O Peão de Tabuleiro resenha: Bohnanza
Introdução:
Bohnanza é um jogo de cartas criado por Uwe Rosenberg, lançado no Brasil pela PaperGames. Serve de 3 a 5 jogadores com 14 anos ou mais, em partidas que demoram cerca de 45 minutos (meu tempo médio de partidas é de 31 minutos).
Em Bohnanza fazemos o papel de cultivadores de feijão, plantando feijões em nossos campos, fazendo trocas e colhendo feijões plantados anteriormente. Ganha-se moedas ao colher feijões. Vence a partida quem tiver mais moedas ao final.
Mecânicas:
Estão presentes no jogo as mecânicas de gestão de mão, coleção de componentes e negociação.
Componentes:
Caixa:
Bohnanza vem em uma caixa pequena, que tem 15,5 x 10,5 x 4,0cm por medidas e espessura de 2,0mm, feita em papel paraná. A arte da capa do jogo é bastante simples, mas objetiva. Na parte frontal, sem muitas firulas, somos apresentados a alguns dos tipos de feijões que encontraremos durante o jogo, o título do jogo, as editoras, o nome do autor e uma espécie de bordão: “Por um punhado de feijões!”
Nas faces laterais do jogo estão presentes o nome do jogo, os logotipos das editoras, a idade recomendada e a quantidade de jogadores. Somos apresentados ainda, em uma das faces, ao desenho da moeda, que serão os pontos de vitória no jogo.
Na face traseira da caixa temos uma breve descrição do jogo, as informações técnicas e mais uma pequena mostra dos feijões e dos campos de cultivo que encontraremos em seu interior.

Me chamou a atenção a presença do bordão, algo que eu não havia visto antes em uma caixa de jogos de tabuleiro. Não entendi muito bem o sentido do bordão, e fui procurar como ele havia sido escrito nas edições internacionais. Depois da pesquisa, tive a impressão de que cada editora teve total liberdade para decidir o que escrever nesta parte. Segue, a título de curiosidade, algumas das versões do bordão que eu pesquisei: em inglês temos “To bean or not to bean!”, em uma referência à célebre frase de Shakespeare “Ser ou não ser” (“To be or not to be”), sendo que bean significa feijão em inglês. Segundo o Google Tradutor, em polonês temos algo como “Plante e colete!”; em francês, “Quem semeia o feijão, colhe o dinheiro!”; em alemão “Eu acho que isso corta!”; em holandês “Calcanhar, eu te peguei!”, e a edição nórdica escolheu por não colocar um bordão na face frontal da caixa.
Merece detalhe o uso de verniz especial na imagem principal da face frontal da caixa, no nome do jogo e em alguns detalhes nas faces laterais e traseira, que dá um aspecto mais valioso ao trabalho simples da arte.
Obs: minha esposa lembrou-se que o João trocou sua vaca "por um punhado de feijões" mágicos no conto de fadas "João e o pé de feijão". Algo começa a fazer sentido.
Insert:
O insert é feito em papel triplex de 0,5mm de espessura, tem dois nichos para alocação do baralho do jogo e faz um recuo de 0,8cm das laterais da caixa. As três bordas do insert são mais altas do que as cartas, quando distribuídas igualmente entre os nichos, e deixam uma folga de 1,7cm entre o topo das cartas e a parte inferior da tampa da caixa. Com esta conformação, os demais itens presentes na caixa - campos de cultivo e manual - parecem não ter lugar na caixa. Eles ficam meio que sambando em cima da parte central do insert. Entretanto, a parte central do insert se entorta com o fechar da caixa e esta acaba por acomodar todos os componentes sem prejuízo para o armazenamento.

Manuais:
O manual principal é confeccionado em papel couche em estilo tablóide, e vem dobrado quatro vezes. Não gosto muito deste formato de manual devido ao desgaste ao qual fica exposto, com dobras em cima do texto e sujeito a atrito com outros componentes dentro da caixa. Este, especificamente devido às dobras feitas, já vem com algumas manchas de tinta, por causa do contato íntimo entre duas faces diferentes do manual, forçadas dentro de uma dobra.
O texto das regras é claro e direto, com diversas imagens de exemplos de jogadas. Não pude perceber erros grosseiros ou inconsistências.
O manual das cartas promocionais de feijões curinga vem impresso em 2 cartas frente e verso, nos mesmos moldes e material das cartas de feijões, que são o cerne do jogo. Este manual é bastante simples, com algum texto e figuras de exemplos, tudo muito claro e bem explicado.


