiles escondidos se tiver pontos de encontro;
- Encontro (percepção): Essa ação serve para realizar encontros da cavaleira e sempre temos 1 encontro na rodada, mas que podemos aumentar a quantidade de encontros alocando cubos de heróis. Essa ação também serve para percepção que é usada quando o ladrão está em jogo. O encontro nada mais é que revelar um tile de caverna e resolver, se quiser, o que é revelado (com exceção do evento e da armadilha dos goblins, que sempre são revelados). Cabe ressaltar que você pode fazer tudo que se encontra naquele tile com apenas 1 ponto de encontro. Então, se você revela um tile que tinha um tesouro lá, e ao revelar ele tem um cristal, você pode pegar o tesouro e tentar destruir o cristal, tudo com apenas 1 ponto. Essa ação também é usada para tentar destruir os cristais do dragão, que são cristais que vão deixando a fera alada mais forte;
- Força: Essa ação é usada para atacar (dragão ou goblins) e se defender (goblins). Via de regra, você precisa ter uma força igual ou superior para ter um ataque ou defesa bem-sucedidos (mas existem pequenas variações).
(A caverna começa a crescer. É hora de enfrentar o dragão)
Jogar com a cavaleira é tentar maximizar ao máximo suas ações, tentando a todo momento conseguir mais cubos de heróis, crescendo na trilha de bravura, que seria sua trilha de experiência. A grande questão aqui é que você não apenas ganha bravura. Você também pode perder, o que pode acarretar em perder cubos de bravura e ficar com menos ações no futuro. Logo, há a necessidade de sempre tentar subir nessa trilha, conseguindo mais cubos e se afastando do espaço que você perderia se retornasse nessa trilha.
Assim, não basta você focar apenas em tentar correr atrás do dragão e tentar matar ele o quanto antes. Na verdade, isso é bastante improvável de ocorrer antes que ele desperte com seus equipamentos iniciais. Isso porque, quando ele ainda está no subterrâneo, você só ataca com bomba e você tem apenas 3 delas, o que tiraria 3 pontos de vida de um Dragão com 5 pontos de vida. Logo, você vai precisar correr atrás de tesouros para conseguir equipamentos melhores que permitam atingir o dragão antes do seu despertar e, assim, ganhar o jogo.
Mas nada é fácil na vida dessa aventureira. Adivinha quem é que escolhe o tesouro que você vai receber?
Isso mesmo, a maravilhosa Caverna. Aliás, a Caverna é o que terá mais iterações com a cavaleira: Ela revelou um tile, a caverna precisa colocar mais tiles nos lados que estão abertos dessa tile revelado (que não tem parede). Tem evento no tile? A caverna escolhe qual evento. Tem tesouro? A caverna escolhe qual tesouro vai dar para a cavaleira.
(A caverna não dá sossego a nossa heroína. Em certos momentos, atrapalhando o seu objetivo)
Então não basta ir onde tem tesouro, tem que torcer para vir coisas muito boas para você receber algo muito bom. Mas saiba de uma coisa: a carta que a caverna não te entregar, era melhor que a que você recebeu. De qualquer forma, voltarei a falar sobre a caverna mais no final do texto, voltemos a falar dessa destemida guerreira.
Jogar com a cavaleira é saber que você precisa descobrir tiles para tentar pegar tesouros ou cristais (e isso ajuda a caverna), se defender do ataque dos Goblilns (que estão babando para arrancar nossa cabeça), além de enfraquecer e derrotar o dragão. E tudo isso usando as 3 ações acima citadas e seus equipamentos iniciais e adquiridos durante a aventura. Logo, você precisa maximizar ao máximo as suas ações pensando em todas essas variáveis.
(A iteração entre os jogadores é imensa)
Vast é um jogo cuja iteração é presente desde o setup do jogo. Uma ação de um jogador pode (e provavelmente) moldar a jogada de outro jogador. Por exemplo, os goblins ficam no encalço da Cavaleira e esperam para ver quais são suas ações. Ela irá desbravar a caverna e ficar desatenta em sua defesa? Ela irá focar na busca do Dragão para ataca-lo? E ao fazer isso, ela ficará distraída e não se defenderá de seus ataques? A partir do movimento feito pela cavaleira, os goblins poderão analisar qual a sua melhor jogada. Mas vai mais além disso. O Dragão também precisa se atentar o que vai fazer quando a cavaleira fizer suas ações. Vai fugir, vai tentar atacar a cavaleira (tirando preciosos pontos de bravura), vai focar em crescer e, assim, conseguir fugir? E a caverna, nesse meio tempo, está prestando atenção em todos os jogadores para ver o que ela fará para se expandir ao mesmo tempo que atrapalha os outros jogadores.
E aí, gostaram da introdução?
Como assim introdução PaladinoMonge?
