“Cadê o 9?! Cadê o 9?!?! AAAAH! Tá aqui! Não! AAAAH!!! Isso é o 6! CADÊ O 9?!?!?!”
Pit Crew é um jogo de tabuleiro alucinante de automobilismo e raciocínio matemático – dois assuntos que a princípio parecem muito distantes, mas que neste jogo se encaixam como um pistão no cilindro de um motor (hehehe).
O jogo simula um campeonato de Fórmula 1 em que diversos incidentes desventurados – e por vezes
super incidentes – acontecem com os competidores a cada corrida, fazendo com que os carros precisem o tempo todo sair da pista para consertos. Os jogadores assumem o papel das equipes de
pit stop de cada piloto, e recebem um tabuleiro individual do carro onde há espaços para alocar cartas de motor, tanque de gasolina, aerofólio e quatro pneus, componentes que com certeza serão danificados ao longo da partida das formas mais mirabolantes.
A cada rodada, uma carta de incidente é revelada, e com ela a indicação de quais partes do carro precisarão ser trocadas ou consertadas pelas equipes de
pit stop. No centro da mesa, 70 fichas numeradas e relacionadas com essas partes ficam expostas, e é por causa delas que Pit Crew se torna um jogo frenético: cada componente de carro é consertado por uma operação matemática diferente: as cartas de pneu apresentam dois números unitários que precisam ser somados ou subtraídos usando as fichas; as cartas de aerofólio necessitam de soma ou subtração entre números com dois dígitos; as cartas de motor demandam uma multiplicação entre dois números; e as cartas de tanque devem ser preenchidas por fichas que completem um intervalo numérico.
Deu pra perceber porque vai ter caos e frenesi? Pois é, vai estar todo mundo procurando pelas fichas numeradas ao mesmo tempo, e muitas vezes dois ou mais jogadores precisarão da mesma pra fazer um
pit stop bem-sucedido! E não vale demorar demais pra garantir que não errou nenhuma conta – cada jogador que concluir suas operações deve rapidamente coletar uma bandeira, e quem não for rápido o suficiente fica sem. As bandeiras (nas indicações ‘ouro’, ‘prata’ e ‘bronze’) pontuam de maneira diferente, e os jogadores avançam os
meeples de carrinhos no tabuleiro de pontuação (que é uma pista de corrida^^). Mas cuidado! Não dá pra fazer as contas de qualquer jeito: se alguma das operações tiver sido feita errado, o(a) jogador(a) perde a pontuação da rodada e precisa passar sua bandeira para o(a) jogador(a) que terminou as contas depois dele(a).
Parece intimidador a princípio, por causa da matemática, mas Pit Crew se revela um jogo festivo leve, dinâmico e divertido, com muita bagunça e risadas pra oferecer. Com duração estimada em 20 minutos por partida e jogável por 2 a 4 jogadores, Pit Crew tem grande potencial de agradar a família toda – que vai ter que desenferrujar a calculadora que carregamos dentro da cabeça – e servir como ferramenta para estimular o gosto pela matemática nas crianças. Competitivo na medida certa, o jogo oferece regras adicionais e variações que permitem um maior equilíbrio entre adultos e crianças jogando, bem com um modo de jogo para crianças bem novinhas.
Lançado em 2016 após um bem-sucedido financiamento coletivo, Pit Crew é o jogo de estreia da
Editora BGC e uma realização louvável do designer brazuca
Sandro Tomasetti. O Sandro, inclusive, conversa o tempo todo com o leitor do manual de regras, por meio de quadros especiais no texto chamados ‘Nota do Designer’. Essa sacada descolada permite ao jogador conhecer mais sobre o processo criativo que levou ao Pit Crew, entender decisões tomadas com relação às regras e receber dicas e sugestões baseadas nas mais de 200 sessões de playtest pelas quais o jogo passou antes de vencer a corrida da publicação (hehehe 2). Ah, e eu já falei que o jogo foi finalista do
Prêmio SBGames 2016 (categoria
Outras Plataformas) e indicado ao
Prêmio Ludopedia 2017 (categoria
Melhor Jogo Família do Ano por Designer Nacional)? Não é à toa que a cada partida Pit Crew acaba levando algum jogador ao pódio (hehehe 3, e juro que parei)!
Opinião do Gian da Ludoteca:
Pit Crew é corajoso em resgatar um tema que já esteve muito em voga no Brasil, principalmente nos anos 90, que é o automobilismo. À primeira vista, como não sou grande fã de Fórmula 1, admito que não senti tanta vontade de conhecer o jogo, mas bastou a oportunidade de colocá-lo na mesa para eu perceber que não se deve mesmo julgar um livro pela capa jogo pelo tema. Pit Crew é divertidíssimo como
party game, e funciona muito bem em grupos que gostam de bagunça pra aumentar a adrenalina. Por isso, é também uma escolha acertada para crianças jogarem entre si! O fator ‘matemática’, que à primeira vista pode não interessar muito alguns jovens (eu sou exceção, sempre adorei matemática!), nem de longe atrapalha a experiência, e, muito pelo contrário, proporciona a parte mais desesperadoramente engraçada de jogar, pois a experiência é como resolver um passatempo de lógica com contagem regressiva! Justamente por ter esse atributo da bagunça e do bom humor tão intrínsecos é que Pit Crew se torna uma ferramenta excelente para estimular o gosto por calcular e inclusive para ajudar a mudar a visão de crianças resistentes com relação à matemática, que pode sim ser muito divertida. Não preciso nem dizer que
o Dia das Crianças tá aí, né...
[Raio X originalmente publicado em 12 de outubro de 2018, no Blog da Ludoteca - blog.ludoteca.com.br]