Olá, pessoas!
Prosseguimos nossa campanha de Descent.
Eu - Overlord
Marcelo - Avric Albright
Alexandre Bampa - Leoric do Livro
Cesar - Grisban, o Sedento
Marcelo, Alexandre & Cesar - Tomble Burrowell
Primeiro Sangue & Goblin Gordo - sessão I
Castelo Daerion - sessão II
O Sofrimento do Cardeal - sessão III
Interlúdio - A Cripta Sombria - sessão IV
O Tesouro do Monstro - sessão V - parte I
O Tesouro do Monstro - sessão VI - parte II
A Espada do Amanhecer - sessão VII - parte I
A Espada do Amanhecer - sessão VIII - parte II
Jogamos a missão Dragões Ressurgem (The Wyrm Rises -- a tradução certa seria O Dragão Ressurge, mas optei pelo plural para dar mais efeito).
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Capítulo 10 - Dragões Ressurgem
Era um tempo de terríveis provações para todos aqueles que ainda estavam em Rhynn, a terra dos Baronatos Gêmeos. Por um tempo as estradas ficaram apinhadas - milhares eram os que fugiram quando a Montanha Surtur começou a arrotar fumaça depois de décadas inativo. Eram poucos os viventes que se lembravam da época dos céus escuros, do odor de acre das cinzas que formavam um véu, caindo como uma chuva seca e quase permanente que encurtava os dias e matava o solo. Eram poucos os que rememoravam o desespero pegajoso, o terror constante e a tortura da fome. Eram poucos e, mesmo assim, como que marcada à ferro na mente das pessoas, havia uma subjacente sugestão de horrores vindouros que a deixava suscetível às palavras secas dos anciões. Quando os primeiros relatos de sombras enormes cruzando os céus nublados foram trazidos, logo chegaram às bocas e aos ouvidos do povo, que, naquele momento, ignorou, tanto fosse uma pilhéria ou fosse uma versão da verdade alterada por olhos impressionáveis.
Não muito depois vieram os rumores de ataques nas regiões limítrofes de Rhynn, do outro lado do rio; eram, a princípio, relatos de roubo de gado e alguns sumiços de pessoas - algo um tanto natural na vida campestre além da grande ponte de pedra: a correnteza feroz do rio e os animais selvagens eram perigos antigos, indiferentes, porém bastante conhecidos - nada de novo havia, portanto, nos rumores. Isso mudou quando os hediondos cadáveres começaram a chegar, nos primeiros dias, no lombo das montarias dos batedores do Barão Greigory. Então passaram a chegar em carrinhos levados pelos sobreviventes de famílias atacadas. Quando toda uma guarnição, reduzida um punhado ínfimo de soldados, regressou trazendo duas carroças cheias de mortos, afinal o pânico e o horror assentou-se e prendeu com um punho de ferro a coragem dos habitantes de Arhynn. A aparência dos cadáveres era pavorosa: torcidos, partidos e, na ampla maioria, queimados ao ponto de torná-los farelentos, friáveis, e até os ossos se desfaziam se alguma pressão fosse exercida sobre os corpos. Ainda assim, a recusa em aceitar o óbvio e o apego entranhado pelas coisas do dia a dia, impediram o povo de Arhynn de tomar alguma providência além de exigir respostas do Barão Greigory. Nem quando os produtos vindos do campo começaram a rarear e o custo dos alimentos, que vinham, então, quase somente por mercadores, subiu consideravelmente, a ação parou em protestos, discussões e brigas. Contudo, na noite em que a Montanha Surtur voltou a cuspir fogo, cinzas e fumaça, o povo despertou para a realidade. Os dragões voltaram e, com eles, a guerra.
Assim começou o grande êxodo - multidões abandonavam suas moradias na cidade e fugiam, em enormes caravanas, para longe - muitos para a vizinha Archaut, mas outros tantos para ainda mais longe. Os vilarejos e mesmo as vilas maiores estavam vazias muito antes, pois ali os horrores foram vistos mais cedo e não havia a segurança dos muros e dos soldados, como em Arhynn.
Na quinta lua após o vulcão reavivar-se, os incêndios tomavam a paisagem dos Baronatos Gêmeos, todavia somente os exércitos, alguns nobres e um punhado de voluntários permaneciam em Arhynn para testemunhá-los. Era do alto da muralha que Tomble, sentado em uma ameia, comendo uma laranja, via a mata queimar. A fruta estava ressecada, mesmo assim o pouco sumo era bem-vindo, pois a fumaça secava os olhos e a garganta. Praticamente todos na cidade sentiam a necessidade de usar panos úmidos para cobrir o nariz e a boca - os olhos tinham que sofrer, pois ninguém queria o que quer que fosse obstruindo a visão quando a atenção vigilante era tão requerida. O rosto do ladino estava coberto de fuligem, tal como as mãos e as roupas. Nos primeiros dias ele ainda tentara se lavar, mas veio rápido o reconhecimento da inutilidade disso e, pior, o aumento da importância de conservar água. O rio de Arhynn estava, como diziam, podre. As cinzas que choviam, junto de outros elementos vindos do vulcão e da destruição pelo fogo da mata que o flanqueava, tornaram-no conspurcado. Os poços ainda mantinham água salubre, só que ninguém sabia se isso iria se sustentar - então grandes esforços foram feitos para retirar o que fosse possível de água, acomodá-la em tonéis, baldes e barris, para então acondicioná-los nos porões das casas, estalagens e, principalmente, do castelo, cujas masmorras de pedra foram convertidas em estoque de alimentos e líquidos.
