Oi, pessoal!
Para a postagem de hoje, convidei o
Guerra, designer e produtor de conteúdo multiplataforma (vídeo no canal 3DU’s, podcast no Papo de Edus e colaborador eventual do blog da Galápagos Jogos), para falar um pouco sobre seu jogo
Heróis de San Villano, que está em financiamento coletivo no Catarse, e uma das metas que certamente interessará a muitos de nós: o modo solo.
Desde já, preciso declarar um conflito de interesses enorme. Não é segredo para ninguém que nós dois somos amigos de longa data, mais de 30 anos, com certeza. Por esse motivo, acompanhei o desenvolvimento de boa parte dos jogos do Guerra e a gente sempre falou bastante sobre modos solo para eles. O do Heróis de San Villano não foi exceção. Deixarei para dar minha opinião a respeito ao final do texto, espero que curtam.
1PGBR – O que te levou a desenvolver um modo solo para o Heróis de San Villano?
Guerra – Sou um grande adepto do jogo solo! E não é por falta de jogadores ou oportunidade de jogar em grupo: eu gosto mesmo de tirar alguns momentos sozinho para relaxar na frente de um bom jogo de tabuleiro. Apesar de jogar de tudo, meu estilo favorito de jogo solo é aquele onde existe uma missão a ser cumprida e uma narrrativa sendo desenvolvida no decorrer da partida. Marvel Legendary, Zombicide, B-Sieged, Robinson Crusoe e Friday são alguns dos jogos que veem bastante mesa por aqui na jogatina solo. Quando considerei adicionar um modo solo para o Heróis de San Villano, percebi que a temática de super-heróis abria possibilidades muito legais. Que tal usar sua organização para derrubar um chefão que está articulando vários vilões? Eu mesmo fiquei louco para jogar!
1 PGBR – Como funciona o modo solo desse jogo?
Guerra – Apesar de ter uma temática típica de ameritrashes, Heróis de San Villano tem como mecânica central a alocação de trabalhadores, comum nos euros. É bastante frequente nesse tipo de jogo, um modo solo no estilo "beat your own score", ou seja, onde você tenta maximizar sua pontuação a cada partida. Pessoalmente, não gosto muito dessa abordagem, tendo preferência por jogos nos quais você termina vencendo ou não a partida, nos quais há um objetivo a ser perseguido. No modo competitivo do Heróis de San Villano, os jogadores representam organizações de heróis que disputam entre si a mais bem sucedida no combate ao crime, enquanto que no modo solo, o jogador não enfrenta uma outra organização, mas um chefão que deve ser derrotado até o final da partida.
1PGBR – Uma das coisas que o jogador solo mais gosta de saber é de que forma o modo solo replica a experiência do jogo multiplayer. Como foi isso no caso do Heróis de San Villano?
Guerra – O primeiro aspecto que tive que trabalhar no modo solo foi a interação dos jogadores na alocação de trabalhadores. É preciso ter alguns agentes adversários bloqueando alguns locais para restringir as opções de alocação. Para essa parte, utilizei os componentes do jogo que seriam das organizações que o jogador não está utilizando. As cartas de organização serão colocadas junto a carta de modo solo (mostrada abaixo) para marcar a qual ação cada cor irá corresponder.

As fichas de rastreamento dessas organizações serão embaralhadas e irão formar uma pilha. A cada turno do chefão, uma ficha é sorteada e vai sendo formada uma fila. O agente adversário (ou melhor, capanga) se move para região da cidade com a ação mais forte correspondente a cor da ficha. Caso a cor da ficha seja igual a anterior, ele se move para o local que dá a maior quantidade de recursos. Esse mecanismo simples cria um mecanismo que simula um adversário disputando os locais da cidade com sua organização. Para poder enfrentar o chefão, o jogador deve derrotar 5 vilões de sua gangue, ou seja, que possuem características específicas como "Foco" (ponto forte do vilão). Quem jogou o jogo sabe que conseguir enfrentar 5 vilões até o final da partida já não é uma tarefa fácil, porém o modo solo precisava de um desafio a mais!
1PGBR – Outro ponto fundamental para jogos solo é rejogabilidade. De que forma esse ponto foi contemplado no desenvolvimento do seu jogo?
Guerra – Foram desenvolvidos 8 chefões diferentes, para cada um dos vilões elite, sendo que cada um deles possui um poder que adiciona uma regra diferente à partida. O Shogum, por exemplo, sequestra ajudantes sempre que você rastreia algum vilão, obrigando você a salvá-los durante a partida. O Transreverso adiciona uma limitação na forma que você pode movimentar os seus agentes, exigindo um planejamento maior para a executar as ações. Isso sem falar no Asfalto, que deixa um rastro de incêndios pela cidade, e na Gela-Tina, que controla a mente de heróis e o trás para a posição de um vilão durante a partida.

Fiquei muito satisfeito com o resultado do modo solo para o Heróis de San Villano! Devido a boa variedade de Chefões, cada partida vai trazer um cenário diferente no qual o jogador precisa adotar estratégias diferentes para sair vitorioso. O modo solo não se limita a simular um jogador adversário, mas através dos chefões trás novos desafios e mecânicas para o jogo.
