MatheusAleM::Legal o texto, amigo!
Na real eu acho que a comunidade de jogadores de board games superestima demais a complexidade dos jogos. Claro que alguns são mais rasos e outros mais profundos, mas sinceramente nunca vi um manual que não pudesse ser entendido por um adolescente alfabetizado. Quando a pessoa não entende o jogo, não é porque ela não tem o intelecto necessário, é só porque ela ficou com preguiça de ler até entender mesmo. Se o cara quer me pegar o manual de um Betrayal of the Second Era (90 páginas) ou um Mage Knight da vida (peso 4.66) e entender em 15min igual ele fez quando jogou Azul, é claro que ele vai se frustrar e achar difícil, mas não é porque as regras são complexas, é só porque não dá tempo de absorver tudo em 15min.
É curioso que se a gente pegar outro hobbies que envolvem regras e leituras, por exemplo RPG de mesa e wargames (Warhammer etc.), essa conversa de "jogo complexo" dentro das comunidades não existe, e a gente tá falando de dezenas de livros com centenas de páginas de regras sobre um único jogo. Em mais de 20 anos jogando RPG, eu jamais ouvi jogador falando algo do tipo "esse jogo é muito complexo para iniciantes, você deveria começar por algo mais leve", enquanto nos board games esse é um discurso que eu sempre ouço e muitas vezes acompanhado de um certo elitismo e prepotência por parte de um marmanjo que se acha mais esperto porque entendeu o manual de um jogo voltado pro público juvenil, rs. Parece-me que rola uma artificialização da complexidade pra tentar tornar os board games mais intelectuais do que eles realmente são.
Isto dito, acho que a IA pode ser útil no entendimento de jogos sim, mas mais no sentido temporal, de agilizar seu entendimento, e não no sentido de te ensinar algo que sem ela você teria dificuldade de compreender. Da próxima vez que alguém ler um manual e achar intransponível, creio que antes de jogar no chat GPT essa pessoa deveria só ler de novo com mais calma!
Concordo com a ideia geral do seu comentário.
O que eu considero curioso é que esse elitismo intelectual artificial gerado pela comunidade não é criado pelo "marmanjo que se acha mais esperto porque entendeu o manual de um jogo voltado pro público juvenil", e sim pelo preguiçoso que desiste de realizar uma atividade que, supostamente, goste, apenas para não precisar ler um "texto de 20 páginas ou mais".
Como a maioria dos brasileiros não cria uma base sólida no aprendizado da leitura e da interpretação de texto, acaba enfrentando uma barreira individual não só na hora de participar de um hobby, mas também na hora de trabalhar, aprender um ofício e desempenhar qualquer outra atividade.
MPS Ferlet::
Pois bem... Sabe quando bate aquela vontade de explorar um jogo novo, a gente até abre a caixa, folheia o manual... mas, ao se deparar com um texto de 20 páginas ou mais
, parece que um nó se forma nos pensamentos? É aquela sensação de "por onde começo?", seguida de um frio na barriga. Muitas vezes, essa etapa inicial — essencial para a diversão — acaba se tornando uma barreira tão grande que o jogo volta para a prateleira, ainda lacrado de expectativas. A verdade é que a complexidade não precisa ser um impedimento, e é aí que a teccnologia pode entrar como uma grande aliada.
"Por onde começo?"
Pelo mesmo lugar que você começaria a ler um texto de uma página só. Primeiro o título, depois a primeira linha do primeiro parágrafo da primeira página.
Assim como um livro de 100, 300, ou 600 páginas.
Já pensou alguém estar diante de um livro de X páginas e ficar se perguntando: "por onde começo?".
Considero que a barreira nunca é do jogo, e sim individual.
Penso que todos os meus amigos conseguem jogar "euros pesados", assim como todos os meus amigos também conseguem jogar "party games".
A questão é que em relação a alguns jogos eles vão ter
preguiça e desinteresse, enquanto para outros terão disposição e interesse.
Sempre leio comentários aqui no fórum e em outras comunidades dizendo "ah, mas esse jogo parece trabalho", "ah, eu só queria um jogo para relaxar", "ah, esse jogo é muito difícil".
Preguiça e desinteresse.
Tudo bem você estar em um dia preguiçoso, ou estar em um dia que você está mentalmente cansado, isso faz parte da vida adulta e é perfeitamente compreensível.
O meu problema é com quem é sempre preguiçoso e está sempre mentalmente cansado. Melhore.
Ler e compreender textos é algo que pode ser facilmente melhorado com treino e repetição. Entendo que iniciar por um manual de 30 páginas pode ser uma experiência ruim para alguns, ainda mais se tratando de um tempo dedicado ao lazer, mas ainda assim confio que essas pessoas conseguiriam entender o manual com um pouco de persistência e paciência. Se 30 páginas é muito para você, comece com um manual de 10 páginas, ou com um tamanho de texto que esteja confortável. Evolua aos poucos. Não assista vídeos de regras, não use IA para facilitar o trabalho que seu cérebro deveria estar fazendo. A conta dessa atrofia mental um dia chega.
Para finalizar, creio que seja importante não só apontar, mas também entender a causa dessa
preguiça e desinteresse.
Você possui um número elevado de jogos a ponto de ter que aprender um novo jogo cada vez que vai jogar?
Você compra lançamentos semanalmente e se sente na obrigação de aprendê-los para não deixá-los na "estante da vergonha"?
Você possui, na sua coleção, jogos que fazem parte do "top" de outras pessoas, e por isso não tem o mesmo interesse em colocá-los na mesa pois está se forçando a gostar desses jogos?
Você possui apenas jogos que considera excelentes? Ou também "precisa" colocar na mesa os ruins, medianos e bons de vez em quando para cumprir alguma agenda social?
Fazendo um comparativo rápido com jogos digitais, trago para a discussão o exemplo os jogos da linha Dark Souls.
Foram considerados, pela comunidade, extremamente difíceis, a ponto de originarem a denominação "souls like" que foi utilizada por vários outros jogos que vieram a partir destes.
Por que a comunidade considera esses jogos tão difíceis? Porque eles saíram do tradicional, que são jogos extremamente fáceis e diretos, feitos para te deixar feliz por um momento, até o ponto em que essa felicidade acaba e você precisa colocar dinheiro para continuar feliz.
Se você gosta de jogar vários jogos no computador, ao mesmo tempo, sem se dedicar em nenhum deles, creio que realmente o Dark Souls seja desafiador.
Agora, se você possui apenas o Dark Souls como seu único jogo, não tenho dúvidas que depois de um certo tempo dedicado a ele você se torne um expert.
Por quê?
Como é o seu único jogo, não vai ter
preguiça de jogar, além de não ter nada para tirar o seu
interesse nele.
Como eu disse anteriormente, não é uma barreira do jogo, é uma limitação individual sua.
Da mesma forma, com jogos de tabuleiro, se você quer abraçar todos eles ao mesmo tempo, a qualidade desse abraço vai deixar a desejar.
Para seguir no hobby de uma forma mais saudável é fundamental entender mais sobre você mesmo, definir os seus gostos (mecânicas e temas), estipular suas preferências e os seus reais interesses, e limitar a quantidade e a qualidade dos seus jogos. Assim, fica muito mais fácil de ter vontade de aprender e se dedicar aos jogos que possui, não abrindo espaço para a
preguiça e para o
desinteresse.
Não caia nas armadilhas de assistir vídeos de regras e utilizar IA para aprender jogos. O hobby é seu, não terceirize.