"Tem outra?", perguntou Avric, aproximando-se, de rosto encoberto. Tomble, de má-vontade, como um truque de prestidigitador, fez surgir das dobras da roupa outra laranja.
"Eu estava deixando a melhor por último", Tomble reclamou, entregando a fruta ao amigo.
"Eu duvido", contrapôs Avric. "Você é incapaz de resistir a espera por uma recompensa. Seja uma fruta mais doce, seja um baú fechado."
Tomble sorriu, primeiro porque era verdade, ele tinha mesmo comido a melhor laranja antes; e, segundo, porque era reconfortante saber que alguém, mesmo conhecendo as idiossincrasias dele, e os deuses sabiam que nem todas delas eram positivas, o aceitava.
"Mesmo assim, eu divido, então", Avric complementou.
"Vamos mesmo sair?", perguntou Tomble. Avric tivera uma reunião, mais cedo naquele dia, com o Barão Greigory. Tomble poderia participar, mas não quis. Sentia-se abatido com os eventos, em particular porque tivera participação direta neles. Por conseguinte não tinha paciência para discussões. Era sabido que a reunião seria um conselho de guerra, que decidiria os rumos que seriam tomados pelos exércitos concentrados em Arhynn. Os alimentos ainda chegavam, mas sustentar, por tempo indefinido, uma força tão grande, em um local tão desprovido e tornado inóspito, era impossível. Avric maneou a cabeça de cima para baixo, enquanto partia a laranja ao meio.
"Pode ficar com ela toda", Tomble avisou. Os olhos de Avric indicaram uma pequena surpresa, antes de se voltarem para a fruta, que Avric descascou com os dedos sujos. "Quando?"
"Amanhã", respondeu Avric antes de soltar o pano que lhe cobria a face e colocar dois gomos da laranja na boca. Estava azeda, mas o guerreiro achou doce e refrescante como hidromel. "Greigory irá junto. Uma guarnição ficará aqui. Bastante até, mas temos que manter a cidade. O resto irá."
"Para onde?"
"Sul, e depois, oeste", Avric disse.
Tomble pensou só um pouco sobre as direções. "Para a montanha?", surpreendeu-se, pois não esperava uma ação tão direta.
"Sim, para Surtur."
"Por que para lá?"
"Um grupo de batedores chegou ontem, Tomble. Eles disseram que Belthir, o híbrido-dragão, está lá. Supõe-se que parte da fúria da montanha vem de algo que Belthir está fazendo por lá", informou Avric.
"Hum", Tomble soltou, desconfiado da informação. Os batedores pelo campo que Greigory ainda mantinha eram poucos e jamais se afastavam a mais de um dois ou três de viagem a cavalo da cidade. A Montanha Surtur ficava a quase vinte dias, pois era necessário pegar o caminho mais longo, descendo para o norte através do passo da Cordilheira Carth, para dentro do planalto elevado cercado pelos altos montes e, depois, para oeste, passando centenas de metros abaixo de onde fica a esvaziada Igreja de Kellos, onde Avric, Leoric, Grisban e Tomble resgataram o cardeal Koth. Então, a trilha para Surtur subia, para o sul. Naquele clima, com a montanha rugindo fogo e detritos, Tomble não estava com pressa alguma de iniciar a marcha forçada até lá.
"Teremos ajuda, Avric?"
"Talvez", respondeu o guerreiro, incerto. "Mas Archaut recusou o pedido de mais tropas. O Barão Hadrian enviou homens e alguns de seus pássaros gigantes. Acho que chamam-se Rocas, ou algo assim. Vão nos dar apoio aéreo, com sorte mantendo os dragões afastados até chegarmos na montanha. Na guerra contra os Lordes Dragões eles fizeram isso, me falaram."
"Roca? Que nem aquilo das fiandeiras?", Tomble falou, duvidando que algo com nome de tão pouco impressionante pudesse assustar sequer um ovo de dragão.
"É, acho que o sim." Avric deu de ombros e cuspiu uma semente. Queria parecer tranquilo, porém tinha dúvidas demais na mente.
