Fala Galera beleza?
PaladinoMonge novamente se aventurando a escrever. E hoje quero falar sobre o Gloomhaven, um jogo que pode te conquistar? Porque? Bem, se ele fez com que um eurogamer fanático deixasse de jogar um euro para jogá-lo, realmente ele tem atrativos (não é mesmo Tiago Sales?).
Falar de um jogo com pouco tempo de vida e muito bem ranqueado na BGG (no caso número 1 do ranking BGG), não é tarefa fácil. Sempre vai existir aquele sentimento: será que não é só hype? É bem complicado mesmo. Até porque esses jogos, muitas vezes, tiram jogos consagrados, clássicos, de uma posição melhor nesse ranking.
Deixa primeiro eu dar aqui a ficha técnica desse jogo:
Número de jogadores: 1 a 4
Tempo de partida: 30 minutos por jogador (somente na porradaria. Se contar a cidade e viagem, vai fácil 3 horas de jogo)
Mecânicas: Ação simultânea, Gestão de mão, Cooperativo, Jogadores com diferentes habilidades, Movimento em Grades, Tabuleiro modular
Designer: Issac Childres
Dependência de Idioma: Alta (bastante texto no jogo).
Peso: 9,9 kg (não é brincadeira. Vai por mim. Vale a pena colocar isso aqui).
Vou começar dando spoiler das minhas considerações finais: Eu AMEI Gloomhaven. Sério. Adorei. Ele já está no meu top 10 jogos de todos os tempos e caminhando a passos largos para chegar ao topo. Isso tudo porque ele tem muitas qualidades que me enchem os olhos. Que me agradam pelas mecânicas, imersão e desafio proposto.
Mas isso não significa que ele não tenha defeitos. Na verdade, ele tem defeitos que podem desagradar a muitas pessoas. Mas meu intuito aqui é tentar mostrar uma outra perspectiva ao olhar para esses defeitos.
Mas antes, preciso dar uma pequena visão geral do jogo.

(A singela caixinha de Gloomhaven. Na foto nem tem os tiles de mapas e os tokes).
Cada jogador vai escolher uma classe e criar seu personagem, sendo que cada personagem é único, com habilidades próprias. No início temos disponibilizadas apenas 6 classes: Craigheart, Scoundrel, Mindthief, Brute, Tinkerer e Spellweaver. Mas no decorrer da campanha, novas classes serão disponibilizadas. Após a escolha, cada jogador pega sua miniatura e também a caixa da classe escolhida. Lá terá todas as cartas da classe (que são niveladas do 1 ao 9) e cartas para melhorar o deck de combate. Cada um começa também com 30 moedas de ouro que servirão para comprar itens para sua primeira aventura. Esses itens são livres de compra, mas o jogo dá uma sugestão de itens iniciais. É só comprar, colocar no seu personagem e partir para a briga.
Cada personagem também tem uma quantidade limitada de cartas que poderá levar para usar no cenário. Por exemplo, o Mindthief pode levar 10 cartas, enquanto que a Spellweaver apenas 8. Por causa disso, os jogadores escolhem, dentro desse limite e das cartas que estão disponíveis para ele, as cartas que formarão o seu deck para aquele cenário. Uma vez escolhido, aquele cenário será jogado com as cartas escolhidas.
No seu turno, o jogador irá escolher 2 cartas do seu deck. Essas 2 cartas, nesse round, serão usadas para 2 coisas: Primeiro para definir a iniciativa. Para isso, o jogador irá escolher uma dessas 2 cartas e usar o número de iniciativa no seu centro. E segundo, como cartas de habilidades que serão o guia das coisas que o personagem fará naquele turno.
Essas cartas de habilidades são divididas, Cima e Baixo, e cada uma tem uma habilidade distinta. O jogador terá que escolher realizar a ação de cima de uma das cartas e, obrigatoriamente, a que se encontra no lado oposto da outra carta. Após o uso, o jogador descartará ou perderá a carta dependendo do que está explicitado nela.