Campos de feijão:
Confeccionados em papel supremo, vêm dobrados ao meio, e parece que, assim como acontece com o manual, o insert não foi feito para acomodá-los. Os campos de feijão têm dois lados: um para partidas com 3 jogadores e outro para 4 ou 5. Os campos são graficamente divididos em 2 ou 3 canteiros, a depender do lado usado, onde serão alinhadas verticalmente as cartas de feijões que plantaremos nestes campos. As cartas cabem perfeitamente em qualquer um dos lados, sem causar nenhum tipo de desconforto ao jogar.
Os campos podem parecer um tanto inúteis. Alguém pode pensar que bastaria que se fizesse 2 ou 3 colunas de plantio dependendo da quantidade de jogadores. Pode até ser, mas fico feliz que tenham optado pela utilização dos campos de feijão, pois, além de deixar a mesa algo mais bonita e temática, ajuda na organização dos feijões e evita confusões.

Cartas:
São 110 cartas de feijões (incluindo os curingas), 5 cartas de auxílio ao jogador e 1 carta de primeiro jogador, todas no formato 56x87mm (std. USA) e 0,5mm de espessura. Todas as cartas têm bordas e parte traseira de cor predominantemente branca.
A carta de jogador inicial é simples e direta. Uma vagem verde sobre um caixote levanta a mão chamando a atenção para si, com os dizeres “jogador inicial” a seus pés. Faz seu serviço e ainda adiciona uma ilustração simpática à mesa.
As cartas de auxílio ao jogador têm informações diferentes em suas duas faces. Em uma delas, puramente textual, há um resumo das regras do jogo, desde a preparação da mesa. Um dos melhores auxílios ao jogador que já vi. Obviamente, a simplicidade das regras do jogo colabora para que algo assim possa ser feito. Em sua outra face há uma lista com todos os tipos de feijões disponíveis, e a quantidade em que podem ser encontrados no baralho.
Cada um dos 9 tipos de feijões presentes no jogo tem uma ilustração própria, cartunesca e divertida, aparentemente ligada ao nome do feijão. Digo aparentemente, pois em alguns casso não consegui fazer a ligação entre o nome do feijão e sua ilustração, talvez por uma barreira linguística entre o autor do jogo, os tradutores e eu. Todas as ilustrações têm aspecto cômico, com traços que remontam às tirinhas de jornal da década de 90. As cartas de feijão trazem em sua face frontal a imagem do feijão ao centro, com 2 cópias menores posicionadas nas diagonais superiores da carta, o número de feijões existentes no baralho na parte superior central e, abaixo da ilustração central, o nome do feijão e feijômetro: um quadro de referência que mostra quantos feijões é preciso colher para se conseguir de 1 a 4 moedas. As cartas curinga não têm feijômetro ou numeração, pois podem substituir qualquer tipo de feijão. Todas as informações dispostas em cores bem contrastantes de fácil visualização e bastante intuitivas.
Não gosto muito de cartas com bordas ou predomínio de cores muito claras, pois tendem a sujar/encardir com facilidade. Curiosamente, apesar de já ter jogado mais de 30 partidas sem sleeves, o branco das cartas não mostrou sinais de sujidade excessiva. As partes coloridas das cartas, no entanto, já mostram sinais de desgaste. Não consegui perceber muito bem através de qual mecanismo está a ocorrer este desgaste, pois não ocorre em todas as cartas e, nas cartas em que aparece, o desgaste ocorre sempre no mesmo local. Em Red7 apontei uma falha na qualidade do material/técnica utilizados na confecção das cartas, que pode ser visto neste review. Aparentemente a PaperGames conseguiu alguma melhora neste quesito, mas ainda fica devendo.
Edição 02/12/2018: me dei conta recentemente que esqueci de mencionar algo quando publiquei esta resenha em outubro/2018 sobre o verso das cartas. Em seu vero as cartas de Bohnanza trazem as moedas, que serão contadas como pontos de vitória ao final do jogo. Primeiramente, achie esta uma solução muito elegante: as próprias cartas de feijão colhidas (ou algumas delas) irão se tornar as moedas, e isso cria uma economia de material e mostra uma inteligência e elegância de design muito interessantes. Sobre a arte do verso, o fundo em branco traz estampado em cinza claro algumas imagens do que acredito ser o feijão comum e, a moeda situada ao centro da carta traz a imagem de um feijão fantasmagórico com asas de anjo e carregando saquinhos cheios de moeda. Mais uma vez o bom humor cartunesco presente no jogo, mostrando de forma divertida (para a aliviar a consciência dos jogadores) que o feijão colhido logo, morto, foi o responsável pela riqueza do jogador.