"O Leoric irá, Avric?", perguntou Tomble. O necromante não era visto havia vários dias.
"Sim, irá", garantiu. Ao terminar de comer, Avric guardou as cascas no bolso - nada mais era desperdiçado em Arhynn. Então cobriu novamente o rosto, despediu-se com um aceno da cabeça e foi embora. Não era mesmo uma época de conversas e risos, era uma época de silêncios e pesares.
No dia seguinte, bastante cedo pela manhã - contudo ninguém ali conseguiria diferenciar se fosse o final de uma tarde de inverno -, as fileiras estavam sendo formadas e os gritos enchiam o ar, concorrendo com as cinzas. Os portões da cidade foram abertos e as seis mil tropas iniciaram a longa marcha até a Montanha Surtur. Era um exército reduzido, se comparado ao que alguns lordes de Terrinoth poderiam convocar, mas havia três propósitos em sua formação restringida: primeiro era para manter a guarnição de Arhynn com pelo menos três mil soldados; segundo era tornar o exército tão rápido quanto era possível, assim os que não iam montados seguiam nas mais de uma centena de carroças de suprimentos. O terceiro motivo era ainda um segredo, mantido somente pelo Barão Gregory entre aqueles que seguiam com as tropas.
O caminho foi complicado do começo ao final, porém no sentido dos problemas que são esperados por um exército em movimento por uma terra de poucos recursos. Água era uma raridade e foi uma benção o Barão Greigory ter disposto seu tesouro pessoal para adquirir uma carga de uma fruta exótica, e bastante custosa, com uma cobertura que parecia pelo e quase tão dura quanto pedra; no entanto sua parte de dentro era, em contraste, branca como neve limpa, além de ser bem mais macio e comestível - porém o maior benefício da fruta era a água adocicada que trazia oculta e protegida em seu interior. Desse modo, o ar sulfuroso e juncado de cinzas, nem os acidentes pelo caminho, colocavam a fruta em risco de estragar da mesma maneira que ocorria com os recipientes para a água, hidromel e vinho. Os soldados chamaram a fruta de "peluda" e Tomble insistia com Avric, a título de provocação para passar o tempo, de que havia algo de ordinário e sórdido no nome, mas quando tentava explicar, falando de pelos e entranhas úmidas, o guerreiro esporeava o cavalo adiante.
O plano inicial era valer-se das "peludas" somente no retorno, todavia a situação dos poços de fazendas e vilas abandonadas, todos marcados nos mapas, era muito pior do que o previamente estimado: os expostos, foram sem exceção destruídos ou envenenados com cadáveres de pessoas e animais, certamente trabalho das criaturas do Senhor do Escuro. Os poços ocultos em porões, esses alguns ainda estavam em condições de fornecerem água, contudo a maioria deles também fora encontrada e arruinada de maneira similar aos expostos. Portanto, as frutas começaram cumprir suas funções quase seis dias antes do dia esperado para chegar à fortaleza de Belthir, na Montanha Surtur. Havia, agora, o medo, entre o alto escalão, de que não haveria o suficiente para sustentar o retorno do exército. Foi quando um capitão, de nome Leomar, lembrou a todos dentro da tenda armada, em uma das paradas do exército, para a reunião do conselho de guerra, que, na volta, eles seriam menos. Muito menos. "Preocupem-se com a batalha", afirmou Leomar, "para evitar que bebam do próprio sangue."
Leoric, que quase nunca saía de sua carroça particular, estava presente no conselho mas nada falou. Quando regressava foi interpelado por Tomble, que o esperava sentado na boleia da carroça.
"Pelos demônios, o que você está fazendo tanto aí dentro?", questionou, sem rodeios, apontando com o polegar diminuto o transporte do mago.
"Mais do que você jamais fez na vida", Leoric replicou.
"Ah, mas isso deixa muita coisa em aberto", reclamou Tomble. "Eu sou preguiçoso e nunca fiz muito mesmo. Preciso de algo mais... definitivo."
"Definitivamente é algo que lhe interessa e algo que não saberá até saber", Leoric disse, subindo os degraus que davam acesso à porta, pois aquele era um veículo ao estilo do povo nômade do leste, que levavam suas casas sobre rodas. Tomble espiou para dentro e viu uma mesa coberta de livros e pergaminhos, alguns apetrechos alquímicos e, Tomble tinha certeza, um gavião e um ovo enorme. A porta foi batida com força suficiente para lascar a madeira - Tomble entendeu que aquilo era um aviso e não forçou mais sua curiosidade.
