Lançado no fim de 2018, Gugong fez bastante barulho em Essen e chegou ao mercado alavancado pelo trem do hype. O jogo se passa na China, em 1570, e os jogadores assumem o papel de poderosas famílias chinesas tentando ganhar influência através de subornos. Ou será que não?
Cada jogador começa com uma mão de 4 Cartas de Presente, que serão utilizadas para fazer as ações no tabuleiro - representando o suborno feito aos oficiais. As Cartas de Presente possuem um valor e em alguns casos, uma ação própria. A mecânica base do jogo é alocar uma carta no tabuleiro e realizar a ação do local, da carta alocada ou as duas. O truque aqui é que o valor de carta alocado deve ser maior que o da atual carta no espaço da ação, e ao colocar sua carta lá, a carta do tabuleiro vai para sua pilha de descartes para formar sua mão para a próxima rodada. Essa mecânica é bem legal, pois força o jogador a pensar em como montar o deck que quer usar já para a próxima rodada ao mesmo tempo em que ele está pensando no que fazer nessa.

Cartas de Presentes funcionam como trabalhadores num worker placement. (Foto: BGG)
Dentre as ações possíveis no jogo, os jogadores podem viajar - movendo seu meeple no mapa na parte superior do tabuleiro para ganhar tokens benéficos-, ajudar na construção da Muralha, tentar pontuar cumprindo decretos do Imperador, entre outras coisas. Geralmente essas ações requerem que o jogador gaste um número de servos - cubinhos com os quais os jogadores começam cada partida e que se renovam, ainda que não completamente, ao fim de cada rodada. Uma outra ação do jogo é a movimentação dos barcos na parte inferior do tabuleiro que, ao chegar em portos diferentes, pode receber uma recompensa permanente, como aumentar o limite de cartas na mão ou um servo duplo (um cubo que serve por 2). Uma coisa diferente no jogo é que os jogadores são obrigados a subirem numa determinada trilha, a do Palácio da Pureza Celestial, para estarem aptos e vencerem o jogo. Caso um jogador seja incapaz de chegar ao topo dessa trilha, sua pontuação é 0 e ele está automaticamente fora da pontuação final.

Subir na trilha do Palácio Celestial é necessário para poder vencer o jogo. (Foto: BGG)

Viajar garante tokens benéficos aos jogadores. (Foto: BGG)
Gugong não é um jogo temático. Longe disso. Em momento algum eu me senti na China, representando uma família poderosa, subornando oficiais e tampouco me senti construindo a Muralha durante as partidas. Achei todo o tema do jogo completamente seco, sem sal. Mas tudo bem, um bom jogo não precisa ser super temático.
O jogo tem algumas ideias interessantes, como a alocação de cartas, que funciona mais ou menos como um worker placement e força os jogadores a construírem seu baralho pra rodada seguinte. Na prática isso funciona, de fato, e é um ponto positivo do jogo. As outras coisas do jogo são, embora competentes, genéricas.
Gastar servos - cubinhos, comida, madeira, pode chamar do que quiser, não faz diferença - é necessário em praticamente todas as ações. Dito isso, existe um servo duplo que você pode pegar ao longo do jogo, portanto, por quê eu não pegaria?
Bom, se tiver outras opções estratégicas que se encaixem no meu jogo, talvez seja melhor não pegá-lo e fazer outra coisa. Pois é, o problema é que não tem. O jogo permite poucas variações de estratégia, não há um desenvolvimento pessoal de cada jogador, fazendo com que o jogador X persiga tal estratégia e o jogador Y vá por outro caminho. Dificilmente alguém não irá pegar o servo duplo, afinal, não existem variadas opções de melhorar seu jogo. Assim como não existe opção a não se chegar no alto da Trilha do Palácio para estar apto a vencer o jogo.
O mapa de viagens é bem legal, pois garante alguns tokens de benefícios para o jogador, de uso imediato que permitem algumas boas jogadas. Já a ação de comprar Jades no mercado parece deslocada da partida, pois é muito custosa para poucos pontos de vitória. Gugong é assim mesmo, um cabo de guerra: "Poxa, olha isso aqui que legal" e logo depois "Cara, isso aqui é meio nada a ver né?".
Gugong é um jogo ruim? Não. Mas também não é um jogo excelente, como o hype fez parecer. A qualidade dos componentes e da arte são ótimas, algumas mecânicas são interessantes, mas o jogo não traz nada de novo ou empolgante que justifique partidas em sequência (o que me incomodou, afinal é fácil jogá-lo várias vezes seguidas devido ao baixo tempo de uma partida, já que com 2 jogadores apenas, leva-se cerca de 40 minutos pra terminar). A sensação é que, depois de 3 ou 4 partidas, o jogo já ofereceu tudo o que tinha pra oferecer.
Gugong é competente no que se propõe, porém não se propõe a muita coisa. Na atual enxurrada de lançamentos, o jogo cai, pra mim, naquela lista de "apenas mais um".
Curtiu? Veja outros textos do canal:
Resenha: Detective, Sherlock Holmes no século 21
Resenha: Chronicles of Crime, investigação forense na sua mesa
Nikki Valens, a Rainha do ameritrash?
Resenha: Teotihuacan