Regras
A preparação do jogo é bastante rápida. Cada jogador recebe um campo de feijão (utilizando o lado adequado para a quantidade de jogadores) e o coloca na sua frente, cinco cartas, e o primeiro jogador recebe a carta que o identifica. No centro da mesa fica o monte de compras.
A regra mais importante, e mais curiosa, do jogo é que as cartas recebidas devem permanecer na mão na ordem em que foram recebidas, e não podem jamais ser trocadas de ordem ou organizadas de outra forma.
Entendido isso, o jogo segue como uma receita de bolo:
O jogador da vez planta, obrigatoriamente, o primeiro feijão em ordem de sua mão, e pode, se quiser, plantar também o segundo.
Este jogador compra duas cartas e as deixa abertas na mesa para todos verem. Estas cartas pertencem ao jogador que as comprou, mas ele pode negociá-las, bem como as cartas que estão em sua mão, com os demais jogadores, ou pode o plantá-las em seus campos. Aqui vale tudo, até dar ou receber feijões de graça.
Terminada a fase de trocas, o jogador da vez compra três cartas e as coloca, na ordem comprada, no fundo de sua mão.
Qualquer um pode colher feijões de seus campos e receber moedas por eles a qualquer momento. Os feijões colhidos vão para uma pilha de descarte, que será reembaralhada para servir de nova pilha de compras.
O jogo segue assim até que a pilha de compras se acabe por 3 vezes. Ganha quem tiver mais moedas.
Tema
Somos cultivadores de feijão que plantamos, negociamos e colhemos feijões em troca de dinheiro. Parece um tema bem estranho e achei até que poderia vir a afastar jogadores de experimentar o jogo, mas pra minha felicidade não recebi nenhum comentário a respeito do tema, nem positivo nem negativo.
Arte
Achei a arte do jogo, apesar de simples, bastante simpática e divertida. É um jogo de limitação apertada, que admite poucos erros se quiser vencê-lo. Chega a ser tenso, principalmente na fase de negociações. A arte cartunesca é muito bem vinda ao trazer algum alívio cômico ao jogo, trazendo à tona algumas brincadeiras a respeito dos feijões, e até a adição de apelidos para alguns deles.
Infelizmente, apesar de os desenhos dos feijões serem bem bacanas, a arte-final dos elementos do jogo parece bem amadora e mal acabada. Também acredito que uma atualização da arte, trazendo traços mais contemporâneos, poderia ajudar a renovar o aspecto de década de 90 do jogo, e deixar seu visual mais agradável. De qualquer forma, não interfere no prazer de jogar.
Opinião
Demorei a adquirir Bohnanza. Primeiro, devido ao tema, que não atingia meu coração. Segundo porque não havia nenhum amigo próximo que possuía o jogo para experimentar. E terceiro porque, apesar da boa oferta de reviews escritos ou em vídeo, nenhum deles foi capaz de transparecer pra mim a emoção da negociação presente no jogo. Ao ler o manual, a receita de bolo que o jogo seguia me parecia deixar o jogo muito quadrado, sem muitas opções do que se poderia fazer. Depois de jogar minha primeira partida essas impressões foram completamente refutadas. É óbvio que você fica limitado na maior parte do tempo. É na fase de negociações que o jogo realmente acontece e brilha, e você vê que toda aquela limitação tinha um objetivo: fazer os jogadores negociarem os feijões da melhor forma possível. Demora um pouco para que se aprenda que não se deve apegar-se aos feijões. Às vezes dá-los de graça a alguém é a melhor forma de fazer sua mão girar e chegar ao feijão mais valioso que estava na segunda ou terceira posição, ou facilitar o plantio daquele feijão que vai completar seu campo e dar mais moedas na colheita.
Nas primeiras partidas o jogo pode até acabar rápido demais, pois tendemos a prender feijões na mão, aguardando uma oportunidade para plantá-los. Assim, o monte de descarte fica pequeno, e por consequência o monte de compras da próxima rodada fica pequeno também. Uma vez que a mesa aprende a girar a mão mais rapidamente através das trocas, o jogo ganha um pouco mais de tempo e com certeza ganha muito em emoção. As negociações ficam mais tensas e chega a sair faíscas nos olhares quando há bons negociantes na mesa. Nada muito difícil de aprender. Pega-se a malícia de comparar valores de feijões diferentes e pensar se as trocas realmente valem a pena muito rápido.