A rala vegetação crestada que tentava resistir na paisagem cinérea deu lugar às rochas e pedregulhos que marcavam o sopé da parede oeste da Cordilheira Carth. Agora a Montanha Surtur estava a menos de dois dias de subidas por trilhas curvas e passos apertados. Uma vanguarda foi destacada para checar os passos adiante, certificando-se de que não haveria emboscas preparadas contra o corpo principal do exército. Caso encontrassem problemas, deveriam marcar o local e retornar com a informação. Portanto, o exército montou um acampamento semi-permanente, capaz de resistir brevemente a um ataque surpresa e, nesse intento, foram cavadas trincheiras e elevados muros de terra e pedras. Por fora do muro uma paliçada feita de galhos secos tornados pontiagudos e arbustos de espinheiros, que havia em certa quantidade na região. Foram erigidos alguns postos de observação, simples armações de madeira, mas que permitiam manter vigilância sobre a trilha, tanto para cima quanto para baixo.
Demorou três dias para a vanguarda retornar. Houvera algumas baixas devido ao ataque feito contra um grupo de goblins que dispararam flechas contra eles. Deviam, como a vanguarda, estar averiguando o terreno e apurando a posição do exército invasor. Os goblins após a primeira saraivada, fugiu pela montanha, impedindo uma perseguição a cavalo. Como poderiam ser uma boa fonte de informações, alguns caçadores experientes que se uniram ao exército pediram permissão para acossarem os goblins e a receberam. Os caçadores retornaram com sinais claros de luta - rasgos nas roupas, escoriações e ferimentos diversos e sangue, ainda úmido, respingado nas armas, peles e vestes. As criaturas eram ligeiras e somente quando os caçadores feriram duas delas com tiros de seus arcos foi que conseguiram capturar um par de goblins. Porém os caçadores foram surpreendidos por um contra-ataque - algo não usual quando trata-se de criaturas tão covardes, algo, então, dava-lhes coragem, ou a certeza de uma vitória, ou o comando de algum líder forte. Independente da razão, o resultado foi uma luta frenética e encarniçada, o tipo de combate próximo onde somente as facas e os punhos têm vez. Foi afortunado que este é o jeito ao qual os caçadores estão acostumados a lutar e o bando foi eliminado - nenhum se entregou vivo e, os dois primeiros que foram alvejados, morreriam sangrando antes de a vanguarda retornar ao acampamento. Ambos foram interrogados ali e nada revelaram de importante antes de terem as cabeças esmagadas por pedras.
"De fato, nada de relevante", reportou o tenente Troras, que comandara a vanguarda, já no acampamento. "Entretanto disseram que sabem da ida de nosso exército e que irão fazer um grande banquete com nossas carnes no dia seguinte ao da batalha. Que os nossos líderes serão dados aos dragões. Mas os soldados serão deles."
"Bem, não estamos fazendo segredo também", o capitão Stromm amenizou.
"Não todos nós, ao menos", adicionou Tomble, sardônico, que veio ao conselho apenas porque não tinha mais o que fazer - todo o dinheiro que trouxera, o pouco que ainda tinha após incluir sua bolsa no financiamento dos suprimentos e equipamentos, o que fez a um pedido que mais pareceu uma sugestão envolvida em cobrança feito por Avric, ele perdera nos dados para os soldados. Como também perdera o cavalo em apostas, vinha tendo que se manter nos carroções junto dos doentes, machucados e artigos de uso do exército, e ali não tinha liberdade nem podia se afastar para onde os soldados divertiam-se quando era possível. Isso o forçara a ter de vir peticionar por um novo cavalo e já armara uma desculpa envolvendo um buraco, um cavalo coxo e um animal sacrificado. Então estava ali, esperando por uma oportunidade de falar com Greigory. E, mesmo tendo ido para pedir algo, não conseguiu resistir a fazer um comentário ácido. Às vezes Tomble se perguntava por que fazia as coisas que fazia e, usualmente, chegava à conclusão que era o sangue gnomo e que, por isso, nada era culpa dele.
Greigory olhou o ladino com franca repreensão em sua expressão sisuda, todavia não entrou em um debate. "Estamos sendo observados, do alto, entre as nuvens de chumbo feitas pelo vulcão", falou. "Os dragões estão lá, mesmo com a ajuda dos pássaros Rocas. Mas o despertar deles é lento, correto, Leoric?"
O necromante aproximou-se da mesa de carvalho. "Sim, correto, senhor Greigory", concordou. "O metabolismo dragontino funciona de modo distinto e me exigiu bastante estudo nos últimos dias. Como nós, que despertamos confusos por alguns momentos, algo similar ocorre com os dragões, mas em proporção espetacularmente mais elevada. Um dragão saudável, que mantenha um regime natural em relação aos seus períodos de vigília e repouso, usualmente mantém-se uma proporção de um dia de atividade para dois de dormência, se for jovem. Isso aumenta para três, quatro ou mais dias em descanso, em graus diferentes de atenção para com seu ambiente, quanto mais velhos são. O corpo de um dragão consome quantidades inauditas de energia enquanto está em atividade. Eles precisam descansar ou correm o risco de se exaurirem e colapsarem. Fiz cálculos diversos para traçar um nosso espaço para ação, considerando a idade dos dragões e o tempo de hibernação forçada pelo qual passaram. Fiquei com resultados que apontam de 70 a 120 dias para que estejam de volta aos níveis medianos de funcionamento de seus metabolismos. Já se passaram 81 dias desde que Alric Farrow destruiu a Pedra-chave."