(Uma das classes iniciais do jogo. Com o tempo, jogando a campanha, novas classes vão sendo adicionadas)
PaladinoMonge, como assim descartar ou perder uma carta?
É bem simples. Quando você descarta uma carta, ao realizar um descanso (seja curto ou longo), você recupera essas cartas para sua mão. Já quando você perde, essas cartas não voltam mais, apenas por habilidades específicas. E aqui nós temos um grande ponto: os jogadores podem ficar exaustos não apenas quando chegam a 0 ponto de vida. Mas também se não tiverem como realizar um descanso, que nada mais é, que ter quase todas as suas cartas na pilha de perda.
É interessante falar também que os jogadores podem ir para a cidade de Gloomhaven ao final de todo cenário (seja ganhando ou perdendo aquele cenário). É na cidade de Gloomhaven que os jogadores gastarão seu ouro comprando novos itens, subirão de nível, poderão se aposentar. E depois de fazer tudo isso, eles podem ir para outro cenário já liberado desde que o grupo tenha os pré-requisitos para jogá-lo. Mas ao fazer isso, indo para a cidade ou viajando, os jogadores irão acionar cartas de eventos (de cidade ou de rota) e deverão ler a história e tomar uma decisão em conjunto. E juntos, sofrer as consequências de suas escolhas.
Claro que existem mais regras e detalhes no jogo de Gloomhaven. Mas o intuito aqui não é explicar as regras, mas passar minha visão e o que achei do jogo. E para isso foi necessário explicar um pouco, mesmo que de forma bem superficial, como o jogo funciona. E deixar bem claro que o Gloomhaven é um dungeon crawler e que ele prima pela exploração e crescimento de seus personagens, com o plus de deixar um mundo vivo onde as escolhas dos personagens fazem diferença nesse mundo.

(O jogador sempre irá escolher uma habilidade na parte de cima de uma carta e usar a que se encontra na parte debaixo da outra carta)
Como eu disse acima, eu gostei bastante de Gloomhaven, mas tenho consciência de que ele tem defeitos. E prometi que daria uma visão diferente para esses defeitos certo? Bom, então vamos começar com os defeitos:
1. Tamanho: Gloomhaven é grandioso. Seu tamanho espanta quem o vê. E não é para menos. Um caixa de 9,9 kg, que tira o sono de qualquer um que não tenha um espaço reservado para guardar essa pequena caixinha. Se você não tem, saiba que pode acabar com um trambolho jogado pelos cantos;
2. Setup: isso está meio que ligado ao item acima. Afinal, quando se tem tantos componentes, o setup tende a ser demorado. Ainda mais se você não tiver um insert ou organizar tudo em ziplocks separados. Aí o trem fica feio. Mas deixando bem claro, o setup do Gloomhaven tem média de 30 minutinhos para ser feito (foi o que demorei nas partidas);
3. Eliminação de jogador: sim, existe essa mecânica, mesmo que não seja mesmo uma eliminação propriamente dita, pois o jogador ainda poderá completar seu objetivo secreto e guardar ouro e experiência que tinha adquirido até aquele momento. Mas uma vez ‘morto’, ele não joga mais aquele cenário. A questão é que isso pode ocorrer no início do cenário, e ficar 2 a 3 h sem fazer nada, é bastante chato;
4. Loot: existe muita coisa a fazer nos cenários de Gloomhaven. Além, é claro de cumprir os objetivos, você pode pilhar o ouro que cai dos monstros e buscar os tesouros escondidos. O grande problema aqui é que, quando um cenário é vencido, aquela rodada acaba e pronto. Não tem mais tempo para você sair andando, agora com calma, para catar o que tá pelo chão. E isso pode ser bastante frustrante;
5. Tempo de partida: uma partida de Gloomhaven, em quatro jogadores, tende a demorar 3 a 4h. Se você multiplicar pelos 96 cenários que temos, serão mais de 300h de jogo. Isso se você ganha de primeira todos os cenários e não volta em nenhum para ganhar experiência e ouro. Quem tem esse tempo disponível para jogar tanto tempo um mesmo jogo?