1PGBR – Uma coisa que sempre deixa a gente de orelha em pé é modo solo acrescentado só para aumentar o escopo de jogadores, o que é comum como meta estendida de financiamento coletivo. Por que o modo solo fica como meta estendida nesse caso?
Guerra – A questão do que entra como meta estendida no financiamento é uma estratégia da editora, mas vou falar um pouco da minha visão. O jogo que está indo para o financiamento pela meta básica, é um produto enxuto, porém um completo e consistente. Depois de financiado, temos as metas estendidas para adicionar mais material ao jogo. Acho que faz parte da experiência de participar do financiamento coletivo ficar acompanhando o andamento das metas e aguardando aquela que você quer tanto. Tenho certeza que o modo solo é uma meta que muita gente está ansiosa para bater! Uma questão que vale a pena ser lembrada é que o modo solo é uma meta que se for batida vai ser adicionada em todas as cópias do jogo, não sendo exclusiva dos apoiadores do Catarse. No momento que escrevo já estamos quase lá! Apoie a campanha e divulgue para seus amigos, que estou confiante que vamos bater muitas metas!
1PGBR – Em alguns reviews já publicados, em particular o do Covil e o do Alan Farias, algumas questões foram levantadas quanto ao manual e à duração da partida. Sei que ainda jogaram o protótipo, que não é o produto final, mas de que forma isso vai ser contornado até lá?
Guerra – Foram feitos alguns comentários a respeito do manual que está disponível, que apesar de estar próximo do final, ainda é prelimimar. A partir do feedback que estamos recebendo e de algumas dúvidas que estão surgindo, estamos ao máximo polindo o manual para que ele fique o mais claro possível. Pretendemos também disponibilizar um material complementar que esclareça as principais dúvidas que possam surgir. Em relação a duração da partida, temos recebido feedback tanto de pessoas que gostaram quanto de pessoas que acharam ele um pouco longo. Para satisfazer a todos, vamos tornar oficial, adicionando ao manual, um modo alternativo que torna a partida mais curta e que já estava sendo utilizado em eventos.
1PGBR – Com o jogo já financiado, como você enxerga o futuro do Heróis de San Villano?
Guerra – Para um futuro próximo, fico na torcida para que todas metas sejam batidas e que ele possa chegar logo a diversas mesas no Brasil. Afinal, essa é a a maior satisfação para quem trabalha com design de jogos! Existe também um universo bem rico que foi criado como cenário para o jogo. Os personagens e as histórias são bem interessantes e divertidos! Seria muito legal ver esse universo ganhar vida fora do jogo. Se me perguntar se já pensei em expansão e se já pensei em ver ele fora do Brasil (talvez até com outro universo de heróis), estaria mentindo se dissesse que não. Porém, no momento, não existe ainda nada concreto a esse respeito.
Bom, pessoal, disse lá em cima que eu iria guardar meus comentários para o final e aqui vão eles.
Joguei o Heróis algumas vezes com o próprio Guerra, numa fase muito precoce do seu desenvolvimento. Já naquela época eu havia gostado do jogo. A arte era bem diferente, inferior à atual, e as mecânicas, embora funcionassem, precisavam de algum polimento. Isso era claro. Ele conseguiu cativar o pessoal da Dijon Jogos, que fez um incrível trabalho de desenvolvimento. Tudo que o jogo precisava no sentido de parecer e funcionar melhor, foi bem executado. Um novo artista foi contratado e foram feitos vários playtests com gente séria, que conhece muito de jogo de tabuleiro, e foram implementadas algumas mudanças que o tornaram um jogo de grandeza bastante diferente daquela que eu conheci. Eu não participei dessa fase, mas, algumas semanas antes da abertura do financiamento, eu e o Guerra jogamos uma partida no Tabletopia e ele me mostrou as ideias dele para o modo solo.
O jogo nitidamente havia melhorado. Daquele protótipo funcional e bem feito de um jogo com potencial, ele havia evoluído para um jogo redondinho, temático, bonito e interessante. O modo solo, em particular, funcionava bem e era difícil. O trabalho que a gente tem para gerenciar os Chefões é muito pequeno, não toma tempo do jogo, mas cria desafios com características bem distintas entre si. Embora não tenha sido desenvolvido desde o tempo zero do jogo, o modo solo não é apenas funcional, ele emula outro jogador de forma competente e traz um antagonismo gostoso. De modo algum ele me pareceu ser algo acrescentado com o intuito de simplesmente fazer o jogo ter um modo solo. A meu ver, respeita as regras de bons automas do mercado. Diria, inclusive, que em relação ao modo solo do seu design anterior, o Crop Rotation: Bug Plague, meu amigo Guerra evoluiu. Esse foi mais complexo em sua criação, mas ainda assim é bastante funcional e simples de gerenciar.
Eu sempre falei para o Guerra que nunca compraria esse jogo dele, porque não compro jogo sem modo solo. Daí o cara foi lá e tirou esse coelho da cartola. Depois de ter testado o modo solo, foi fácil decidir por apoiar o projeto dele e da Dijon Jogos. Torço para que vá adiante, bata a meta do jogo solo e muitas outras.
Para quem se interessar pelo jogo, o link para a página do Catarse está
aqui. Não deixe de apoiar, vale a pena.