Durante sua explanação, Leoric apresentou tabelas e um tomo antigo, escrito em pele de veado, o qual continha uma escrita ininteligível para que não soubesse decifrá-la, e também vários desenhos de dragões, que Tomble achou bem feitos. Ainda assim, a atenção dos presentes estava nas palavras. Havia um fio de esperança nelas, ao mesmo tempo em que traziam, em si, a fria sombra dos números e o temor que ela escondia.
"Onze dias além do mínimo, mas quatorze antes da média. Eu aceito essa aposta", disse Tomble, para dar a si um naco de bravura e incutir nos demais uma medida de audácia - era necessário perseverar.
"Você usualmente perde, Tomble", Leoric ponderou.
"Usualmente, sim", anuiu Tomble. "Mas não sempre", arrematou. "Só que isso me lembra, meu cavalo..."
Com o retorno da vanguarda era esperado que o exército por-se-ia em marcha no dia seguinte, o que não ocorreu. Ninguém recebeu ordens de levantar acampamento, nem de carregar as carroças ou arrear as montarias. No segundo dia após a volta do destacamento, a situação manteve-se e burburinhos começaram. Boatos espalharam-se rápido, falando sobre desistência, sobre um exército de gigantes e dragões que desciam a Montanha Surtur, sobre doenças advindas das cinzas e sobre o Barão que trouxera um sacrifício de três mil homens para o Senhor do Escuro, para tornar-se um de seus servidores e ter suas terras poupadas. Os oficias tratavam com rigidez dos soldados que falavam tais coisas e um cedro quase pelado de folhas foi chamado de "árvore de cordas", tantos foram aqueles enforcados ali e deixados para apodrecer. Ninguém entre os soldados entendia, mas os boatos cessaram, até porque, no terceiro dia, o exército pôs-se em movimento.
O Barão Greigory parecia abatido, cansado e irascível. Seus comandantes mantinham-se próximos a ele, porém, Tomble viu, não havia conversas. Avric estava junto deles. Leoric permanecia em sua carroça-casa. Desmontar o acampamento durou toda a manhã e só no começo da tarde - o que acreditava-se ser o início da tarde, se as velas que marcavam as horas estavam corretas - a coluna de tropas estava em marcha. No entanto, antes de percorrem meia légua, houve gritos entre os soldados quando o exército atravessava um amplo vale, com rachaduras profundas. O que poderia ser uma força hostil surgiu, sem aviso, de um morro próximo. Eram poucos, sequer uma vintena, mas causou alarme, pois a cada boca que falava, o número parecia dobrar entre aqueles que não conseguiam ver o que ocorria.
O Barão Greigory, Avric e um grupo de oficiais saíram da formação para interpelar os que se aproximavam. Tomble cutucou as costelas do cavalo e, num trote ligeiro, alcançou os demais. Logo viu que tratava-se de um anão de aparência régia e um séquito de dezessete anões, todos armados e em armaduras. Grisban estava entre os dezessete. Traskin, um anão ao qual Tomble e seus companheiros haviam ajudado no enterro do irmão dele meses atrás, também fazia parte da comitiva.
"Estão com pressa, meus senhores? É por isso que morrem cedo!", bradou Khálin, que, Tomble veio depois a saber, era o chefe do clã de anões das Montanhas Carth. "Não sabem que nós, do povo de ferro, negociamos por um dia, comemos e bebemos pelo acordo por três e, depois, dormimos por cinco para a comida assentar e a bebida partir?"
Greigory apeou e saudou Khálin com um cumprimento típico dos anões.
"É prudente nos encontrarmos a céu aberto?", Greigory perguntou, preocupado, olhando para cima, na direção das nuvens pesadas, onde fogo, relâmpagos e cinzas se encontravam. "Aguardei por uma mensagem sua no local marcado. Por uma mensagem sua, e não sua própria pessoa."
"E eu mandaria uma", replicou Khálin. "Mas os subterrâneos não são mais tão confiáveis quanto eram."
"Mas agora nossos planos estão, literalmente, expostos!", Greigory retorquiu, exasperado.
Avric saudou Grisban e, depois de uma breve troca de palavras, cumprimentou Traskin. Os demais homens do grupo de Greigory permaneceram montados, formando um círculo em torno do barão e do chefe do clã anão.
"Ah, os humanos!", soltou Khálin enquanto batia, de modo quase teatral, com a mão nos ombros de um de seus comandados. "Sabe onde está, Barão Greigory?"
