Stefan Feld. Podemos começar a falar desse nome e ficar horas por aqui só pra introduzir o artigo, mas talvez nem seja necessário. Um dos mais aclamados designers de jogos da atualidade, Feld tem no currículo obras primas como Trajan, JÓRVÍK, The Castles of Burgundy, e Luna, os dois primeiros já lançados no Brasil e os outros dois com previsão de chegada agora no segundo semestre. Além disso tem no currículo outros grandes jogos como In the Year of the Dragon, Notre Dame, Macao, Bora Bora, e por aí vai. Apesar de ser um dos menos badalados do autor, Rialto figura atualmente entre os 700 melhores do ranking do site BoardGameGeek, o que se pode considerar um jogo bem ranqueado. Mas, ainda assim, pouco ouvimos falar do jogo por aqui.
Capa do jogo.
Foto: divulgação.
A história de
Rialto pouco tem a ver com o jogo. O nome se refere à
Ponte di Rialto, essa da capa ao lado, que durante muitos anos era a única ligação e travessia entre os dois lados da cidade de
Veneza, sobre o
Grande Canal. Por baixo dela navegam as famosas gôndolas que tornam a cidade um paraíso turístico romântico. Depois, ao longo dos anos, outras travessias foram sendo criadas e é sobre isso que se trata o jogo.
Lançado em inglês pela
Tasty Minstrel Games, mas originalmente pela
Pegasus Spiele em 2013, o jogo combina controle de área com coleção de cartas e uma espécie de leilão (na verdade, apenas uma seleção de cartas no início da rodada) a até uma pequena, bem singela, colocação de tiles. Mas, como todo jogo do Feld, faz uma mistura de opções pra se pontuar no final da partida que te deixa meio perdido no começo e louco atrás do prejuízo no final.
No começo da rodada há um
card drafting, em que são revelados na mesa vários grupos com 6 cartas (o número de grupos é igual ao de jogadores mais um). Então os jogadores selecionam qual grupo vão ficar na mão e compram mais duas do baralho, descartando uma e ficando com a outra. Essa mão inicial de 7 cartas será usada ao longo das próximas fases daquela rodada. Em cada fase, em que se disputa uma ação específica, os jogadores jogam cartas de sua mão daquele tipo e o “vencedor”, o que tiver jogado mais cartas daquele tipo, faz a ação primeiro, ou faz com um bônus.
Os seis tipos diferentes de cartas do jogo.
No tabuleiro a cidade de Veneza foi dividida em seis distritos e todos estão separados pelo canal. Ao longo das rodadas, poderemos unir esses distritos colocando entre eles travessias que são pontes com pontuações dos dois lados. Cada distrito pode ter no máximo quatro ligações e cada uma delas pontuará de 1 a 6 pontos. O jogador que controlar cada distrito, tendo a maioria de vereadores no final do jogo, irá pontuar pelos pontos dessas travessias. Acontece que a cada uma das seis rodadas apenas um dos distritos será disputado e você deverá se planejar para lutar por aquele, ou se guardar para um próximo, mesmo que a quantidade de pontos dos distritos ainda não esteja fechada. Inclusive, será possível colocar travessias depois nesses distritos. No tabuleiro também está a trilha do "Doge"; o nome que se dava ao dirigente de Veneza. Nesta trilha, uma espécie de trilha de influência, acontecem os desempates do jogo e também é a que define a ordem dos turnos.

Os tiles das travessias: as pontes podem ter pontos de 1 a 6.
Além disso, os jogadores também poderão colocar, em seus tabuleiros, algumas construções, que nada mais são do que bônus de ações que poderão ser utilizados em cada fase do jogo adicionando coisas como cartas a mais para se manter na mão, fazer com que uma carta tenha o poder de outra (ou de outras) e dar pontos extras ao final do jogo. Para adquirir essas construções, os jogadores irão investir seu dinheiro.
Contudo, para fazer tudo isso (colocar os vereadores, construir as travessias e etc), você irá precisar administrar as cartas em suas mãos. Cada cada carta tem uma função diferente e deverá ser usada numa fase específica do jogo. Na ordem de jogo, primeiro serão usadas as cartas de "Doge", com os jogadores alterando sua posição na trilha. Em seguida, são jogadas as cartas de dinheiro e os jogadores pegam moedas. Na sequência, usam as cartas de construção, pontes e gôndolas para realizar as ações correspondentes - pagar pelas construções e colocá-las em seu tabuleiro, posicionar as travessias nos distritos e pegar mais marcadores de influência). Na última fase os jogadores jogam suas cartas de vereadores e movem seus marcadores para o distrito em disputa, efetivamente determinando o controle de área daquele distrito, a menos que posteriormente algum jogador tenha a oportunidade de colocar um marcador a mais (o que pode acontecer conforme algumas condições do jogo) naquele distrito. Nessa fase de jogar cartas acontece a única pontuação intermediária do jogo: as cartas de pontes valem 1 ponto cada quando jogadas.

