Nos últimos dias tive a oportunidade de jogar algumas partidas do jogo Wingspan (Disponível no Tabletopia em versão oficial digital). Um joguinho de Elizabeth Hargrave, que está sendo lançado lá fora pela Stonemaier Games (mesma empresa de Scythe, Viticulture, Euphoria..). O simples fato de ser da Stonemaier já atiçou minha curiosidade porque gosto dos jogos da empresa. Então…. Hype...
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Já tenho as postagens do Desregrando. Mas em paralelo resolvi iniciar postagens como Dissertando para assuntos em geral e jogos que ainda não tive acesso na forma física. Basicamente aqui entram jogos em formato digital, protótipos, pnps ou simplesmente jogos que não tenho previsão para fazer vídeos.
O padrão de texto continua, então segue a programação normal:
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Wingspan é um jogo competitivo (1-5 jogadores / 50 min) em que somos estudiosos e observadores de pássaros, e buscamos descobrir e atrair as aves para nosso aviário. São literalmente 170 cartas de pássaros únicos, com suas características e habilidades.
Para vocês terem uma ideia resumida das regras, a graça da mecânica é a forma com que as ações são executadas. Cada linha do tabuleiro dos jogadores representa uma das 4 ações possíveis:
• Pagar ovos para baixar uma carta de pássaro da sua mão.
• Pegar recursos disponíveis na reserva.
• Colocar ovos em pássaros já no seu tabuleiro.
• Ou comprar uma carta de pássaro entre as 3 disponíveis no centro da mesa.
Seguindo a mesma lógica, cada coluna do tabuleiro mostra a progressão da força destas ações.
Conforme você for baixando pássaros, eles vão cobrindo as ações mais simples e apresentando ações novas em seu lugar.
Ao escolher uma ação, você coloca um dos seus cubos no espaço disponível mais a esquerda da linha, realiza seu efeito, e vai arrastando seu cubo para a esquerda realizando qualquer efeito de pássaros que você já tenha, até chegar na primeira coluna que encerra seu turno.
Por mais estranho que seja, a mecânica do jogo é basicamente isso. Os jogadores vão realizando ações até seus cubos acabarem, o que leva a uma fase de pontuação em que os jogadores colocam um de seus cubos em uma escala seguindo algum critério entre os pássaros que conseguiram (seja tipos de ninho, tipos de habitat, quantidade de ovos...). Cada turno tem uma pontuação diferente, mas todas são abertas desde o começo do jogo.
Então os jogadores recuperam seus cubos (menos os que ficaram marcando a pontuação) e repetem todo o processo. Depois de 4 fases de pontuação o jogo se encerra.
Para variar, vence quem conseguir a maior quantidade de pontos (Fases de pontuação + pontos de cada pássaro + pontos por objetivos secretos + 1 ponto por ovo + pontos por efeitos de pássaro).
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E ok, expectativa alta. Tudo que eu li sobre o jogo apontava para a observação/ estudo de pássaros, e só de olhar a capa já via eles voando de um lado pro outro no tabuleiro.
O primeiro ponto que me veio à mente quando comecei a jogar é “como eu amo jogos com regra simples que se desdobram em combos complexos”. Afinal de contas esse jogo é sobre criar uma maquininha de pontos.
Em seguida me surpreendi com a rapidez dos turnos, as escolhas estratégicas dentro da corrida por pontos, o quão limitadas são as ações, e o planejamento a curto e longo prazo.
Mas depois de um tempo me veio uma estranheza em relação ao tema (Eu sou o tipo de jogador que dá valor a um bom tema).
Ok, são 170 cartas de pássaros únicos, e mesmo que alguns pássaros compartilhem o mesmo efeito eles possuem características diferentes. Boa parte dos efeitos deles realmente fazem sentido com o tipo de pássaro, e a ideia de dividir eles entre seus habitats também ajuda na imersão no tema.
A arte, os tipos de informação de cada pássaro e a organização destas informações no jogo foram feitas de forma fantástica. Parece que você está “jogando uma enciclopédia”. Perfeito!!!
Só que a mecânica não me ajudou nessa imersão.
Ainda na produção do jogo, quando anunciaram que seria sobre observar/ estudar pássaros, eu realmente criei expectativa de que os pássaros teriam certa autonomia. Algo como “se você possuir tais recursos tal pássaro vai botar um ovo”, mas durante a partida você decide quando eles vão botar (você espreme o beija-flor e ele bota 4 ovos na rodada).
Outro exemplo, a ação de pegar cartas da mesa: Minha expectativa tendia a sensação de “esperar e observar”, mas no jogo você basicamente encomenda um pássaro disponível para colocar no seu parque privado e espera juntar recursos para soltá-lo.
Colocar um pássaro novo em campo então, tive que chocar dois ovos de beija-flor para ter um gavião.
Perceba que a mecânica do jogo em si é muito legal, é divertida, você percebe o seu desenvolvimento e as consequências das suas ações. Do outro lado, a arte do jogo é fantástica, mesmo jogando no pc (sem torre de dados, sem dados de madeira, sem o toque do material, sem ovinhos). Mas eu realmente não gostei da forma que tentaram conectar tudo isso ao tema.
Imagens oficiais dos componentes da versão física.
Aí já dá para ver que essa é uma questão bem pessoal, o jogo é bom, mas claramente minha expectativa foi quebrada.
Então cheguei a conclusão que eu tinha medo:
Amo a mecânica, amo a arte, mas não sinto mais tanta vontade de jogá-lo por ficar lembrando o que ele poderia ter sido.
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Apêndice:
Imaginem se a ideia da enciclopédia fosse levada a sério nesse jogo.
Se seu tabuleiro fosse seu caderno de anotações e tematicamente você anotasse as informações dos pássaros que resolveu analisar (em vez de “comprá-los”).
Os próprios ovos poderiam ser trocados por “ícones de observação”, assim em vez de trocar 2 ovos de beija-flor por um gavião você trocaria 2 pontos de observação pela descoberta de uma nova espécie.
E nem precisaria de 170 pássaros diferentes, a mesma espécie pode aparecer duas ou três vezes na reserva.
Basicamente seria o mesmo jogo com tema mais amarrado.