adolfocaetano::
Muito bom, Iuri. Isso aqui tá parecendo conversa de velho jogando dominó na praça! Discutindo como se os rumos do país ou da economia fossem mudar pelas novas opiniões!
Mas a idade mais adiantada mostra uma coisa muito legal pra gente: ninguém dá importância para o que velhos chatos falam, mas velhos chatos param de se importar com a opinião dos outros (ou deveriam)
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Dito isso, continuemos os ditames das mudanças econômicas do setor tabuleirístico... 
As editoras, me parece, se comportam de maneira muito semelhante ao todo poderoso setor automobilístico brasileiro. Encasquetam com uma ideia e não largam isso de jeito nenhum, não importa o quanto esteja fazendo água a canoa dos caras. Vamos culpar a pandemia e falta de componente eletrônico pela inflação dos carros? Vamos! E vamos ficar uns cinco anos nessa bobagem. Vamos vender "SUVs" com preços inflacionados montados sobre chassis de carro compacto pra classe média sem noção? Vamos! e se esse classe média tá cada vez mais minguada, vamos continuar fazendo isso. Agora se perguntem se, por um acaso do destino, ou do capitalismo, as locadoras de carros e empresas donas de frotas resolverem parar de comprar a metade dos carros montados no Brasil a cada ano. O que acontecerá com esse setor? Alguma lambança ou programa de governo consegue salvar boa parte deles da bancarrota? "Haiiimmm! Isso nunca vai acontecer!!!" Me lembro quando a Ford começou a falar que ia sair do Brasil, o monte de gente duvidando, outro monte apavorado, achando que o país viraria um campo de refugiados desempregados! A Ford saiu e o desemprego não desandou (pelo menos não por causa da Ford).
Se trocarmos SUVs por caixas de 10 kg, com 200 miniaturas e quinhentas cartas teremos algo assim...
Editoras encasquetam com ideias e não largam, não importa o quanto a merda esteja alta (na altura do nariz). VAmos culpar a pandemia, a guerra tarifária do Trump, o dólar, a China, o preço do papel, o (mal) humor do Putin... E vamos ficar o tempo todo batendo nessa tecla - mesmo que grows e estrelas da vida vendam muito as cartolinas deles. Vamos ficar dependente de finaciamento coletivo, fazendo falcatrua e enganando os apoiadores, mesmo que o consumidor já não engole mais os golpes...
E se isso tudo mudar? Metade das editoras quebrarem? A quantidade de lançamentos de jogos cair pra 1/4 do atual? Vai acabar o mundo dos tabuleiros? Não! Vai mudar, e eu não me importo!
Caro
adolfocaetano
Meu camarada, você está certíssimo. E uma coisa que a própria História nos ensina é que essa entidade abstrata "o mercado", sempre sobrevive, sofrendo alterações é claro mas sempre sobrevivendo, e seja lá do produto que for. Um produto ou uma forma de produção, muito populares hoje, amanhã podem virar peça de museu ou nota de rodapé em livros de história econômica. Por isso pode ser que o formato de financiamento coletivo, no mercado de board games, continue funcionando pelo próximo século, com também pode ser que o formato se esgote em 10 anos e seja substituído por outro formato que nem foi inventado ainda. Quem sabe?!?!?!
Além disso, quanto mais a gente vive, mais a gente vê como são inúteis esses exercícios de futurologia, que para acertar uma previsão, acabam errando cem palpites. Quando uma quantidade de previsões é suficientemente grande, estatisticamente uma delas acaba se concretizando. Quem foi criança nos anos 70 talvez lembre das crises do petróleo, e de como todo mundo tinha certeza de que por volta do ano 2000, o petróleo já teria se esgotado. O ano 2000 chegou e passou e o petróleo continuava (como continua até hoje) firme e forte. Nessa época a aposta passou a ser que, em 20 anos a matriz energética do mundo inteiro já teria migrado para fontes limpas e renováveis. Passou mais um quarto de século, e as energias renováveis não só não substituíram os combustíveis fósseis, como muitos países voltaram a considerar seriamente a energia nuclear, a vilã dos anos 70, 80 e 90.
Certamente as fontes de energias renováveis tiveram um aumento e desenvolvimento considerável, mas ainda estão muito longe do que diziam as previsões do início do século. Outra coisa interessante é que as previsões apocalípticas dos anos 70, de que o petróleo acabaria dentro em breve, não levaram em conta a enormidade das áreas não exploradas da crosta terrestre. Ninguém imaginaria nos anos 80, que no Brasil haveria um "pré-sal", da mesma forma que ninguém imaginava que existissem as reservas da Margem Equatorial Brasileira. E olha que estamos falando apenas de parte da costa brasileira. Entre a Bacia de Campos e o extremo Norte do país existem quilômetros e quilômetros para se explorar. Por outro lado, hoje os carros elétricos já são uma realidade, mas ainda está bem longe deles se tornarem maioria, e dos postos trocarem bombas de gasolina por tomadas. Mesmo com toda a propaganda e ascensão dos elétricos, eles ainda não atingem nem 20% do mercado global. Se nós fôssemos considerar o que se dizia sobre os elétricos 10 anos atrás hoje era para eles serem 80%, e os carros à combustão apenas 20%. Mas todo muito está "bastante convicto" que em 2030, daqui a apenas 5 anos, os carros elétricos já representarão metade do mercado automotivo.