Está presente em Bohannza algo muito comum em jogos de cartas, que é a contagem de cartas. Saber quais cartas já apareceram, quantas viraram moedas, quantas estão no descarte em determinado momento do jogo e quantas ainda podem vir a aparecer podem ajudar você ao longo da partida. Eu sou péssimo em contar cartas, mas acaba que meio que sem querer você pega um relance, uma idéia geral do que já passou ou ainda está por vir no jogo. A menos que você esteja participando de um campeonato, eu acho que é meio que opcional essa habilidade de contar cartas para se jogar bem Bohnanza e se divertir.
Quem vai gostar deste jogo?
O ritmo de Bohnanza faz com que ele seja praticamente um party game para poucas pessoas, mas com uma dose bem grande de tática e algo de estratégia, que agradou a todas as pessoas com quem joguei. Vai agradar principalmente pessoas que gostam de problemas de aritmética básica, que gostam de contar cartas negociação e interação forte entre jogadores.
Quem não vai gostar deste jogo?
A idade realmente é um fator limitante, e pessoas abaixo dos 14 anos podem não aproveitar totalmente a experiência que o jogo proporciona, e podem ainda atrapalhar a experiência dos demais jogadores.
Ainda, pessoas muito introvertidas, que têm dificuldade para interagir, podem achar desagradável jogar Bohnanza, uma vez que o jogo depende muito dessa interação. Jogadores que tenham, porventura, alguma limitação forte em avaliar aritmética básica também poderiam vir a não gostar de jogar Bohnanza.
O que me encanta neste jogo?
A negociação, certamente. É tensa, é emocionante, quase agressiva, mas também muito engraçada e divertida. O fato das regras deixarem o jogo limitado e jogarem todas as expectativas de fazer algo bom para a fase de negociações cria um desafio que também me encanta.
Como tema e mecânicas interagem?
Temos cartas com sementes de feijão, campos onde plantamos estas sementes e ganhamos dinheiro ao colher a plantação, o que é coerente com o tema proposto. No entanto, não consigo imaginar cultivadores de feijão sendo obrigados a plantar suas sementes na ordem em que chegam à sua propriedade, ou negociando feijões que aparecem vindos de um mercado obscuro, ao qual não se paga pelas sementes adquiridas. Essas incoerências, no entanto, apesar de estranhas, não atrapalham o jogo.
Joga bem com a quantidade de jogadores proposta?
As partidas com 4 ou 5 jogadores são bem mais interessantes. Como o jogo se baseia principalmente na negociação, a cada vez de um jogador tem-se a oportunidade de negociar. Com menos jogadores as possibilidades de negociação diminuem tanto que os campos de feijão para partidas com 3 pessoas têm 3 campos de plantação, ao invés de 2, como é com mais jogadores. Jogar com 3 pessoas é divertido, mas o jogo fica meio morno.
Porquê está na minha coleção?
Porque certamente é o melhor jogo de negociação que possuo no momento, é um bom jogo de entrada, mas também agrada a jogadores mais experientes.
Ainda é divertido depois de 30 partidas?
Foram 36 partidas até o momento e fico feliz em dizer que o jogo não me cansou ainda, nem a meu grupo de amigos. Percebo também que o jogo fica muito diferente a depender das pessoas que estão na mesa, e a rotatividade de jogadores traz frescor à dinâmica do jogo. Acredito que ainda vai permanecer um bom tempo na coleção.
Pontos positivos
Fácil de ensinar e aprender;
Pequeno, fácil de transportar;
Alta interação entre jogadores;
Melhor jogo de negociação que conheço;
Informações claras e de fácil visualização nas cartas;
Ótima carta de apoio aos jogadores;
Cartas de boa consistência, resistentes.
Pontos negativos
Alguma dependência de sorte;
Alguma dependência das pessoas à mesa;
Arte com aspecto amador;
Insert ruim;
Baixa qualidade das tintas das cartas;
Manual principal em papel de baixa qualidade, já vem com manchas de tinta devido às dobras;
Tema estranho;
Mecânicas e tema não fazem muito sentido juntos;
Não escala muito bem em partidas com 3 jogadores.
Esta é minha terceira resenha sobre jogos de tabuleiro. Espero ter colaborado com sua busca por informações. Todos os comentários e sugestões são bem vindos.
Seguuura, peão!