Carcassone com Pizza
Tenho jogado carcassone como nunca antes. Tenho jogado sem a usura de vencer todas as partidas, o que leva me levaria a contar as peças, marcar as jogadas de meus amigos (tornando-os adversários). Joguei da melhor maneira que este jogo poderia ser jogado: despretenciosamente e ao mesmo tempo objetivado a dar o meu melhor em otimizar minhas jogadas ao mesmo tempo em que desfrutava da companhia agradabilissima de meus amigos.
Que jogo impressionante. Simples e competente, como poucos jogos o fazem. Jogamos a noite toda e nem cogitamos jogar outra coisa, tamanha satisfação que todos estavam com o jogo. Um único jogo na noite. Um jogo que não é o o último grande lançamento.
Me pergunto por que este jogo é tratado por grande maioria dos jogadores apenas como indicação “para quem está começando”. Não há dúvida que ele tem o potencial imenso para iniciar novos jogadores, mas ele é muito mais aproveitado quando os jogadores já são “experimentados”.
A jogatina foi acompanhada por pizza. Metade vegetariana e metade quatro queijos. Metade mexicana e metade mignon com catupiry. Metade banana com chocolate e metade chocolate com morango. Istto tudo regado a coca-cola (claro).
Em dado momento olhei para mesa e o contraste entre o jogo e o “lanchinho” foi gritante. De um lado um jogo elegante e bem consistente no que é. De outro lado uma mistureba de sabores que só se vê no Brasil. Só para pontuar a comilança por aqui nunca acontece durante o jogo, mas sempre fazemos uma pausa e depois continuamos com a jogatina.
Quem comeu de todos os sabores de pizza, duvido que sentiu de verdade o sabor de cada uma delas. Quem “azeitou” suas fatias antes de comer com certeza não aproveitou o máximo o sabor do azeite (uma preciosidade vinda do perú). Depois que tudo terminou e que todos foram embora me deu saudade de quando a pizza se resumia a queijo, presunto, tomate e oregano.
Esse episódio me fez pensar que os jogos em algum sentido são muito parecidos com comida. De certa forma o que buscamos ao jogar algo é sentir o sabor do jogo.
Carcassone tem um sabor único. A sensação ao jogá-lo é sem igual. Sua simplicidade e sua elegância não se compara nada que surgiu depois dele (que me perdoe Isle of Sky). Carcassone é aquela pizza queijo- presunto- tomate-oregano, que você come e sabe o que está comendo. Que você come e sente o sabor do que está comendo.
Contrapartida, já experimentei alguns jogos cuja ficha técnica ostenta 6 ou 8 mecânicas, divididas em diversas fases, que lotam a mesa de componentes e que você tem que ficar consultando as regras e suas excessões o tempo todo. O tipo de jogo que você se preocupa mais com as regras do que com o jogo. O tipo de jogo que é uma verdadeira mistureba de sabores que ao final você não consegue sentir gosto de nada especificamente.
Essa “fusão de coisas” parece algo comum na contemporaneidade. Somos bombardeados o tempo todo por uma quantidade de pssibilidades jamais vista antes. E isso é algo tão novo para nós que ainda não aprendemos a lidar adequadamente com essa abundância de opções e o resultado disso são as aparentes contradições que marcam o mundo pós moderno.