Por Rodrigo Rego, autor do Papertown
Videogames têm uma vantagem enorme sobre tabuleiro: é fácil de começar a jogar. Liga a TV e o console, aperta o start e o jogo já começou. O “investimento inicial” para começar uma partida é muito menor, o que ajuda a explicar a preferência da maioria das pessoas.
Tabuleiro o buraco é mais embaixo. Dependendo do jogo, pode demorar quase meia hora para terminar o setup. E se tem alguém que não sabe jogar? No videogame, o próprio jogo já ensina a maioria das regras. Se a tartaruga encostar no Mario, ele morre. Se ele pular, ele cai. Se ele pegar o cogumelo, fica grande. No tabuleiro, cada regra precisa ser aprendida, pois o jogo não faz nada para você.
Por isso cada vez mais me convenço que um bom jogo filler tem que ser do tipo “Embaralha e Vai”, ou seja, reduzir ao mínimo as barreiras para começar a partida. Quanto menos tempo se gastar na preparação, mais incentivo os jogadores vão ter para escolher um jogo.
Elaborei alguns quesitos quase militares para avaliar quão Embaralha e Vai é um jogo:
1. Fácil de montar
- Abrindo a caixa, o jogo tem que estar praticamente pronto para jogar.
- Se houver só um tipo de componente, ótimo. Parade, por exemplo, tem só um baralho. Animal upon Animal tem apenas bichos de madeira.
- Se as cartas forem todas embaralhadas no mesmo monte, melhor ainda. Nada de separar carta por tipo recurso. Junta tudo, embaralha e vai. Bohnanza tem um calhamaço de cartas, todas no mesmo deque.
- Nada de setup fixo inicial. Mãos iniciais aleatórias, cartas abertas iniciais aleatórias.
2. Fácil de explicar
- Quem nunca jogou tem que entender o conceito básico do jogo em 3 frases.
- Alguns exemplos: No Thanks!: Descarte uma ficha para não pegar uma carta, ou pegue a carta com fichas descartadas em cima. Welcome to the dungeon: pegue uma carta de monstro, coloque na dungeon ou guarde e retire um equipamento do herói, ou não pegue carta de monstro e saia da rodada. O último a ficar na rodada enfrenta o monstro.
- Regras nas cartas ajudam a complementar o conceito básico. No Sushi Go, o conceito é “Escolha uma carta da mão e passe o resto para o lado”. Mas o motivo para escolher as cartas estão nas próprias cartas: a forma como cada uma pontua está escrita lá.
3. Fácil de relembrar
- Dá muita preguiça ter que recorrer ao manual para relembrar regra. Não dê ao jogador motivos para abrir o manual, é mais chato do que fazer setup.
- Evite números arbitrários. No Bohnanza, cada jogador começa com algumas cartas, pega mais algumas na fase de troca, e repõe sua mão com mais algumas. Nunca sei quantas em cada fase. Já no Love Letter, cada um tem uma única carta, e o número de corações necessários para a vitória é sempre a divisão do total de corações pelo número de jogadores. Só li o manual uma vez.
- Evite configurações diferentes de acordo com a quantidade de jogadores. No Bohnanza, a cada nova partida é preciso consultar o manual para saber quais feijões saem do jogo. Já Coup é sempre igual, com 3 ou 6 jogadores.
4. Difícil de largar
- Um bom Embaralha e Vai não vê mesa uma vez só. Foi tão divertido, tão rápido, e é tão fácil começar de novo, que não custa começar outra. Nunca joguei Coup menos de 5 vezes consecutivas.
- O esforço para jogar a próxima tem que ser próximo de zero. Um set collection que precise ser muito embaralhado para desfazer as coleções da mesma cor é mais difícil de jogar 2 vezes do que Love Letter, que tem só 16 cartas para embaralhar.
- O jogo não pode deixar os jogadores saciados. Ele termina de supetão no auge da diversão, faltando só... mais... uma... carta... para você (achar) que iria ganhar.
O que você acha? Concorda com os quesitos? Qual jogo que você conhece é mais Embaralha e Vai? Escreva nos comentários!