Por Philip duBarry
Fonte: https://www.boardgamegeek.com/blogpost/60054/designer-diary-black-orchestra-or-art-patience

Black Orchestra provavelmente levou mais tempo do que qualquer um dos meus designs anteriores, mas eu sinto que todo o trabalho duro finalmente valeu a pena. Fiquei emocionado com o nível de entusiasmo da campanha de pré-venda e depois o lançamento oficial na BGG.CON 2016. O que poderia ter sido um tema tóxico e um pesadelo de relações públicas tem sido notavelmente bem recebido. Dann May e Cody Jones me ajudaram a realizar a minha visão para o jogo com uma arte deslumbrante, mas respeitosa, e jogabilidade tensa.

A ideia básica de Black Orchestra surgiu do meu fascínio com a Segunda Guerra Mundial e, especificamente, a ascensão e queda de Adolf Hitler. Parte disso tem a ver com uma associação de infância entre os nazistas e o Império Galáctico em Star Wars. Eu mal acreditava que um regime tão autoritário poderia ter existido na vida real. Desde a minha infância, eu visitei um número de museus, incluindo o Museu do Holocausto em Washington, D.C. e o Museu Imperial da Guerra em Londres. As atrocidades perpetradas pelos nazistas superam a capacidade de compreendê-las. Nós nunca teremos dúvida que o mal existe neste mundo contanto que recordemos destes eventos trágicos.

Além de assistir a filmes épicos e documentários, bem como jogar jogos como Wolfenstein 3D e Axis & Allies, eu gosto de ler livros sobre o assunto. Eu encontrei o relato autobiográfico de Albert Speer sobre a guerra, mas deve ser tomado como um grão de sal. Tenho lido sobre o Dia D, os julgamentos de Nuremberg e os caçadores de nazistas de tempos mais recentes. No entanto, um livro, na minha opinião, está acima de todos os outros. Em agosto de 2011, Eric Metaxis publicou uma biografia magistral de um personagem menos conhecido no drama da guerra. Bonhoeffer: Pastor, Martyr, Prophet, Spy relata a vida do brilhante teólogo Dietrich Bonhoeffer durante a ascensão de Hitler. Seu compromisso com a pregação da Bíblia colocou-o diretamente em desacordo com a máquina de propaganda nazista. Mais tarde, ele se juntou à Abwehr (agência de inteligência militar alemã) para trabalhar contra o regime nazista por dentro, reforçando a convicção dos conspiradores e, finalmente, dando a sua vida pela causa.

Este livro estabeleceu minha mente para a criação de um jogo cooperativo em torno dos vários enredos para assassinar Hitler. Em novembro de 2011, eu completei meu primeiro protótipo. O jogo combinou alguns elementos-chave. Primeiro, os conspiradores tiveram que ser motivados para fazer coisas no jogo. A motivação elevada permitiria que os jogadores executassem sua habilidade especial e tentassem encontros com Hitler; a baixa motivação limitaria-os a apenas duas cartas. Os jogadores também precisariam gerenciar seu nível de suspeita enquanto a Gestapo iria implacavelmente rastreá-los. Uma extremamente alta suspeita colocaria você na cadeia se a Gestapo decidisse conduzir uma invasão.




Outro elemento central foi a incorporação de um deck de eventos especiais. Eu queria que o jogo se movesse um pouco sequencialmente através dos eventos da Segunda Guerra Mundial. Você veria Paris cair e outras campanhas militares caírem e correrem. Você também ouviria rumores sobre horríveis atrocidades. Finalmente, os Aliados começariam a se aproximar do Terceiro Reich. Esses eventos precisavam ser um pouco estruturados, mas também precisavam variar de jogo para jogo. A solução era dividir o cronograma do jogo em sete seções e embaralhar cada uma delas individualmente para formar o deck de eventos final.

Um dos principais efeitos desse baralho foi modificar o apoio militar de Hitler e o nível de segurança ou exposição. Isso levaria a outro mecanismo importante no jogo: um final dramático de rolagem de dados. A sabedoria comum do design prega que você nunca deve deixar o fim de um jogo ser determinado aleatoriamente. No entanto, é exatamente assim que aconteceu historicamente. Nesta versão da Orquestra Negra, os jogadores reuniam materiais e modificadores, todos buscando o momento e lugar perfeito para a tentativa de assassinato. Então você teve sua chance e rolou um punhado de dados - o clássico ficar em pé para rolar os dados! Se você rolou acima do valor combinado do apoio militar e da segurança de Hitler, você ganhou. Se você falhou... as conseqüências serão rápidas e severas.

O jogo resultante capturou grande parte da experiência que eu desejava. Jogar esta primeira versão fazia você se sentir tenso e sinistro. Notei os outros jogadores tendo algumas das mesmas conversas que devem ter ocupado os conspiradores reais da história. Julgar quando atacar e descobrir as chances de sucesso também ajudaram a moderar o problema do jogador alfa, comum a muitos jogos cooperativos. Com tantas variáveis e o resultado final sempre em dúvida, não há solução perfeita para um jogador mais dominante forçar todos os outros. Naturalmente, o jogo precisou de playtesting significativo e miríades de ajustes e ajustes ao longo do caminho.

Black Orchestra teve um início promissor, mas o caminho para a publicação seria longo. Na verdade, eu me perguntava se algum editor teria a coragem suficiente para abraçar um tema tão difícil. O tema e as imagens do jogo fechariam partes inteiras do mercado, principalmente na Alemanha. Eu não poderia esperar que tal jogo pudesse ser bem recebido lá. Na verdade, muitos dos elementos visuais do jogo violam um número de leis na Alemanha, para não dizer do sentimento arenoso e militarista - algo cuidadosamente evitado pela maioria dos editores europeus. Mesmo assim, o meu intenso interesse neste canto da história me impeliu a continuar testando e desenvolvendo. Eu também senti um chamado para contar esses trágicos acontecimentos. Nunca devemos esquecer os fatores que levaram à ascensão de Hitler ao poder e as atrocidades resultantes.