Eu falei que seria um texto diferente, não falei? Agora eu vou colocar minhas considerações sobre o que achei do jogo após a partida.
Jogar com a cavaleira foi muito legal. Ela te proporciona momentos únicos no jogo e a capacidade de realizar combos com suas ações e equipamentos. Inclusive isso faz com que a cavaleira seja um personagem que jogue bastante tempo na sua vez (isso aumenta ainda mais com 6 ou 7 cubos de heróis). Gostei da forma que o jogo tratou de equilibrar as ações da cavaleira com os outros personagens. Eu tinha que me defender dos goblins ao mesmo tempo que precisava atacar o dragão. E isso fazia com que eu me segurasse em não sair caminhando feito um doido atrás do dragão e esquecer de me defender.
(Alguns dos itens que podem auxiliar a cavaleira em sua empreitada)
Mas isso não significa que você não possa se arriscar. A iteração é tão grande entre os jogadores que você pode tentar ‘influenciar’ um outro personagem para que você consiga focar em outra coisa. Deixa eu explicar. Nesse jogo, eu deixei de destruir cristais de dragão (que deixa ele bem mais forte) com o intuito claro de forçar a caverna a focar no dragão quando ela fizesse sua ação, diminuindo a força dele quando necessário. Ao mesmo tempo, eu deixava a possibilidade de o dragão comer goblins mais fáceis, me ajudando na minha defesa.
Talvez você se pergunte se deu certo essa estratégia. Ou mesmo me chame de louco por fazer isso. A questão aqui não é essa. É mostrar que é possível ter estratégias diferentes do que o usual devido ao próprio jogo e seu estilo de iteração (um querendo matar o outro hahahahah).
Outro ponto que é bem crucial quando se joga com a cavaleira, é prestar atenção na sua trilha de bravura. Você precisa sempre ficar evoluindo ela. Você precisa ganhar bravura na sua vez. Isso porque você pode perder bravura (e possivelmente irá) o que tira seus cubos adquiridos, caso você retorne para um espaço anterior a ele. Essa dinâmica é bem legal e faz você pensar muito bem nas suas jogadas. Caso você não ganhe bravura, a probabilidade de perder bravura é bastante alta e ficar sem um de seus cubos na próxima rodada pode ser bastante punitivo.
Jogar Vast foi uma experiência única e diferente. Jogar com um personagem que tem um objetivo próprio e joga da sua maneira é muito legal. E você enxergar toda essa iteração na mesa também é sensacional. Mas apesar disso tudo, eu não senti nenhum tipo de euforia ou aquela vontade de colocar o jogo novamente na mesa o quanto antes.
Vast é um jogo muito dependente dos jogadores para que ele funcione. E eu acho isso um ponto negativo em qualquer jogo (Mysterium e Deception, estou olhando para vocês). Se os jogadores não entrarem no clima de batalha entre si, a partida pode ficar quebrada e a balança pender para um lado. Mas o jogo é ainda mais dependente do jogador que controla a caverna.
(Dragão matando Goblins, Goblins atacando a cavaleira, cavaleira Matando Dragão e a caverna crescendo...)
A caverna é o balizador do jogo. Ela tem o poder de equalizar as forças dos outros personagens para que, quando alguém esteja muito forte e se aproximando da vitória, ele seja enfraquecido. Então é aquele personagem que vai te ajudar em um momento, mas pode te ferrar em outros. E tudo isso porque o jogador que a está controlando quer ganhar o jogo. Se o jogador não entrar nesse clima, se ficar de picuinha com algum outro jogador, ele vai favorecer, mesmo que indiretamente, outro jogador. Então é essencial que a caverna jogue SEMPRE bem. Mas ao mesmo tempo, a própria Caverna é muito dependente de que os outros jogadores batalhem entre si para que ela consiga se expandir e ter chances de ganhar.
Acho estranho falar essa minha percepção sendo que a partida foi muito bem jogada por todos os jogadores e o jogador que controlava a Caverna o fez com maestria (meu amigo Edson).
A questão é que eu fiquei com medo de jogar uma nova partida de Vast. Fiquei com medo que essa dependência atrapalhasse a partida que seria jogada, seja porque entrou uma pessoa nova na mesa ou os personagens foram trocados. Eu mesmo não quero ser a caverna. É responsabilidade demais.
(O jogo com as miniaturas fica muito bonito. Morram Goblins)
Mas eu vou enfrentar esse medo. Preciso jogar novamente Vast até para ver se essa percepção se comprova. Torço que seja apenas uma percepção errônea e que o jogo, com todas as suas pequenas nuances e a iteração entre os jogadores, consiga balancear o jogo.
De qualquer forma, Vast é um daqueles jogos que você precisa jogar pelo menos uma vez devido a experiência. O que você vai sentir depois de jogá-lo é com você.
Espero que tenham gostado e até a próxima galera!