
Introdução
O que falar desse jogo que eu mal conheci ontem e já joguei umas 20 vezes sem perceber?
Certo dia que não rolou jogatina resolvi experimentar um jogo solo de curiosidade. Nessa ocasião foi o Agrícola. Já havia jogado o jogo várias vezes, sempre com outras pessoas, mas nunca tinha tentado a versão para um jogador. É surpreendentemente boa e desafiadora. Desse dia em diante passei a prestar mais atenção em jogos que possuem uma variante para apenas um jogador, a exemplos do Sagrada e do Wingspan.
Sabe aquele dia que você tá a fim de jogar alguma coisa, mas por uma razão qualquer você não tem a oportunidade de encontrar outras pessoas? No começo eu achei meio esquisito, achei até graça de mim mesmo, mas quando eu me dei conta, eu já estava imerso naquele mundinho tentando "vencer o sistema".
Contudo, hoje a bola da vez é o "Orchard: A 9 card solitaire game". Vou chamá-lo apenas de Orchard para facilitar. Descobri esse jogo por acaso nas comunidades gringas de boardgames. O jogo venceu o "2018 9-Card Nanogame Print and Play Design Contest", já fiquei interessado. Eu admiro muito autores que disponibilizam versões Print and Play de suas publicações para gerar um maior público cativo. Alguns jogos seriam praticamente inacessíveis para nós aqui no Brasil se não fossem as versões Print and Play.
(Não quero entrar no mérito da discussão de versões Print and Play extra oficiais, que são consideradas pirataria. Este não é o foco da discussão. Esse jogo é completamente legal, liberado pelo próprio autor, podem imprimir a vontade. Façam esse favor a vocês mesmos e divirtam-se com esse pequeno grande desafio ^^)
Sem mais delongas, vamos finalmente falar do dito cujo finalmente...
O jogo
Como o próprio nome sugere, trata-se de um jogo solitário, ou seja, um único jogador, e é isso mesmo: o jogo tem apenas 9 cartas. Funciona como um puzzle, um quebra-cabeça.
Você possui um pequeno baralho com 9 cartinhas como essa:

As cartas possuem frente e verso diferentes. Você pode embaralhá-las de qualquer maneira para garantir uma maior variabilidade nas partidas e assim uma maior rejogabilidade.
A sua mão inicial tem 2 cartas. O jogo já começa com uma carta na mesa.
Em cada turno, você deve:
1. Jogar uma carta da sua mão. Parte dela deve cobrir outras árvores que produzem o mesmo tipo de fruta. Você pode virar a carta em 90º, 180º ou 270º, mas nunca usar o verso da carta, que é dupla face. Sempre que você cobrir uma ou mais árvores da mesma cor, você deve colocar um dado da cor correspondente em cada árvore que foi coberta dessa maneira conforme o exemplo a seguir:

2. Ao colocar dados sobre as árvores que se sobrepuseram umas às outras, você deve seguir a seguinte regra:
Árvores sobrepostas pela primeira vez recebem dados de valor 1.
Se a árvore já possuía um dado de valor 1 e foi coberta novamente, retire os dados, coloque a nova carta em cima e reposicione os dados em seus lugares com o número 3.
Se o dado possuía o número 3 e sua árvore foi coberta novamente, repita o processo anterior, sendo que o dado receberá o número 6.
Se o dado com o número 6 for coberto, ele continua com o número 6.

3. Compre mais uma carta, se possível. Ao comprar uma carta, você usa somente o verso da carta, não a parte que estava exposta no topo do baralho.
Além disso, você tem à sua disposição dois cubinhos pretos que representam frutas podres. Essas frutas são colocadas quando você decidir colocar uma carta em cima de uma árvore que não corresponde à árvore da carta que está em cima. Isto é, ao invés de colocar um dado como de costume, você coloca o cubo preto ali e retira o dado daquela árvore se houver. O uso desses cubos facilita o posicionamento das cartas em algumas jogadas, mas cuidado, ao final da partida eles valem -3 pontos cada. Só use esse recurso se for garantido que você vai pontuar muito mais do que em qualquer outra jogada possível.
O jogo acaba quando você tiver jogado a última carta ou se não for possível alocar nenhuma carta nas demais.
A pontuação é a soma do número de todos os dados sobre as cartas, descontados os cubos pretos se usados.