O Barão olhou em volta. Não viu nada de especial ou chamativo, então deu a resposta óbvia: "Nas Montanhas Carth."
Khálin franziu o cenho. "É, está certo. Eu devia ter perguntando onde nas montanhas, mas agora já foi. Enfim, barão, este é o Cemitério dos Dragões." O senhor anão fez um movimento com o braço indicando o vale. "Aqui vocês andam por cima dos ossos deles. Uma grave falta aos olhos dos dragões, mas para quem não se importa com um tanto de desrespeito, é um excelente local de encontro. Os dragões não voam por cima deste local, então as montanhas nos abrigam da visão deles. Eu fui responsável por tirar as outras visões que guardavam esta passagem."
"Hã", Greigory titubeou. "Certo. Excelente, então. Prosseguiremos da forma planejada a partir daqui?"
"Sim." A voz de Khálin era grave, funda, e não soou contente ao confirmar que manteria sua parte no que quer que fosse. "Eles irão com você", apontou para os membros da comitiva dele. "Cada um sabe o que é preciso ser feito."
"Obrigado." O Barão agradeceu e Khálin foi embora sozinho, movendo-se de forma ágil, para alguém que constituição tão pesada em espaço tão reduzido, por entre as muitas fissuras. Greigory fez um sinal para um de seus oficiais que, por sua vez, respondeu puxando as rédeas de sua montaria e soltando um assovio agudo para as tropas em espera. Um destacamento veio até eles trazendo cavalos, os quais todos anões, exceto Grisban, recusaram. Não gostavam dos animais e discutiram dizendo que queriam ir a pé. Greigory não aceitou, argumentando que todos os soldados estavam montados e era preciso manter o ritmo do avanço. Foi preciso a intervenção de Grisban para que a comitiva aceitasse seguir nas carroças que, a cada dia, tinham mais espaço enquanto as provisões diminuíam.
A marcha montada prosseguiu firme até alcançar o sopé da Montanha Surtur. Avric e Grisban seguiram juntos, conversando durante o dia e até de noite. Ali a lava fluía de entre as pedras como se a montanha sangrasse de mil ferimentos. Seu topo regurgitava fumaça, pedras e fogo. As cinzas caíam ali como uma pesada nevasca. Os cavalos estavam nervosos e, por isso, gemiam e arranhavam o solo.
"É o odor dos dragões", avisou o tenente Troras.
"Não podemos subir com os cavalos", o capitão Stromm apontou.
"E não vamos", disse Greigory aos seus oficiais. "Deixaremos trezentos homens aqui, guardando as carroças e os cavalos. Ao restante, ordenem que arrumem suas mochilas e que levem o mínimo possível. A fortaleza de Belthir fica pouco acima."
"Cerca de setecentos metros acima, na face noroeste do monte", informou o tenente Troras, que lidera a equipe de batedores que, semanas atrás, descobrira a fortaleza, construída em segredo, na Montanha Surtur. Tomble não gostava particularmente dele, por nenhum outro motivo além de vê-lo como competição.
Os oficias começaram a berrar ordens quando um urro trovejante que, por um momento ínfimo e assustador, engoliu o barulho da montanha. Das nuvens viu-se uma silhueta enorme surgir e começar a cair. Era difícil enxergar suas formas com precisão, devido às cinzas. Somente quando estava a menos de uma centena de metros que as tropas viram, horrorizadas, o gigantesco pássaro bater de encontro ao monte, causando um tremor sentido onde o exército estava, a centenas de passos de distância. Era possível ver, mesmo com um tanto longe e sob a chuva de cinzas, que o animal estava em horrível estado - uma das asas era um toco sangrento e boa parte do corpo dele estava queimada e mostrava ferimentos. Um cavaleiro ofereceu-se para ir até lá, pois seu cavalo, um grande alazão de guerra, não parecia temer como os outros o cheiro no local. Ele foi e voltou antes do exército estar em movimento e relatou que o que restara do ginete do pássaro ainda estava amarrado na sela, mas da cintura para cima nada restava.
Outros sons retumbaram, vindo de entre as nuvens e foi preciso que os gritos dos comandantes soassem urgentes para que as tropas começassem a se mover. A marcha foi cansativa, porque o calor era quase insuportável e manter os rostos cobertos dificultava a respiração. A trilha tosca era terrivelmente demarcada: em centenas de lanças havia pedaços de corpos apodrecendo, em sua maioria eram cabeças, provavelmente advindas dos ataques às vilas e vilarejos, mas havia todo tipo de membros. Era uma cena macabra que vários oficiais usaram para instigar seus soldados.