6. Level Up: Subir de nível nesse jogo não é fácil. Você não ganha pontos de experiência por matar monstros. Somente ao usar determinadas cartas e ao vencer um cenário. E a quantidade de experiência não é muito. Então você irá jogar 3 a 4 cenários antes de conseguir subir para o segundo nível.

(Subir de nível em Gloomhaven não é fácil. E se não tomar cuidado, pode acabar sem nenhum prêmio ao vencer um cenário)
Eita, parece até que não gostei do jogo né? Mas foi por isso mesmo que dei spoiler. Eu adorei o jogo. Ele é sensacional. Sua mecânica de batalha, usando as cartas de habilidades para fazer ações e tendo um deck de batalha que modifica o dano (e muitas vezes anula um ataque COMPLETO), deixa o jogo muito dinâmico e gostoso de jogar. Você vai perder um tempinho olhando para o seu deck e escolhendo as cartas que vai levar para a exploração. E você vai gostar disso.
A IA dos monstros é sensacional. Eles não são burros. Eles sempre tentarão fazer o mínimo de esforço para atacar e maximizar sua ação e ataque. Eles pilham, coloquem armadilha, usam os elementos... E cada monstro também tem seu próprio deck de habilidades que molda o que cada monstro daquele tipo fará no turno.
Existe uma quantidade absurda de itens, eventos, e cartas de habilidades a serem desbloqueadas, que fazem com que os jogadores queiram cada vez mais ficar mais fortes e tentar subir de nível o quanto antes.
Mas um ponto que mais me chamou a atenção e que diferencia bastante o Gloomhaven de outros jogos é o mundo vivo de Gloomhaven. Sim, ele é vivo.
A começar pelos próprios personagens. Eles têm um objetivo de vida e, após concluir esse objetivo, ele se aposenta. Afinal, se já tenho o que quero, qual o significado de continuar indo em masmorras e colocando minha vida em risco? E ao fazer isso, novos personagens vão sendo desbloqueados, novos eventos, novas informações. É sensacional.
A cidade de Gloomhaven é um caso à parte também. Ela vai crescendo em prosperidade e com isso, vários fatores do jogo mudam. Itens mais poderosos são liberados (pense que os comerciantes estão ficando mais ricos e podem oferecer coisas melhores vindas da capital), personagens começam em um nível mínimo da prosperidade da cidade. É muito bacana.
Mas a grande cereja do bolo, são as realizações.
Nesse jogo existem 2 tipos de realizações. As realizações de grupos e as realizações globais. Essa última, quando liberada, vale para todos que estão jogando a campanha e podem alterar totalmente o que desenrolará no jogo a partir daquele momento. Novos cenários são liberados ou mesmo alguns não poderão ser visitados até que uma nova realização aconteça.
AH. Não posso me esquecer de falar que, por mais que seja um jogo no estilo legacy (sim, você vai colar muitos adesivos durante a campanha), você não precisa jogar apenas com um grupo fixo de amigos. Você pode ter vários grupos, com jogadores diferentes, jogando a mesma campanha, moldando o mundo de Gloomhaven. Afinal, não existe apenas um único grupo de aventureiros, não é?

(Você vai perder um tempinho olhando suas cartas e já pensando no estrago que poderá fazer com elas)
Poxa PaladinoMonge, você colocou vários defeitos que não curto em jogos e depois baba o ovo do jogo me deixando com vontade de jogar. E agora?
