O que eu gosto no jogo é uma série livremente baseada nos vídeos My Favorite Game Mechanism do designer de jogos Jamey Stegmaier. Nessa série eu vou tentar falar em termos gerais as coisas que mais me chamam a atenção em um determinado jogo, sem me preocupar em explicar regras. Ou seja, você vai ver uma análise de forma mais objetiva e direta de um jogo.
A primeira vez que ouvi falar sobre
Quantum foi aqui mesmo, no
Ludopedia, numa sessão que gosto bastante de acompanhar que é a do
Diário do Designer. Por sinal, foi um dos melhores textos que já li sobre o desenvolvimento de um jogo. Tanto que, depois de ler sobre ele, corri atrás pra conhecer o jogo e fui achar uma versão online num tal de
Board Game Arena (na época, a primeira vez que ouvia falar sobre o site também). De lá pra cá, perdi as contas de quantas vezes joguei
Quantum entre as versões virtual e física, mas acredito que seja um dos jogos que mais joguei.
O jogo foi lançado em 2013 pelo designer americano
Eric Zimmerman, que havia trabalhado prioritariamente com design de jogos digitais. Basicamente um jogo abstrato, mas com uma roupagem muito bem trabalhada,
Quantum chegou ao mercado sem muito alarde, mas muito bem produzido pela francesa
Funforge, do também excelente
Tokaido. O jogo envolve muita rolagem de dados, o que acaba afastando também muitos jogadores que não curtem o elevado fator sorte desse estilo de jogos. Mas, já adiantando um pouco minha opinião final, isso é uma das melhores coisas do jogo. E o grande desafio é como lidar com o número rolado para fazer uma boa estratégia.
MUITO MAIS DO QUE UM JOGO DE DADOS
Em
Quantum, cada jogador representa uma raça num futuro espacial em que uma nova forma de energia foi descoberta: os cubos quânticos. Sua missão é explorar os mais longínquos planetas e levar até eles os seus cubos quânticos.
O primeiro jogador a colocar todos os seus cubos, vence. Bem simples, bem objetivo. E, melhor ainda, trata-se de um jogo fácil, mas com muita estratégia envolvida. Isso porque tudo o que você precisa fazer para chegar até os planetas é mover seus dados por um tabuleiro modular, em movimentos de grid, representando suas naves com poderes diferentes. Esses poderes são decididos conforme a face do dado rolada. Ao longo do jogo, você também poderá contar com cartas de avanço tecnológico que aumentarão seus poderes ou o deixarão mais forte para uma batalha. Ah sim, existem batalhas e elas são resolvidas de maneira incrível.
A primeira coisa que vale destacar no jogo são suas mecânicas. Além de ser um jogo de colocação e rolagem de dados,
Quantum é um jogo de movimentação em grid, com muito controle de área e um pouco de coleção de peças (que aqui, no caso, você deve colocar no tabuleiro ao invés de colecionar na mão) (
Nota: quero fazer uma observação aqui de que o BGG coloca o jogo como tendo "jogadores com poderes diferentes", mas não é o caso). Além disso, o jogo tem um tabuleiro modular e dezenas de maneiras de se montar o jogo para 2, 3 ou 4 jogadores (entre as oficiais e as existentes na comunidade). Cada um desses mapas lhe dará um jogo mais fácil ou mais difícil, com maior ou menor interação. No geral, o tempo de jogo é de algo em torno de 1 hora, mas pode demorar mais se os jogadores entrarem em combate com maior frequência, tornando mais difícil atingir o objetivo.
A cada rodada, o jogador terá direito a 3 ações dentre as possíveis: mover suas naves, aumentar seu investimento em pesquisa, atacar uma nave adversária ou ainda colocar seu cubo quântico em um planeta. Ainda será possível recolocar naves em jogo (no caso de uma nave destruída, explicado melhor abaixo) ou simplesmente rolar novamente um dado qualquer do tabuleiro para tentar uma nova face. Na ação de movimento, a face do dado dita qual o número máximo de espaços o jogador pode avançar (1 a 6), sendo que o movimento sempre será ortogonal (direita, esquerda, cima, baixo). Uma nave com face 2, por exemplo, pode andar dois espaços, enquanto uma nave 6, avança 6 casas num único movimento. Todas as naves também tem habilidade únicas. A de face 2 pode carregar outra nave e lançá-la um espaço à frente. Uma de face 4 pode se transformar em uma com face 3 ou 5. Uma de face 5 pode andar na diagonal. Assim, você constrói sua frota em cima dessas habilidades e as usa quando for necessário. Usar a habilidade de uma nave não conta como uma ação.