Passei a primeira metade de 2012 testando e refinando o jogo. Uma adição chave durante este período foi o uso de tiles de itens. Anteriormente, os itens tinham que ser coletados do baralho de cartas do jogador. Agora esses itens iriam residir em cada local no tabuleiro. Os jogadores teriam de recolhê-los para cumprir os requisitos do enredo. Os jogadores também precisavam lançar um dado para encontrar os itens, criando assim outro uso para os dados no jogo.

Em junho de 2012 eu fui na Origins Game Fair em Columbus, Ohio, assim como eu tinha ido nos últimos anos. Eu trouxe uma série de protótipos comigo, incluindo Black Orchestra, embora eu tinha pouca ideia de quem poderia estar interessado em vê-lo. Durante o evento eu conheci Dan Yarrington da recém-formada Game Salute. Ele olhou para quase todos os jogos que eu trouxe, sugerindo melhorias no tema e apresentação de muitos deles. Ele também queria ver dois em maior detalhe: "Bank Job" (agora Skyway Robbery) e Black Orchestra. Ficou intrigado com a ousada escolha do tema.

O que se seguiu foi um convite para o jantar mais longo da minha vida. Nós saímos para o famoso Schmidt's Sausage Haus, o pano de fundo perfeito para discutir o meu jogo de Hitler, mas não tão bom para a minha doença de estômago no momento. Depois de nos perdermos, esperamos mais de duas horas para obter uma mesa. O jantar em si durou mais duas horas. Nós voltamos para o centro de convenções às 23:00. Então jogamos meus dois protótipos, e eu cheguei até a cama cerca de 3:00 da manhã. Eu assinei o jogo com Dan sob seu novo nome: "Hitler Must Die".

Os conspiradores que trabalhavam para detonar Hitler precisavam de grandes reservas de paciência se esperavam ter sucesso. Eu também achei necessidade de paciência enquanto eu esperei para o meu jogo cooperativo entrar no desenvolvimento ativo e publicação. Game Salute lançaria meus jogos em ordem curta e estava pronta para mais depois disso. Infelizmente, eles acabaram por assinar um número muito grande de jogos naquela temporada. O meu teria de esperar na fila. Além disso, Skyway Robbery exigiu uma quantidade extensa de ilustrações, atrasando esse projeto ainda mais. Embora eu tivesse continuado a testar o jogo e fazer melhorias marginais, seria somente em uma reunião na Gen Con 2015 com Dann May, diretor de arte da Game Salute, que o desenvolvimento realmente começaria a sério.

Nosso trabalho no jogo coincidiu fortuitamente com a aparição de uma nova e importante ferramenta: Tabletopia. Outras tentativas foram feitas para emular a experiência de jogo de tabuleiro em computadores e outros dispositivos eletrônicos, mas Tabletopia parecia ser impulsionada por uma nova visão. Eles conseguiram a cooperação de muitas editoras, permitindo-lhes oferecer jogos reais em vez de versões fora de catálogo. Embora ainda em beta, Tabletopia nos ajudou a tocar Black Orchestra com uma nova intensidade. Dann May, Cody Jones (responsável pelo design gráfico), e eu passamos muitas sessões martelando o produto final.




Vários sistemas principais foram adicionados ou revisados durante este processo. Uma das maiores mudanças foi na forma como os dados iriam funcionar. Em vez de usar dados padrão, poderíamos produzir dados personalizados com símbolos. O apoio militar e o nível de segurança de Hitler seriam simplificados e convertidos em símbolos. Agora os jogadores teriam de rolar um número alvo de símbolos de cruz, mas evitariam rolar um certo número de símbolos de águia. A experiência dos jogadores na prisão também mudaria. Agora os jogadores precisavam arremessar um dado com resultado baseado em sua motivação para resistir a um interrogatório. Se falhassem, eles comprariam uma carta de interrogatório. Esta carta lista três opções dolorosas. O jogador deve secretamente escolher uma dessas opções e resolvê-la. Este efeito adiciona algum suspense interessante ao jogo.

Também adicionamos a ação Conspire à lista das disponíveis. Uma vez por turno, você pode optar por conspirar rolando um dado para cada ação restante. Os números de rolagem (1, 2 ou 3) resultarão em ações de bônus. Rolando uma águia irá aumentar o seu nível de suspeita. Rolando um símbolo de cruz irá transferir o dado para a pista Dissent, eventualmente proporcionando mais motivação para os jogadores ou diminuindo o apoio de Hitler.

Finalmente, sabíamos que alguns jogadores podem preferir uma experiência mais difícil. É por isso que adicionamos uma variante avançada que exige que os jogadores cacem alguns dos deputados de Hitler, bem como o próprio Hitler. Não fazê-lo poderia resultar em uma vitória manchada com um dos deputados simplesmente tomando o controle do próprio regime nazista.



O último toque foi mudar para o meu título inicial: Black Orchestra. Sentimos que esse nome se encaixava melhor com a ambientação e o clima de mistério e suspense que tentamos criar. Ele também liga o jogo mais diretamente às suas raízes históricas, algo que eu valorizo muito. Temos tido o cuidado de tratar este tema sério com respeito, tentando acertar as notas certas com sua apresentação visual e jogabilidade. Agradeço a Dann e Cody para todas as suas muitas contribuições. Estou muito feliz com o resultado final e eu gostei de ver o jogo fazer o seu caminho nas mãos de jogadores de todo o mundo. Que esse momento crítico da história nunca seja esquecido.

Philip duBarry