Olá pessoal;
Quando comprei Scythe, o jogo já estava disponível nas lojas, quero dizer, não tive a experiência negativa da pré-venda. Já tinha tido acesso a vários reviews negativos, alguns desanimadores, mas ainda assim, pelo que tinha visto em imagens e vídeos, acreditava que seria um jogo que valeria a pena ter em uma coleção. Mas devo confessar, tinha receio de não gostar e ter que vender logo em seguida. Isso já havia acontecido antes.
Com caixa aberta, namorei bastante os componentes, que são de primeira qualidade, é verdade; estudei e estudei as regras; vi mais partidas em vídeo, mais avaliações, mas nada de vontade de jogar. Daí, resolvi fazer um insert, pois componentes assim merecem, mas nada de jogar. Então resolvi pintar as miniaturas. Claro, um jogo tão bonito merece uma pintura, mais um mês sem jogar.
Então minha esposa falou: - Ueh, não vamos jogar esse aí não?
Pois é, depois dessa, não teve jeito, tá lá o bichão na mesa e eu, minha esposa e 3 filhos( filha de 17, e dois filhos de 12), olhando para uma infinidade de componentes.
Regras mais ou menos explicadas, seguindo dicas do próprio autor, e vamos lá. O começo vocês sabem como é, arrastado (trata-se de construir e azeitar sua máquina, sua nação), quase todo mundo preso em suas penínsulas, nem todos os recursos disponíveis, pouca noção do quê fazer e como concatenar as ações, várias consultas ao livro de regras. De vez em quando uma carta de evento traz uma situação que faz o pessoal rir. Aí dizem: - É legal isso. não é? Tudo bem, jogo novo é assim mesmo. Então, a partir de um certo ponto (mais da metade da partida), as coisas começaram a melhorar e até mesmo esquentar quando eu e um dos filhos nos envolvemos em alguns combates disputando a fábrica, o que, é claro, nos tirou a vitória.
Por fim, depois de quase 2 horas, a esposa, que ficou ali desenvolvendo sua nação pacificamente foi a vencedora (seguida pela filha).
Lá em casa é assim, quando a esposa ganha, ela gosta do jogo, e ai vocês já devem imaginar, se ela gosta ...
Já na segunda partida, para diminuir o começo arrastado, criamos uma regra da casa, que chamamos de "mercado negro", onde poderíamos usar uma única moeda por turno como um recuso qualquer, enquanto sua popularidade for menor que 7 (apelão, o jogo não precisa disso, você diria; mas sabe como é, estou jogando com crianças).
E assim, após mais uma partida, veio mais uma e outra e à medida que fomos entendendo melhor o jogo, familiarizando com as habilidades de cada facção, com a dinâmica das ações, o jogo foi ficando mais interessante, fluido, prazeroso, até o ponto em que decidimos abandonar a nossa regra particular (hoje só novatos na mesa ainda usam a regra).
Scythe é um jogo apertado, sempre tem algo faltando (aquele recurso, aquela ação que você não pode usar) para você chegar onde quer. Além disso, os conflitos são punidos, custam muito caro, mas claro, é esta a proposta do jogo e faz todo sentido quando se leva em consideração a história de fundo (é assim que explico pro meu filho).
Tenho a impressão que essa combinação de fatores, entre outros, é o que mais tem desagradado a muitos. Acho que aí entra a ansiedade que todos nós vivemos hoje em dia. E não é culpa de ninguém, afinal a vida está difícil mesmo, para a maioria de nós. Mas voltando ao jogo, essa ansiedade de conseguir fazer logo as coisas acaba se transformando num sentimento desagradável de frustração. E ai muitos não gostam do jogo. De certa forma o jogo expõe nossa incapacidade de lidar com a ansiedade. E você, meu amigo, tem todo o direito de decidir que não vai perder seu tempo com sofrimento, nem deve.
Quero esclarecer que não sou nenhum psicólogo e nem é minha intenção ficar analisando os outros. Essa é somente uma impressão pessoal. Deve haver muita gente por ai que não gosta por muitos outros motivos válidos.