Quando viram a fortaleza, toda feita em basalto e granito, o exército parou. Era uma construção ciclópica, com um anel duplo de muralhas cercando um castelo negro e duas torres. Havia pontes que ligavam os prédios internos à montanha. Nas muralhas havia arqueiros goblins e alguns ettins, sempre ao lado de montes de pedra - os monstros serviriam como catapultas na batalha por vir. Alguns dragões das sombras, os mais jovens e belicosos, agarravam-se aos topos das torres de pedra.
Inesperadamente, o portão de ferro estava aberto e, nele, dois ettins seguravam uma matilha de barghests, presos em coleiras. Os animais uivavam e o tremendo som fazia a pedras tremerem e a terra deslizar - o poder místico daquelas emissões sonoras era temido por todas as criaturas das matas. Há frente, em fileiras organizadas somente pelo poder negro do Senhor do Escuro, estavam milhares de zumbis, seus corpos fétidos, podres. Esse era o exército da Escuridão.
Enquanto Tomble observava a cena, mais do que levemente preocupado, Leoric chegou junto a ele. "Tomble, você está com a Runa Umbrosa?", perguntou.
"Ah", assustou-se Tomble, que quase derrubou a pedra de amolar com a qual afiava as facas de arremesso que carregava desde os tempos de pivete de rua. Ultimamente preferia usar o arco Tiro Verdadeiro, com o qual vinha treinando, mesmo que a magia do arco se ocupasse da maior parte do serviço. "Oi, Leoric."
"Está com ela?", insistiu o necromante. A aparência dele era a de um homem exausto, enfraquecido, mantendo um olhar obcecado, intenso - algo semelhante a como eram os viciados que Tomble encontrava pelas sarjetas. A roupa, suja, rota na baixa e nos pulsos reforçava o feitio de desleixo. E, diferente dos demais, não usava um pano cobrindo o rosto.
"Hã, sim, estou", Tomble respondeu.
"Dê-me ela." O tom de Leoric não era de pedido e Tomble se eriçou.
"E seu eu disser não?", rebateu o ladino.
"Então você vem comigo." O mago puxou Tomble pelo casaco de couro e este, não querendo brigar e estando um tanto curioso, decidiu ir sem resistir.
Grisban, todo vestido para a batalha, em uma fabulosa armadura anã, chegou ao lado de Avric que encarava a fortaleza tenebrosa.
"Já deixe eles onde deviam", Grisban falou a Avric.
"Muito bom, Grisban", Avric elogiou. "Viu o Leoric?"
"Não."
Avric ouviu, mas não deu atenção, então colocou um joelho no solo rochoso e pegou um punhado de pedras. Sentiu um tremor vindo do chão. "Não será bom marchar em linhas por aqui", disse, avaliando o terreno.
"Não será, mas teremos que fazer." Grisban falara com a segurança de um lutador experiente que não temia dificuldades.
"Os zumbis estão parados", Avric notou. "Alguém, ali", apontou para a fortaleza negra, "não quer que eles avancem."
"Faz sentido", ponderou Grisban. "Eles não temem um cerco. Zumbis não comem nem respiram esse ar torpe. Os ettins e os goblins, sim. Mas eles comem qualquer coisa. Talvez até a carne dos zumbis. E, além disso, ao nos bater com os zumbis, estaremos no alcance dos arqueiros e das pedras arremessadas. E tudo isso subindo. Não muito, mas para quem já lutou subindo, sabe que quaisquer três dedinhos em terreno elevado fazem diferença. Vai ser um negócio feio esse que nos espera."
"Mas se nos atacassem enquanto organizamos nossa parede de escudos, poderiam causar mais estrago", Avric refletiu. "Seria mais rápido. E eles não perderiam nada que não está já morto."
"Talvez..." Grisban não terminou. Não sabia determinar quais as razões de tudo que ocorria por ali, mas não precisou finalizar seu pensamento, pois Avric pegou a linha.
"Talvez porque queriam ganhar algum tempo", supôs o guerreiro.
"Um dia a mais não vai fazer os dragões acordarem certinho", o anão disse.
"Não isso. Algo mais simples." Avric levantou o rosto para o alto, protegendo os olhos com a mão. "Faz tempo que a montanha parou de cuspir fogo?"
Grisban também voltou seu rosto para cima. "Nem tinha notado. Entre tanta cinza e fumaça e coisas para fazer. Mas pensando aqui comigo, acho que não vi fogo saindo desde que começamos a subir."
"É, eu também." Avric jogou fora as pedras que tinha numa das mãos e saiu correndo em direção às tropas, em particular para o centro, onde estava a bandeira do Barão Greigory. "Atacar!", gritava. "Mande atacar agora!"