Por isso mesmo que tenho como objetivo mostrar uma outra visão dos defeitos apresentados aqui. Minha visão pessoal ao jogar Gloomhaven olhando pela imersão que o jogo quer proporcionar e suas mecânicas. Para isso, para cada defeito, vou por essa perspectiva. Vamos lá?
1. Tamanho: bem, aqui não tem jeito mesmo. Não há perspectiva que mude isso.
2. Setup: Vixe. O setup é demorado mesmo. Mas cabe ressaltar aqui que, quando você tá fazendo o setup, você já está se preparando para aquela aventura, uma vez que o cenário é aberto a todos do grupo. Não há um overlord. Então todo mundo já vai saber o que vai encontrar pelo caminho (apesar que não seria legal ficar lendo os textos né?). Então acaba sendo divertido e uma forma de começar a escolher o que irá levar de habilidades para o cenário.
3. Eliminação de jogador: o Gloomhaven prima pelo gerenciamento de mão e de seleção de ações. Então é importante que você analise bem as cartas que vai levar para o cenário. Não adianta ir com cartas poderosas que sempre serão perdidas. O equilibro é muito importante. Levar cartas que sejam possíveis de recuperar (na pilha de descarte) e cartas poderosas que podem salvar a sua pele. E claro, aprender a ter o tempo certo de fazer as ações. Isso faz parte do jogo, e essa mecânica de eliminação deixa o jogador mais ligado no que fazer. Claro que essa mecânica também foi feita para aumentar a dificuldade do jogo (imagine jogar com a variante morte permanente?)
4. Loot: por mais que seja frustrante não pegar tudo disponível, essa particularidade do loot faz com que o jogador tente maximizar suas ações no seu turno. E não somente o jogador, mas o grupo como um todo. Tomar decisões em conjunto e escolher bem o que fazer (não somente atacar, mas também pegar um tempo para pilhar) faz parte da diversão e dinâmica oferecida pelo jogo. E claro, para aumentar a dificuldade do mesmo. Em Gloomhaven, não basta sair matando, tem que pensar também em pegar os tesouros pelo caminho.
5. Tempo de Partida: Bom, isso é bastante relativo, não é? Para mim, se o jogo é divertido, eu nem vejo o tempo passar. Mesmo assim, apesar da partida de Gloomhaven demorar, ela é bastante dinâmica. Mesmo quando você não estiver jogando, você vai acabar se pegando olhando o que os outros jogadores farão no turno e participar com eles. O que é sensacional. Isso sem contar o tempo que você vai querer perder escolhendo as cartas para o cenário, comprar itens, discutir com o grupo qual escolha fazer no evento que foi iniciado... e não se espante de se pegar querendo começar logo o outro cenário.
6. Level Up: Olha o criador teve como referência jogos de computadores, RPG, que tem como uma de suas bases a procura por dinheiro e experiência. O famoso farmar. E isso também tem em Gloomhaven. Realmente é difícil subir de nível, mas isso não significa que você vai ficar preso em um cenário apenas. Isso não acontece porque o jogo tem um mecanismo para nivelar os cenários e fazer com que seus monstros fiquem mais fortes ou mais fracos, que os jogadores ganhem mais experiência e ouro. Então, por mais que você seja lvl 1, você poderá ir naquela montanha de fogo e tentar enfrentar os horrores que lá se encontram (até mesmo porque as cartas iniciais já são muito boas). Mas faça isso com parcimônia.

(Gloomhaven é um jogo difícil. Mas é muito gratificante. Não desista nunca. Você tem companheiros ao seu lado)
Espero que eu tenha conseguido passar essa minha percepção. Claro que para alguns esses pequenos defeitos continuarão a ser defeitos, mas eu vejo como oportunidade de jogar um dos melhores jogos que já foi criado.
Por isso, cuidado! Ao jogar Gloomhaven você pode se apaixonar e querer jogar muitas e muitas horas esse maravilhoso jogo, deixando de lado outros tantos jogos tão bons quanto ele.
By PaladinoMonge