Pandemic: Rising Tide (daqui em diante, PRT) chegou às lojas nos Estados Unidos no último dia 21 de dezembro. Coincidentemente eu estava lá, e tive a oportunidade de botar as mãos numa cópia fresquinha e trazê-la pro Brasil. Faço aqui uma resenha rápida, a pedidos, a partir de uma conversa em outro post sobre o jogo, mais cedo.
PRT dá continuidade ao que parece ser um novo projeto de Matt Leacock, designer da série: lançar edições de Pandemic ambientadas em locais e épocas variadas, tratando de temas diversos (não há doenças desta vez), a exemplo do que ele já havia feito no excelente Pandemic Iberia, cujo cenário é a Espanha e Portugal do século XIX.
Desta vez Leacock ambientou seu jogo na Holanda, e convocou como co-designer justamente um holandês: Jeroen Doumen, uma das cabeças por trás da renomada editora Splotter e responsável por euros pesadíssimos como
Food Chain Magnate,
Antiquity e
Indonesia.
PRT é um Pandemic diferente. Não há doenças a combater. O vilão aqui é a água (cubinhos azuis). Os jogadores devem impedir que a Holanda seja inundidada pelos mares que a circundam, e o jogo se inspira em eventos que realmente aconteceram e em estruturas hidráulicas que realmente foram construídas.
O manual, como em todos os Pandemics, é simples de entender e muito bem ilustrado com imagens e exemplos.
O sistema é o mesmo: durante o setup, acontece uma "contaminação" inicial -- no caso, uma inundação. O nível da água é controlado, inicialmente, por meio de diques posicionados em locais pré-determinados do tabuleiro. Em seu turno, cada jogador: 1) realiza 4 ações; 2) opera bombas hidráulicas; 3) compra duas cartas; 4) os diques falham; e 5) a água flui. Há semelhanças com os outros Pandemics, mas há novidades que tornam a experiência de jogar PRT nova e diferente.
As ações envolvem movimentar-se pelo tabuleiro, construir novos diques e bombear água ("curar" as regiões, retirando cubinhos azuis do tabuleiro).
Como uma ação, é possível construir estações de bombeamento, que são operadas na segunda etapa do turno e ajudam a controlar as inundações.
A compra das cartas é semelhante à dos demais Pandemics. As epidemias aqui são chamadas de Tempestades (Storms), e aumentam a intensidade das inundações. Há eventos benéficos, como nos outros Pandemics. Assim como em Pandemic: Reino de Cthulhu, cada região aparece em mais de uma carta, tanto no baralho do jogo quanto no baralho de infecção (aqui, chamado de baralho de falha dos diques).
Em seguida, os diques falham -- cartas são compradas para inundar um número determinado de regiões. O sistema é o mesmo: compra-se um número de cartas de acordo com o nível atual de inundação e, em caso de uma Tempestade, compra-se do fundo do baralho, e não do topo.
Finalmente, o turno do jogador termina com uma fase interessante: á água se espalha pelas regiões da Holanda, sempre de lugares com mais água para lugares com menos água, simulando o fluxo da água de lugares mais altos e mais inundados para lugares mais baixos. Esse é um dos aspectos mais engenhosos do jogo, que exigem um constante planejamento quanto ao posicionamento dos diques e à operação das estações de bombeamento.
O objetivo do jogo é construir quatro estruturas hidráulicas em lugares determinados do tabuleiro. Aqui, mais uma novidade: ao construir cada uma das estruturas, os jogadores recebem benefícios que os auxiliam no jogo dali em diante. Uma permite que você construa diques extras, outra permite que você remova cubos de água, etc. É importante tentar construir cada estrutura quando seu benefício tem o maior impacto sobre o tabuleiro.
As condições de derrota são semelhantes a outros Pandemics: os jogadores perdem a partida se o estoque de cubos de água acabar, ou se o jogador não tiver mais cartas para comprar no seu turno.
O jogo é bem desafiador. Ainda não consegui vencer uma partida. Ele dá a sensação de que tudo está indo bem, e de repente tudo desaba de uma vez. Nos demais Pandemics, a situação vai piorando aos poucos, na maioria das partidas. Em PRT, tudo está mais ou menos tranquilo, e um minuto depois a partida termina.
Assim como Pandemic Iberia, PRT é um jogo que já vem com a expansão. Há uma variante bem interessante que acrescenta objetivos variáveis ao jogo, aumentando ainda mais o desafio.
É um jogo com componentes de alta qualidade e uma arte linda e totalmente coerente com a temática, como foi o caso também de Pandemic Iberia.
Como pontos negativos do jogo, o esquema de cores do tabuleiro tem recebido críticas, pois não é amigável aos daltônicos. As fronteiras entre as regiões também são difíceis de identificar no início, mas depois você se acostuma. Sugeriram também que o tabuleiro deveria ter duas camadas, pois um esbarrão durante o jogo pode mandar todos os diques pelos ares e obrigar os jogadores a recomeçar do zero. Mas é só tomar cuidado.

Pandemic: Rising Tide é mais um excelente jogo de Matt Leacock, dessa vez com um tempero Splotter trazido por Jeroen Doumen. É um jogo desafiador e gratificante. Não recomendo como sua primeira experiência Pandemic, mas, pra quem curte a série, é obrigatório. É incrível como Matt Leacock consegue, jogo após jogo, manter um mesmo sistema básico, mas trazendo novas mecânicas e detalhes que renovam algo do qual já deveríamos estar enjoados a essa altura. Que venham mais Pandemics com a qualidade de Pandemic: Rising Tide, e que a Devir lance essa série "histórica" do Pandemic no Brasil o mais breve possível.