A sacada fundamental do jogo é que para colocar um cubo quântico a soma dos seus dados alocados na órbita do planeta deve ser igual ao número mostrado no
tile do planeta (referente ao tamanho daquele planeta e vai de 7 a 10). Ou seja, é mais fácil fazer uma combinação que some 8 ou 9 do que uma que some 7 ou 10. Você pode formar esse seu "poder quântico" com qualquer número de naves (um 7 pode ser conseguido com uma nave 2 e uma 5 ou uma 3 e uma 4, por exemplo, mas uma 9 pode ser conseguida com 3 naves 3 ou ainda uma 5 e duas 2). Colocar um cubo quântico em um planeta custa 2 ações. Isso exige uma enorme estratégia de quando e onde colocar seu cubo uma vez que em muitas oportunidades você irá posicionar suas naves mas não irá conseguir colocar o cubo naquela rodada porque já usou 2 ou até mesmo suas 3 ações para fazer o movimento e, até a próxima vez de jogar, poderá ser atacado. Fazer uma investida à um planeta na hora certa é fundamental.
COMBATA E PESQUISE
Pode não parecer, mas
Quantum é um jogo de exploração. Aqui você terá que viajar pelos planetas, colocar seus cubos, melhorar sua frota com cartas de avanço tecnológico e ainda poderá mudar sua naves para naves mais fortes ou mais rápidas, além de ter muito combate. No tabuleiro de jogador, dois dados marcam sua dominância e pesquisa. A dominância mostra o quanto você tem superioridade militar sobre os demais jogadores. Cada vez que você vence um combate, você aumenta esse valor e o adversário perde um. Ao chegar em 6 você pode automaticamente colocar um cubo quântico em algum planeta em que seja possível. Já a pesquisa te permite comprar uma carta de avanço tecnológico da mesa, sendo que um
deck tem efeito imediato e outro fica no seu tabuleiro te conferindo alguma habilidade permanente no jogo.
As cartas de avanço tecnológico também podem ser conseguidas cada vez que se coloca um cubo quântico em jogo. Uma característica muito interessante aqui é o quão estratégico se torna pegar a carta certa no momento certo. Ler as jogadas dos seus adversários é essencial para se ter um melhor controle da mesa. Por exemplo, se um adversário está muito forte em combates, você pode ficar de olho na carta que te deixa ainda mais forte. Se você tem poucas naves, precisa buscar a carta que aumenta sua frota. Ou seja, boa parte do jogo também é de construção do
deck que você terá na mesa.
Os combates acontecem sempre que um jogador avançar até o mesmo espaço onde se encontra a nave de outro jogador. As duas naves então entram em combate por aquele espaço. A resolução dos combates é muito bem bolada. Cada nave tem um poder militar inversamente proporcional ao seu valor (face do dado). Sendo assim, a nave 2 é mais lenta (anda de dois em dois espaços), mas é mais forte num combate do que um 5, por exemplo. Ou seja, naves mais rápidas tendem a ser piores em combate. Mas além de contrapôr os valores das faces dos dados, outros dois dados *um preto e um branco) são adicionados aleatoriamente a cada nave e a soma é que será seu valor final. Em outra palavras, ao combater uma nave 2 contra uma nave 5, cada jogador rola um dado extra e o valor dos dados rolados se soma aos dados em combate. Se o jogador A, com a nave 2, tirar um 5 no dado rolado, sua soma será 7. O jogador B, por outro lado, tira 1 na rolagem do dado e, somado a sua nave, tem o valor 6. Assim, o jogador B, com menor valor na soma, vence o combate, obrigando o atacante a retroceder seu movimento. Caso o jogador atacante vença o combate, a nave do adversário é destruída e sai do tabuleiro, indo para o cemitério de naves do jogador e podendo ser reconstruída no próximo turno do jogador.


Essa resolução de combates é uma das minha coisas preferidas do jogo e dá a ele um ar muito tático, tal qual um jogo de xadrez. As peças com poderes diferentes e o movimento em grid me lembram muito o jogo tradicional e colocam
Quantum como um dos jogos mais estratégicos da minha coleção.
CONCLUSÃO
Quantum está hoje no meu top 5. Talvez seja até um dos 3 primeiros, mas eu sou meio indeciso quanto a ordem dos favoritos. É um jogo abstrato, mas com uma roupagem temática que casou bem com o jogo, dando a ele um ar bem mais interessante. Além de tudo, trata-se de um jogo bonito e inteligente, muito estratégico e com fator sorte na medida certa. Ao mesmo tempo que exige rolagem de dados, tem uma movimentação muito bem bolada. Tem componentes bonitos e muito, muito elegantes, além de boas ilustrações nas cartas. Como não se apaixonar por esses enormes e translúcidos dados coloridos? Os tabuleiros dos jogadores são realmente tabuleiros, e não fichas de papel e as cartas todas tem ótima gramatura. Me espanta muito o fato de que um jogo como esse ainda não tenha chegado ao Brasil, uma vez que sua produção não deve ser das mais caras (sem componentes de madeira e bem poucas cartas).
Acho que posso dizer que
Quantum é o melhor jogo abstrato que já joguei dessa nova leva de jogos modernos. Um jogo que sem dúvida alguma deve estar na coleção dos jogadores mais dedicados ao hobby que fizerem questão de tanta interação, tanta rolagem de dados e de uma estratégia bem próxima ao dos jogos clássicos do mundo dos tabuleiros como xadrez e damas.
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