Tiles de construções: bônus e vantagens ao longo do jogo.
Por fim, antes do final da rodada, os jogadores poderão ativar suas construções pagando moedas (aqui elas são finalmente usadas) para ter um bônus para a próxima rodada somente (os bônus não são fixos, mas dependem sempre da ativação da construção). Ao final do jogo, depois dos 6 distritos terem sido disputados, os jogadores irão pontuar pela influência conseguida em cada um deles (com o primeiro colocado ganhando a pontuação total, o segundo a metade e o terceiro a metade da metade). Além disso, irão pontuar pelas construções que tiverem em suas mãos que possam pontuar.
OS PRÓS E CONTRAS
Como todo jogo da
TMG, a produção de
Rialto é impecável. As cartas são no formato mini-euro, porém tem ótimo acabamento e a iconografia é muito clara e distinguível. Porém, a trilha de pontos do tabuleiro deixa a desejar. Além de não ter as pontuações bem claramente escritas, a divisão entre os espaços é confusa (eu custei a pegar que o espaço era entre os postes de luz, e não em cima). Os tiles tem ótima espessura e as moedas são igualmente boas, mas os tabuleiros de jogadores são de papel e dão impressão de ser bem frágeis. Mas a arte do jogo compensa essas falhas, sendo bem colorida e bonita.
Jogadores disputam o controle de "Dorsoduro".
O jogo em si não é profundo quanto ao tema, como já disse antes, mas se aproxima bem mais do que outros jogos do autor. Você não tem a sensação de estar exercendo influência sobre os distritos de Veneza, mas também não se sente apenas jogando cartas aleatórias sobre a mesa. O fato de que há um momento certo para fazer cada ação colabora com essa sensação, uma vez que primeiro será preciso construir e fazer pontes, antes de mandar efetivamente seus vereadores para aquele distrito.
Um dos pontos altos do jogo é a maneira como acontece a seleção de cartas no começo da rodada. Apenas há uma seleção de qual dos grupos de cartas comprar, porém, há muita coisa em jogo nesse momento, uma vez que os grupo de cartas são aleatórios e podem não ter cartas muito úteis pra você, mas úteis para o adversário. Nesse momento há uma sacada estratégica que não parece ser importante, mas é o que define o jogo. Pegar um grupo e cartas com mais vereadores te permite enviar mais de seus marcadores pra mesa, porém pode ser que você não tenha pontes, ou mesmo dinheiro. O outro grupo de cartas pode ter pontes e cartas de "Doge", mas não ter vereadores. A sua estratégia irá mudar a todo momento.
Já na fase de usar as cartas efetivamente, acontece um outro momento muito estratégico que é o de saber quantas cartas será necessário jogar. Como aqui o esquema é o de jogar mais cartas para poder ganhar um bônus, o primeiro jogador estará em desvantagem, pois não sabe quantas cartas os demais jogadores estão dispostos a jogar na mesa. Já o último sempre sabe quantas cartas todos os demais jogaram e se ele tem possibilidade de vencer aquela disputa. Ou seja, nem sempre será bom ser o primeiro. Mas existem casos em que sim (todo desempate é decidido pela trilha de "Doge", como explicado anteriormente).
Últimos vereadores disponíveis, já mais pro final da partida.
Como todo Feld,
Rialto não é um jogo em que se pode focar em uma única coisa, mas é preciso se concentrar em cada detalhe do tabuleiro e observar o que seus adversários estão fazendo para se programar a melhor jogada. Por exemplo, geralmente o último jogador a jogar em cada fase sabe quantas cartas os demais jogadores usaram e se haverá como vencer a disputa naquela fase, ou se os jogadores tem cartas para uma próxima fase. Às vezes será possível não usar tudo o que se tem na mão e isso é uma vantagem em certos momentos. Mas, diferente dos outros jogos do designer alemão,
Rialto é bem menos complexo e exige bem menos dos jogadores. Talvez bem por isso é que o jogo não está no mesmo patamar de outros jogos do autor.
Por fim,
Rialto é um bom jogo, com uma maneira diferente e interessante de lidar com o controle de área e é bem menos pesado do que a maioria dos jogos do Feld. Na verdade, é uma característica muito interessante dos jogos da
Tasty Minstrel Games que eles nunca são pesados de fato. A editora aposta forte nos jogos médios, mais familiares, com menos profundidade temática e boa rejogabilidade e todas essas características estão no jogo. Não à toa o jogo está até razoavelmente bem colocado no ranking do
BGG.
Veja outras imagens do jogo abaixo: