Eu acho que a mensagem da Marie Kondo foi muito mal disseminada, graças às pseudos celebridades que ‘abraçaram’ a filosofia do seu próprio jeito e começaram a cagar regra sobre o que pode e não pode e àquela série da Netflix. A grande questão de Kondo é ter o que te traz alegria, porque o que te traz alegria não vira um fardo. Uma casa cheia de cacarecos, obviamente vai demandar mais tempo dos moradores para mantê-la limpa e organizada. Mas uma casa que tenha o que te traz alegria não vai ser um fardo de limpar e organizar, já que tudo o que está ali alimenta sua alma, te lembra de bons momentos e faz parte de quem você é.
E eu acredito que o minimalismo passa pelo mesmo problema. Tenha menos coisas, vai ser mais fácil administrar sua vida. É simples e faz sentido. No entanto, no mundo absolutamente caótico e violento em que vivemos hoje, a alegria de chegar na sua própria casa e encontrar suas coisinhas, seus quadros, seu cheiro e até sua própria bagunça é o que nos dá conforto e, em certa medida, propósito. Eu não quero ter apenas 2 xícaras em casa, eu quero ter minha xícara de Animal Crossing, minha xícara do Pequeno Príncipe, minha xícara comprada numa viagem que deu tudo errado e até a xícara toda branca do jogo de jantar que tem um lascadinho e se eu tiver que lavar todas no mesmo dia porque se acumularam na pia, o problema é meu e se elas estão sujas é porque teve café fresquinho.
Isso também vale pros jogos, gibis, livros, ‘hominhos’. Se a tua coleção de 170 jogos te traz alegria, é isso e apenas isso que importa. Se todos vão para a mesa regularmente ou não é um problema seu e só seu. Na verdade nem é um problema, né? Seja a sua coleção imensa ou só com os jogos que você efetivamente joga, não há certo ou errado, recomendado ou não. Se todo mundo seguisse essas regras que as pessoas vira e mexe cagam por aí, milhares de livros não existiriam mais porque ninguém teria feito uma biblioteca para preservá-los. Vários consoles e jogos de vídeo game também não existiriam mais, pois alguns só existem graças aos colecionadores que os mantém no acervo.
Além disso, a gente também tem que tomar um pouco de cuidado com esse discurso do "vamos ter menos, consumir menos, olha o planeta tá acabando". Enquanto a gente joga a culpa nos indivíduos o agro e os data centers tão aí consumindo toda a água do mundo enquanto nos fazem sentir culpados por levar nossas vidinhas mundanas.
Enfim, Isa, meu ponto aqui é que tá tudo bem você ter 200 jogos e não querer vende-los (mas pelo amor de deus, se você tiver Spirecrest e NewLeaf e um dia for vender, me chama), eles são importantes pra você, te dão alegria, sentido de pertencimento e paz de espírito. Assim como também tá tudo bem o colega querer ter 20 porque acredita que é melhor pra ele.
Sobre comprar e beber demais. Acredito que o primeiro passo é você ter consciência de que esse problema existe e isso é muito importante para você procurar ajuda. E a ajuda que você precisa não vai estar em fóruns na internet, acredite, as pessoas têm a melhor das intenções, mas a melhor coisa pra você a respeito disso é procurar ajuda profissional. Encontra um psicólogo ou psicóloga com quem você se sinta à vontade para conversar e descobrir como lidar com isso de maneira saudável e segura. Pois só assim você não vai chegar ao ponto de ser obrigada a vender tuas coisinhas para arcar com o descontrole financeiro.
Por fim, Marie Kondo pode ser pra todo mundo sim, desde que todo mundo entenda que o importante na vida é ter conosco o que nos traga alegria!