ChrisOliveira::"iuribuscacio está digitando..."
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LrzPlays e demais boardgamers
Meus amigos, na minha opinião, esse comunicado direto da editora gringa demonstra duas coisas.
Primeiro que board game é um mercado sério, que movimenta milhões, quiça bilhões, de dólares ao redor do mundo. Dito isso, não há muito espaço para amadores ou para espertos que se acham espertos, mas que não passam exatamente disso de amadores, ou melhor dizendo "espertos amadores". Claro que problemas existem em todos os mercados de board games do mundo, e quem acompanha sabe disso, mas em nenhum outro país, pelo menos até onde eu sei, ocorre absurdos nesse seguimento econômico como acontecem aqui.
Uma mera tradução mal feita e um projeto problemático com a editora local dando chilique, bem como com o engajamento sério e organizado de 150 boargamers, fez com que a toda poderosa Awaken Realms interviesse no mercado sul-coreano de jogos, na crise do Tainted Grail. E isso ocorreu anos atrás, e é só um exemplo. Do mesmo modo, muita gente aqui já escreveu para editora gringa pedindo reposição de jogo importado com defeito e recebeu uma cópia inteira do jogo, novinha em folha, só para compensar o incômodo. A editora não faz isso porque é "boazinha", mas sim porque lá fora a concorrência é atroz e as empresas sabem o valor e o preço de se manter uma boa reputação. É justamente por isso que a editora gringa do The Witcher Old World veio até o Ludopedia dar satisfações, assumir e resolver, um problema que nem era dela, ou seja, porque o mercado brasileiro tem um potencial enorme, e as editoras gringas não querem ter sua marca associada a verdadeiros vexames como esse do The Witcher Old World.
Por outro lado, parte significativa das editoras nacionais, principalmente as maiores, simplesmente cagam para sua própria reputação perante seus apoiadores e sacaneiam as pessoas, sem nem pensar duas vezes. Essa é apenas uma das medidas da distância do grau de profissionalismo entre o mercado de jogos internacional e o nacional.
A segunda coisa que esse comunicado demonstra, é que as próprias editoras gringas já sabem o quão amador, complicado e esculhambado é o mercado de jogos brasileiro. Como eu disse em outro tópico, se você é um mercado de jogos pequeno, você não pode se dar ao luxo de ser complicado (impostos exorbitantes, receita esquizofrênica e distribuição catastrófica). As editoras gringas vendem pouco, mas sem dor de cabeça. Do mesmo modo, se você é um mercado complicado, você não pode ser pequeno, porque com um mercado grande, as editoras têm dor de cabeça, mas vendem tanto que acaba compensando. Infelizmente, o mercado de jogos nacional é pequeno e um dos mais burocráticos e complicados do mundo. Mas não é só isso. Não bastasse o fato de sermos um mercado pequeno, com média de 2.000 a 3.000 cópias por jogo, e isso os que mais vendem (excluindo os party games que têm tiragens maiores), e ainda por cima, sermos um mercado complicado de atuar, nós ainda temos algumas editoras, que mesmo conseguindo trazer projetos internacionais para cá, atuam em um nível de amadorismo de cair o queixo. Uma prova disso é a quantidade de projetos que simplesmente não enviam jogos direto para cá, porque nós somos tão confiáveis quanto países em guerra, como a Ucrânia, ou em situação de conflito eminente como a Venezuela.
Eu acredito, ou pelo menos espero, que a Go on Board não vai riscar o Brasil da sua lista de potenciais compradores, especialmente se a Across de Board fizer um bom trabalho. Mas dá para ficar ressabiado, porque esse tipo de notícia se espalha, e outras editoras talvez pensem duas vezes se vale a pena incluir o Brasil nos seus projetos, quando a Conclave não contente em passar esse atestado de incompetência, segundo a própria Go On Board, está tentando dar um calote na sua própria parceira comercial. Eu não sei quanto a vocês, mas se eu fosse uma editora gringa, eu nunca mais deixaria um editora brasileira participar nem do projeto de tiragem mundial, para não atrasar e atrapalhar a campanha, junto às fábricas chinesas. E isso especialmente quando contribuímos com uma tiragem de meras 2.000 ou 3.000 cópias. Não adianta ter uma população de 215 milhões, com enorme potencial de crescimento, se na hora de participar de um projeto mundial de um board game, nós nos comportamos como se fôssemos do tamanho do Uruguai, ou do Suriname (sem nenhum desdouro tanto para um quanto para o outro, é apenas uma questão de tamanho mesmo).
E olha que eu nem cheguei na pior parte ainda.
O mais triste disso tudo é saber que hoje as pessoas estão indignadas com a Conclave, que muita gente está jurando que nunca mais compra nada dela (e eu acredito que alguns realmente farão isso, mas só alguns), e coisa e tal. Só que, como cantava o Chico Buarque, "amanhã, vai ser outro dia...", e isso funciona tanto para o bem, quanto para o mal. Vocês não tenham dúvida, que mesmo dentre aqueles que agora vociferam contra a Conclave, muita gente vai esquecer tudo isso que se sofreu com The Witcher Old World, e mais uma vez vão apoiar a editora, caso ela apresente um novo financiamento coletivo de um board game muito aguardado. Se a Conclave fosse a editora responsável por lançar, por exemplo, o Heat, o Sky Team, ou o Food Chain Magnate, ou o próximo "melhor board game de todos os tempos desse mês", quase ninguém estaria ligando para a cagada que ela fez com o The Witcher Old World.
Só para finalizar, porque já escrevi muito, basta lembra que a finada RedBox, fez uma cagada semelhante em termos de dano à sua própria reputação, no caso do Tsukiji, onde ela disse que o jogo já estava no porto, aguardando a liberação, quando o jogo nem tinha saído da China ainda. O navio com as cópias brasileiras naufragou no meio do caminho e aí não deu mais para esconder a mentira. Isso, somado ao prejuízo com o D&D 5ª Edição, entre outros problemas, na teoria seria o suficiente para fazer a empresa fechar as portas. Mas o que aconteceu?. Ela simplesmente foi anexada por um grupo internacional, mudou de nome para Buró e está aí "vivinha da silva". Não duvido nada que algo nesse nível possa acontecer com a Conclave.
Não custa repetir, se alguém não respeita a si próprio, mesmo que tenha de fazer sacrifícios para isso, não são os outros é que vão respeitar esse alguém, e se esse alguém é sacaneado repetidas vezes e não toma uma atitude a respeito, esse alguém continuará a ser sacaneado, até que faça algumas coisa.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
P.S. Boardgmers brasileiros - fazendo o papel de "mulher de malandro", desde 2013/2104!!!!