professor:: Acabo de chegar em casa. Cansado, triste, emocionado e preocupado. Vi pessoas sangrando e sendo carregadas, vi outras tantas no chão sem receber auxilio ou socorro. Quem tentava ajudar era alvejado pela polícia e acabava precisando de socorro também.
Vi senhoras na idade de serem minhas avós levando porrada da policia, pelas costas. Uma criança foi levada para atendimentos médicos. Eram professores, pais, alunos e vendedores que montaram barraquinha para vender alimentos ou água.
Por volta do meio dia um helicóptero investiu vôos rasantes contra pessoas que estavam alimentando-se. Vi a hora que as barracas do acampamento foram arremessadas longe pela força do vento da hélice do helicóptero. Esse mesmo helicóptero atirou bombas nas costas dos professores por volta das 15:00 horas. Junto a ele somavam-se atiradores posicionados na cobertura de prédios.
Uma jovem, estudante de talvez 15 ou 16 anos chorava enquanto fugia com um cartaz pedindo: "mais amor". Ao que parece duas pessoas entraram em óbito. A bandeira do Brasil não servia nem de escudo nem de lembrança que ali éramos todos iguais, cidadãos. Homens, mulheres, idosos ou crianças eram alvos fáceis para a PM, a única arma que tinham eram os seus direitos garantidos pela constituição federal, desrespeitada pela truculência policial e ditadura do governador e seus deputados.
Sou professor. Estou de luto. Luto por uma escola justa e democrática. Mas a democracia está refém de bandidos financiados pelo interesse econômico. Não somos livres. Não somos gente. Somos gado. Esperando na fila para o abate.
Desculpem o desabafo, mas espero sinceramente que questionem o que a mídia anda divulgando sobre os acontecimentos daqui de Curitiba neste dia fatídico para a democracia de nosso país.
Eu me solidarizo com sua situação, sou professor concursado da Universidade Estadual de Goiás, a dois anos, fizemos um movimento de greve que durou 3 meses, várias as vezes fomos abordados pela força policial, (que ainda, um dia, há de perceber que somos todos trabalhadores e estamos no mesmo barco), tivemos professores que foram detidos e levados para delegacias, outros que apanharam (não pouparam homens ou mulheres), alunos tiveram membros fraturados nas manifestação (também pela força policial) e ainda escutamos em alto e bom tom, pelo governo do estado, que somos um bando de vagabundos. O prédio da Unidade de Ciências humanas foi condenado, a quadra da unidade de educação física está sem tacos (isso mesmo, ainda de tacos) e as piscinas caindo, os professores contratos temporários não tem aumento a uns 10 anos e chegam a receber menos de um salário mínimo, pois as condições para esses professores contratos para se obter 40 horas é impensável (e mesmo assim o salário do contrato é vexatório). Agora me digam, estudamos, fazemos pós graduações (mestrado e doutorado) para ouvirmos a palavra vagabundos... Estamos nos mobilizando novamente, a situação está quase insustentável, os salários dos meses agora, serão pagos em duas vezes (isso mesmo, salário parcelado), porém, o governo do estado "perdoou" quase 65% de uma dívida de quase 1 bilhão da JBS (friboi), reduzindo a 350 milhões e não tem dinheiro para aumentar os investimentos da universidade. Como dito, a mobilização esta acontecendo, provavelmente, teremos confronto com a força policial, com outros professores que são companheiros de trabalho mas que não aderem ao movimento, porém a nossa (minha, falo por mim) posição é política e isso é inegociável.