Já é aquele dia do mês? Sim, é dia de Power Grid, em mais uma reunião desse grupo maravilhoso que se reúne mensalmente pra jogar a obra-prima de Friedemann Friese.

As reuniões normalmente ocorrem na Antares, mas, como hoje fiquei de castigo em casa cuidando da filhota por conta de um compromisso da esposa, a Mansão Carvalho de Souza abriu seus portões para receber três dos powergrideiros mais engajados da gangue: Hermes (Hermes), André (AndréArrais) e Tiago (TiagoSales).

Inocentes, escolhemos o mapa do Japão. Ignorávamos completamente, naquele momento, as horas de pura insanidade que nos aguardavam.

Ok, o mapa parecia um pouco apertado, mas isso era de certo modo compensado pela possibilidade de cada jogador iniciar não apenas uma, mas duas redes, em cidades pré-determinadas. Algumas cidades só tinham dois espaços (10-15 em umas, 15-20 em outras), e as conexões pareciam mais caras do que o normal, mas nada de muito extraordinário além disso. No mais, parecia mais um dia normal no escritório.

Ledo engano. Que mapa é aquele? Só jogando é que tivemos a exata noção de que tudo custa os olhos da cara: as conexões, os recursos, os espaços que logo começam a escassear. A sensação, lá pela metade do jogo, é de pura claustrofobia. Tive problemas de liquidez a partida inteira, faltava dinheiro até pro cafezinho. Sempre que eu tentava estocar recursos e manipular um pouco o valor do carvão ou do óleo, tinha que cancelar a operação pra não faltar elektrons pra construir. A cada turno nos entreolhávamos, abismados com a crueldade do fascinante mapa japonês.

Os leilões não foram menos amalucados. Teve usina de 38, salvo engano, que chegou a 101 elektrons. E o pior é que fazia todo o sentido. Como tudo era caríssimo, as usinas verdes ficaram mais atraentes do que o habitual.

Se Power Grid já é normalmente um jogo que não permite muitos erros, o mapa do Japão torna o jogo ainda mais impiedoso. Cometi alguns vacilos que me renderam a lanterna. Fiquei muito tempo com usinas baratas e ineficientes. Depois, investi rápido demais em usinas de endgame e fiquei sem dinheiro para construir no momento ideal. Isso, no mapa do Japão (aprendi hoje), é um erro fatal. Se você demorar demais pra construir, as cidades mais baratas desaparecem num piscar de olhos. Minhas usinas e minha posição no mapa ficaram em desarmonia o jogo todo, apesar de ter controlado bem a ordem do turno a meu favor durante toda a partida.

Os outros se saíram bem melhor do que eu. Na reta final, eu (amarelo) já estava fora do páreo, mas qualquer um dos outros três poderia vencer. A essa altura, todos já estávamos em pé ao redor da mesa, como naqueles filmes de cassino em que alguém aposta um milhão de dólares no vermelho. Eu tinha usinas pra iluminar 18 casas, mas só consegui construir 14. André (verde) e Hermes (preto) dispararam o fim do jogo, ambos configurados pra iluminar 17 casas. Tiago (vermelho) bateu na trave, com 16.



André e Hermes, empatados, partiram pro desempate: a angustiante contagem dos elektrons finais. Hermes estava pálido como um fantasma. André tremia como vara verde. Ao final de uma das partidas de Power Grid mais emocionantes que eu já joguei, declaramos, por diferença de uns poucos elektrons, a vitória do André, sua primeira do ano, e com todos os louros. Olhem a felicidade da criança:



Frase da noite (por Hermes): "Esse grupo de Power Grid já é uma das melhores coisas que me aconteceram neste ano." Tenho certeza de que todos na mesa partilhamos desse sentimento, Hermes.

Em junho tem mais Power Grid, com o mapa do Brasil-sil-sil. Fui!

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