Mas a grande verdade é que é muito difícil analisar qualquer coisa livre dos sentimentos que ela nos provoca (bons ou ruins). E
sentimentos são extremamente pessoais e assim as opniões, a minha inclusive.
Dito isso, considero Scythe um jogo muito bom, acima da média. Muito bem feito, desde a arte, tema, componentes e mecânicas. Certamente houve muito esforço e trabalho para chegar a este resultado. É claro, ninguém está falando em perfeição, pois isso não existe. Posso dizer que estou muito contente pela aquisição, por ter gasto meu suado dinheiro e meu precioso tempo, pintando e jogando Scythe.
Mas enfim, sobre o automa que é o objetivo do post. Chegou julho e minha família viajou de férias e eu fiquei por conta do trabalho. Então, sozinho, resolvi experimentar o modo solo e foi quando o jogo realmente me surpreendeu. Não me lembro, até hoje, de outra experiência de jogo solo que tenha me envolvido tanto (é óbvio que você já percebeu que não tenho tantos jogos na bagagem).
Em Scythe você não joga apenas para conseguir a melhor pontuação de todos os tempos. Existe o chamado modo automa, que você joga contra um oponente automatizado por meio de um baralho especial. Acho que gostei muito porque sou programador de computador, e vejo no automa uma implementação analógica de um programa, um conjunto de instruções contidas em cartas, apresentadas sequencialmente. Achei genial, tanto que li tudo sobre o autor no BGG.
O bacana é que o automa (jogador automatizado) introduz um oponente diferente no jogo, uma vez que esse não está travado por falta de recursos ou recebe punições por entrar em conflito (combate) com outros jogadores. Isso faz grande diferença. Existe no BGG uma variante criada pelo próprio autor para jogar Scythe em qualquer quantidade de jogadores e automas, obedecendo a quantidade máxima de jogadores do seu jogo, é claro.
É um pouco complicado compreender a dinâmica da movimentação das unidades do automa, mas uma vez dominada, se torna automática, tanto é que, após duas partidas solo contra um automa, introduzi um segundo jogador automático e o jogo ficou ainda mais interessante.
Numa das partidas, eu joguei com a Crimeia Industrial contra a Polania e Rusvietica automatas. Assim, todos ficaram equidistantes no tabuleiro. Para Polania, usei o automa nível medio e para Rusvietica o de nível fácil. Usei o mesmo deck para os dois, colocando os descartes de cada um em montes separados. Vale ressaltar que o automa não utiliza as habilidades das facções.
Enquanto eu pacientemente ia gerando recursos, aumentando o número de trabalhadores, mechas, melhorias e construções, os dois automas seguiam expandindo seu domínio em direção à fábrica, até entrarem em conflito, o que ocorreu várias vezes. Sai ileso devido a
distância que mantinha dos dois.
Em Scythe todas as informações estão abertas, visíveis para os jogadores e é importante acompanhar o andamento do jogo, quantos territórios cada um domina, quais as possibilidades de avanço, quantas estrelas faltam para cada jogador, qual a probabilidade de um jogador encerrar a partida neste turno ou no turno seguinte.
No jogo solo fica mais evidente a aproximação do término da partida, claro você está fazendo tudo sozinho. Nesta partida, pude antecipar e espalhar minhas unidades e por fim conquistar a fábrica em um combate com a Polania uma rodada antes do final. Ainda havia a possibilidade de ação hostil tanto da Polania quanto da Rusvietica na última rodada, o que felizmente não ocorreu. É claro que existe muita aleatoriedade nisso tudo, mas foi no mínimo divertido.
Resultado final: Crimeia 105, Polania 73, Rusvietica 66. Foi uma vitória relativamente fácil, mas prazerosa. A próxima vez usarei decks virtuais separados, pois estatisticamente, resultará numa partida mais difícil.
Depois da partida fiquei pensando que talvez seja isto, um jogador mais livre e audacioso, que falte em uma partida apenas com pessoas.
Já estou planejando uma entre nós cinco e dois 2 automas (ja encomendei a expansão).
Já gostava bastante de Scythe, mas agora estou gostando ainda mais.
É isso aí pessoal. Se você chegou até aqui, obrigado pelo seu tempo e um grande abraço.