Greigory não conseguia escutar, mas quando viu Avric desembainhar sua espada, apontar para a fortaleza e começar a correr naquela direção, passando por um Grisban aturdido, sem entender o que acontecia, o barão soube que devia dar a ordem de ataque. Virou-se para seu escudeiro e falou para que fosse soado o comando. Disse o mesmo para os dois capitães que estavam flanqueando-o, e ambos desfraldaram as bandeiras de Rhynn, de fundo vermelho, prendendo-as ao flanco dos cavalos que montavam - um par dos impressionantes garanhões de batalha, treinados para enfrentar o medo, mesmo aquele provocado pelo odor dos dragões. A trombeta do escudeiro anunciou a ordem de ataque. A parede de escudos se mexeu adiante, com os soldados batendo suas armas - espadas, lanças, alabardas, machados - na madeira de tília ou na bossa de ferro dos escudos. Era a canção da guerra - sem letra, somente emoções, braços, armas e o retumbar.
O Barão Greigory, sentindo a emoção da batalha tomar-lhe o corpo, berrou: "À luta, homens! À batalha e ao sangue! Por Rhynn!"
Os homens urraram em resposta - um eco inarticulado marcado pelo extravasamento de uma pulsão de fúria liberada e estímulo nervoso.
Então a Montanha Surtur explodiu em fogo e lava.
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Muito bem, é preciso dizer que a interpretação que dei para a sessão tem pouco a ver com o que ocorreu realmente na partida. Eu poderia me culpar por isso, mas prefiro transferir tal responsabilidade para o jogo: apesar de o sistema de campanha do Descent ter sido feito para oferecer uma estória coesa, a realidade é diferente. Eu entendo, veja bem, que o objetivo principal é proporcionar uma partida interessante e, para isto, a estória vem em segundo plano. Porém isso certamente dificulta manter um relato coerente com todos os passos dados até então.
Assim, em nome da clareza, o que realmente ocorreu na sessão foi: os aventureiros, sabe-se lá como, foram levados até uma armadilha montada pelo Belthir. A armadilha consistia em um tipo de arena em que os aventureiros tinham que vencer os outros campeões para poderem enfrentar o próprio Belthir. Depois de os aventureiros perderem para os outros campeões, o local da armadilha sofreu algum tipo de abalo sísmico que permitiu aos aventureiros fugirem e, de quebra, darem perseguição a Belthir que, ao melhor estilo vilão de filmes, tinha um plano que, ao invés de já estar em funcionamento enquanto os aventureiros estavam longe (ou, na pior das hipóteses, enquanto lutavam na arena), foi iniciado quando os heróis escaparam - o plano era o de libertar sua raça (os dragões). No caso, era necessário passar por alguns monstros que serviam ao Belthir (uns Moldadores de Carne e um par de Dragões das Sombras), que estavam ali para dar tempo para Belthir completar o que quer que tivesse de fazer. Os monstros conseguirem bloquear os heróis por tempo suficiente e Belthir pode voar livre, satisfeito por um trabalho bem feito.
Ok, como viram, eu mantive alguns elementos: que os aventureiros foram atrás de Belthir. Que os monstros presentes na arena são os mesmos que protegem a fortaleza. E que algumas ocorrências na estrada até lá foram mantidos (o ataque goblin - na carta eram salteadores). Ademais, incluí alguns elementos que só virão na próxima sessão - o Finale - onde tudo será decidido. Assim espero ter conseguido manter harmonia entre os capítulos.
A sessão em si foi problemática para os heróis, que derrotaram somente 1 dos campeões na primeira parte do cenário, enquanto foram derrubados quatro vezes basicamente sem conseguir sair da primeira sala em que entraram. Isso em parte ocorreu por causa da pior decisão possível entre 4 possíveis: os jogadores optaram para ir atrás dos goblins, que sim, são os inimigos mais fracos que estavam no cenário, mas também eram os que estavam mais longe. Ou seja, mais longe para ir e voltar. Ademais, quando o cenário começa é quando os heróis estão mais fortes (tanto em vida quanto em fadiga), portanto é o melhor momento para enfrentar os monstros mais fortes. Minha decisão teria sido a de enfrentar os ettins, que estavam na menor das salas, sem espaço para se movimentar (dessa forma, seria difícil que ambos conseguissem atacar numa mesma rodada). Depois seria o momento de encarar os dragões. Não sei se daria melhor resultado, mas seriam minhas escolhas (claro que, nesse caso, eu sei que eu, como Overlord, coloquei os goblins justamente na esperança de que fossem os alvos primários, o que aconteceu).
Na segunda parte, por terem vencido só 1 campeão, Belthir estaria desimpedido logo quando um dos heróis fosse derrubado. O que aconteceu cedo quando eles tiveram azares diversos para eliminar os Moldadores de Carne, que se juntaram e em ataques sucessivos contra o Avric, o derrubaram. Desse modo Belthir estava livre para voar para fora e, caput, o cenário terminou com vitória do Overlord.
No próximo cenário ocorrerá o final da campanha. Como será a batalha final entre Tomble, Avric, Grisban e Leoric contra as forças do Overlord? Bem, será preciso esperar para ver!
E é isso!
Abs,