Considerações finais:
O jogo é um filler de um homem só. Tá de bobeira? A fim de jogar alguma coisa? Tem 10 minutos sobrando? Os amigos da jogatina ainda não chegaram? Esse é o cara, mas tome cuidado, o desafio nele inserido, a rapidez com que acaba uma partida, a vontade de superar o resultado anterior e a aleatoriedade, que garante a rejogabilidade, são fatores pesados que podem levá-lo a gastar bem mais tempo que o previsto. Eu não jogo menos do que 5 partidas disso quando tiro ele da caixa.
O fator sorte influencia, mas nem tanto. Claro que vão ter aquelas partidas que você sente que tá tudo vindo errado na sua mão. Você passa a imaginar "ah, se fosse aquela carta ao invés desta aqui...". Entretanto, o jogo tem uma curva de aprendizagem. Você fica mais esperto em relação às jogadas a médio prazo.
Levando em conta que você quase sempre vai cobrir as árvores com suas árvores equivalentes, ao mesmo tempo em que você vai deixar partes das cartas de fora, ampliando as possibilidades de combinação para as próximas cartas que virão, você passa a posicionar as cartas de forma ótima, de modo que você consiga ao mesmo tempo pontuar mais, mas também deixar uma configuração de mesa favorável para potenciais cartas que virão. O fato de você ter duas cartas disponíveis por jogada (à exceção do último turno, que você só tem uma), ajuda muito nessa questão de programar a jogada.
Esse jogo pode causar uma Analysis Paralysis (AP) violenta em alguns casos, às vezes até no comecinho do jogo. A vantagem é que nesse caso, pelo menos, você não vai estar fazendo ninguém mais esperar pela sua jogada hahahaha.
Minha opinião sobre o jogo. Eu gostei tanto desse jogo que fui procurar na Ludopedia a página desse jogo. Ao ver que não tinha, eu me prontifiquei a descobrir como cadastrar o jogo só pra trazer esse jogo ao conhecimento de vocês. Isso é o quanto eu gostei desse jogo. Minha nota pra esse jogo é 9. Entendeu o trocadilho? 9 cartas, nota 9. Minha nota pra Dominion seria 500 seguindo essa lógica xP. Brincadeiras a parte, esse jogo realmente merece um sólido 9 no meu critério pessoal em sua devida categoria.
É um jogo leve e abstrato. Eu adoro jogos abstratos, pesados ou leves, de Go a Azul.
Também dou o seu devido respeito aos Lisboas pesados da vida e os The Mind levíssimos (acredito que todo mundo deveria jogar The Mind pelo menos uma vez na vida, fica aí a recomendação em paralelo)
Extremamente elegante. O tópico está enorme porque eu me dei o trabalho de detalhar ao máximo, baseando-me no livro de regras (já disponível na página do jogo aqui na Ludopedia), mas na prática, esse jogo é muito fácil de ensinar: compre a carta, coloque em cima das outras dando match nas cores, pontue com os dadinhos as árvores que se sobrepõem, compre outra carta. Ao mesmo tempo em que ele traz um mundo de possibilidades de fritar o cérebro com apenas 9 cartas, 3 cores e 6 elementos por carta.
Até então, o máximo que eu consegui foi o placar de 47. Ainda não bati a marca dos 50 =.=b
Dica: Se você tem o jogo Sagrada, você já tem os dados necessários para fazer o jogo. O que eu fiz:
Peguei 9 cartas de Magic, daquela que não é nem carta, é só uma propaganda que vem no Booster. Sleeve transparente. Imprimi, recortei as cartas de papel do Print and Play (disponível na página do jogo), no meio fica a carta de Magic, em cada lado ficam a frente e o verso da carta. Não precisa nem de cola, o sleeve segura direitinho. Para os cubos de fruta podre, você pode usar qualquer marcador, se você não tiver cubo disponível. Eu uso duas daquelas pedrinhas de vidro de decoração.

(exemplo do jogo com dadinhos estilo Sagrada. Essa não é a minha versão, eu prefiro a versão com pouca tinta e fundo branco, além de usar o dado roxo para as ameixas ao invés do azul)
Obrigado a você que leu até aqui. Fica aí a dica. Espero que se divirtam o tanto quanto eu. Ao autor do jogo, essa é a minha forma de dizer muito obrigado.
PS: parece que o jogo vai ser publicado lá fora. O dia que isso acontecer, quando eu tiver acesso, vou comprar um exemplar só pra prestigiar o trabalho.
Um abraço e até a próxima.