Do mesmo modo, as previsões relativas à agua eram catastróficas, e muitos apostavam que por volta de 2030 as guerras globais seriam por nascentes de água doce. Nada disso aconteceu pelo menos ainda, e talvez nem aconteça dada a quantidade de dinheiro investida em pesquisa sobre dessalinização da água do mar. Claro que um dos problemas é se livrar da salmoura resultante, e, obviamente, conseguir um tecnologia que barateie o processo e resolva o descarte dos resíduos. Mas uma iniciativa que antes era restrita aos países do Oriente Médio, hoje já existem, na Espanha, na Austrália, em Cingapura, e provavelmente a China e os EUA também entrarão nessa dança. Se a ciência descobrir formas mais baratas de dessalinizar a água do mar, o impacto na política macroeconômica global será imprevisível, porque praticamente todos os grandes processos industriais atualmente utilizam água, aliás muita água, inclusive a indústria dos board games (data centers de alto desempenho então, nem se fala!!!!).
Outra coisa interessante é que se você perguntasse a qualquer cientista anos anos 70/80 o que viria primeiro, o homem pousar em Marte, ou a ciência conseguir clonar um mamífero, muito provavelmente ele diria que o homem pousar em Marte era uma questão de anos ou talvez uma ou duas décadas e que clonagem, que era vista como pura ficção científica, se fosse possível algum dia, estaria séculos adiante. Ainda não conseguimos mandar o homem para a Marte, mas a ovelha Dolly foi clonada em meados dos anos 90 e o feito divulgado em 1997, ou seja 30 anos atrás. Da mesma forma, depois da clonagem da Dolly, todo mundo (até parte da comunidade científica) acreditava que em poucos anos doação de órgãos seria coisa do passado, porque quem precisasse de um coração, por exemplo, bastaria clonar o órgão a partir do seu próprio DNA. Essa solução inclusive eliminaria totalmente a questão da rejeição aos órgãos transplantados, bem como as longas e intermináveis filas de espera, que são os principais problemas do transplante de órgãos. Infelizmente, no caso da clonagem de órgãos, a ciência tomou outros rumos e a doação de órgãos, com todos os seus problemas, ainda é a única opção para quem precisa de um transplante. Havia quem jurasse que as pesquisas com células-tronco curariam fraturas na medula óssea e fariam cadeirante voltarem a andar, o que também não aconteceu, pelo tabu que virou as pesquisas com células-tronco. Melhor investir em ereção constante para sexagenários e na cura da calvície.
Isso tudo que eu escrevi acima foi só para demonstrar que simplesmente não se pode prever quais os caminhos que a ciência ou um setor econômico vão tomar. E isso se aplica também aos board games. Vamos imaginar, por exemplo, que em um futuro próximo impressoras 3D, e impressoras de papelão, do tipo dos tabuleiros, sejam ainda mais baratas do que são hoje as impressoras comuns, e que essas fiquem ainda mais baratas (eu digo baratas não apenas a máquina mas todo o processo de impressão). Nesse cenário, talvez ao invés de comprar um board game que foi produzido na China, o comprador teria apenas de comprar o acesso temporário aos arquivos e produzir o jogo em casa, com caixa e tudo. Por outro lado, pode ser que um cenário desses não faça sentido, e que ao invés disso, a realidade futura seja outra que ninguém tenha previsto ainda (realidade virtual super-realista, hologramas, etc).
Do meu ponto de vista, e agora eu vou fazer a minha própria previsão, que tem tanta probabilidade de se concretizar, quanto qualquer outra, eu acho que o futuro dos board games é se polarizar ainda mais. Com isso teremos, de um lado "megajogos" de caixas de 20Kg de componentes ultra premium custando uma fortuna, mas com uma produção proporcional a do Romanée-Conti original, para os demais vinhos em escala, e financiamentos coletivos na casa dos 5 dígitos. Do outro lado, nós teremos uma infinidade de jogos de cartas, party games e jogos família bem simples, ainda maior do que aquilo que já se produz hoje em dia, e que serão consumidos pelos reles mortais. No meio disso haverá um produção mínima, praticamente artesanal, de jogos médios, para uma parcela diminuta do total de consumidores.
Porém, mais uma vez, tudo isso depende dos caminhos que o mercado de board games vai tomar, e isso por mais que o mercado dê pistas para onde vai, ninguém tem condição de prever com certeza.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio