Amigos, agradeço muito o debate enriquecedor que veio a partir do post. Com ele, amadureci bastante minha visão.
Basear o argumento do declínio na falta de novas mecânicas registradas no BGG foi um bocado desastrado. Mas sigo achando que os jogos euros vivem um certo platô criativo, depois de uma efervescência nos anos 00. Isso não significa que não existam mais jogos originais, apenas que em média há menos.
Acredito que isso possa ter acontecido porque nos anos 10 passou a haver uma discussão teórica muito maior sobre o que faz um jogo ser bom. Conceitos como downtime, fluidez de jogo, variabilidade / rejogabilidade, mecânicas de catch-up e vários outros entraram no vocabulário dos reviews e dos jogadores.
Nos anos 10 os melhores lançamentos são primores técnicos. Pulsar, Marco Polo, Clans of Caledonia, Rajas of the Ganges, Yokohama e vários outros são jogos sem falhas. Turno rápido, decisões sempre interessantes, interação não-destrutiva, etc. etc.
Mas de alguma forma, talvez por obedecerem da mesma forma às melhores práticas, são jogos com feeling parecido. São todos jogos de otimização, que usam vários expedientes semelhantes como, por exemplo, objetivos secretos, contratos e oportunidades de combos (faço isso pra conseguir aquilo que me dá aquilo outro). São fórmulas garantidas que criam tensão e excitação no jogo, mas são padronizadas.
Talvez pela falta dessas fórmulas, euros mais antigos dão uma sensação de originalidade muito maior. Não há contratos, objetivos secretos e nem combos em Power Grid, Agricola, Puerto Rico, Caylus, Through the Ages, Tigris & Euphrates, Princes of Florence, Tikal, El Grande, Dominant Species, Race for the Galaxy e muitos outros. Cada um resolve à sua maneira os problemas de fluidez, rejogabilidade, decisões interessantes.
Cada um também tem vários erros técnicos que talvez não fossem admitidos hoje: o downtime imenso de Through the Ages, o upkeep bisonho do Agricola, a dependência de sorte do Tigris & Euphrates, a possibilidade de eliminação do Princes of Florence. E no entanto cada um parece um membro único de uma coleção de jogos, e não outro um jogo de otimização.
Por isso, cabe elogiar aqui os jogos originais que continuam surgindo, como Clank e Azul, que conseguem, sem elementos formulaicos (como é difícil!) criar grandes experiências, tensas, divertidas e únicas.