Seja bem vindo a um review de John Company, um jogo de intrigas, políticas e negociação

Antes de começar esse review, preciso declarar um conflito de interesse: John Company no momento atual é o meu jogo Top1, entretanto, buscarei no review ser o mais imparcial possível, então bora lá...
Em John Company você será o líder de uma família membro da empresa de mesmo nome do jogo, durante o período das Companhias das Índias Ocidentais e aqui sim, o tema é muito presente. Não só pelo fato histórico, casar com a mecânica mas quando a partida acabar e você parar para pensar tudo o que você fez pela ganância de ser o ganhador da partida, você entende o pensamento da época. Não importa se no oriente, você está escravizando um povo, levando o vício a outros, causando guerra e destruição, o importante é: você ser o dono de um império, viver o luxo extremo, ser "O aristocrata", custe o que custar. Traduzindo em outras palavras, o jogo te mostrará que o outro não importa, no contexto histórico que ele está colocado o outro nunca importou, é você e suas ambições sem limites causando danos diretos na sociedade a fora e dentro da empresa.
As mecânicas principais aqui é a rolagem de dados, sendo possível mitigar e muito a sorte aqui. Mas o jogo beneficia ao mesmo tempo que pune a aposta, quando mais arriscar maior será seu ganho, isso se soma com John ser um jogo político, econômico e de negociação intensa. Nesta parte é a grande ressalva do jogo, se a mesa/jogadores não comprarem esses 3 tópicos, o jogo não irá progredir, proporcionando uma experiência maçante... Dentro de todos o universo de jogos que eu já joguei, nunca vi nenhum jogo com tanta liberdade de negociação como aqui, praticamente você poderá negociar tudo o que tem, prometer cartas promissoras (que podem ser trianguladas com outros jogadores, em negociações futuras), entregar praticamente empresas inteiras para outros jogadores...
Mas tá, andes de continuar, preciso dar um panorama geral do jogo. Então como o jogo funciona em si, você não terá rodas fixas, ou seja, não é joga um e passa. São fases de ações, mostradas na periferia do tabuleiro seguindo uma ordem de realização.

A primeira fase, A Temporada Londrina, você aposentará (ou tentará) os membros da sua família nos cargos da empresa, aqui é onde a maior parte dos pontos do jogo vem, pois quando você aposenta alguém, você poderá pagar por certos tipos de casas, quanto mais janelas a casa tem (na época era algo de status social) maior será seu valor e maior será a quantidade de pontos que receberá. No primeiro turno ela é pulada pois o jogo nem começou e você nem teria como aposentar seus membros da família. Além da aposentadoria, é o momento de pegar as cartas de chantagem, que são um "take that" e as cartas de prestígio, são um passivo que você receberá junto de um "debuff", essas cartas só podem ser pega pelos jogadores que aposentaram, havendo um limite de 3 cartas disponíveis. Portanto, só os 3 que mais gastaram em aposentadoria podem pegar uma carta (apenas uma).
A segunda fase, chamada de "Família", todos os jogadores deverão fazer, onde basicamente você poderá comprar cotas da empresa para aumentar seu poder de influência, comprar imóveis que são passivos que te darão dinheiro ou influência de voto (explicarei mais para frente), colocar membros da sua família para guerra... Enfim, é uma preparação da sua família para ações futuras, que implicaram em seu lucro, influência e poder de barganha.
A próxima fase é a de contratação, onde os membros das famílias disponíveis serão designados para determinado cargo, pela escolha do Presidente da empresa, este quando vago é decidido pelos acionista da empresa, que são as pessoas que tem cotas compradas. Você não é obrigado a comprar cotas no jogo para estar presente em cargos, mas com elas é possível ganhar poder de barganha com outros jogadores, pois ser o Presidente é um dos cargos mais importantes do jogo, as decisões dele afetam de maneira mais direta e a curta prazo (podem também afetar a longo prazo), além de ser o cargo mais fácil de se aposentar, tematicamente é colocado como o cargo mais estressante do jogo.
A quarta fase é a de Operação da Companhia, onde cada cargo da empresa realizará a sua ação, aqui é onde geramos lucro para empresa e para a nossa família também, essa parte é a mais longa do jogo. Basicamente, exploramos a Índia, abrimos novas rotas comerciais, iniciamos saques, aumentamos a frota da compania... Enfim, são várias ações. Aqui é onde rolamos os dados de maneira mais intensa, essa rolagem funciona da seguinte maneira: resultados 1 e 2, sucesso e voce realiza a ação, 3 e 4 falha pode realizar ação novamente pagando, 5 e 6 falha crítica recebe punições severas (geralmente) e sua ação acaba. Você poderá mitigar a sorte aumentando o número de dados, esse poderá ser feito pagando mais dinheiro, de maneira simplicada, cada 1 de dinheiro pago mais 1 dado será acrescentando, basta um dar sucesso para você realizar a ação. Dentro do seu tabuleiro individual, tem as porcentagens de sucesso conforme o número de dados, por isso que digo que não é um jogo de aposta e sim o quanto você está disposto a apostar!
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A quinta fase: Bônus, você receberá alguns passivos, portanto, é a fase mais simples, não há muito o que ser dito.
Prosseguindo, Receita, é o momento da empresa pagar duas dividas e possíveis dividendos aos acionistas, é um dos momentos cruciais. Se não houver dinheiro suficiente a empresa poderá quebrar e o jogo chegará ao fim. A falência da empresa eu pretendo descorrer sobre ela mais a frente.
Agora sim, o momento mais complexo do jogo: Eventos na Índia. Já adianto, o manual não ajuda (não é culpa da tradução). Não é extremamente complexo como muitos colocam e também não é o caótico/imprevisível. A MAIORIA esquece de uma carta que vem no jogo dizendo quais são as possibilidades do que está por vir, de a cordo com cada carta do topo do baralho. Neste momento do jogo, rolaremos um dado diferente, que vai determinar onde acontecerá alguns eventos na Índia, esses eventos são determinados por tiles com resultado escondido, mas como eu disse anteriormente podem ser deduzidos ou especulados. Aqui é onde vejo que para a maioria dos jogadores é o problema, com frases que já escutei do tipo: a empresa quebra do nada. Veja, realmente ela pode quebrar aqui, mas é geralmente por que a maioria quis encher o bolso de dinheiro e não se preparou para as batalhas que aqui podem surgir. Entretando, eu não vejo isso como problema, se os jogadores querem um planejamento a curto prazo e ficar cheio de dinheiro as custas da falência eminente, para mim faz parte do jogo. Mas eu geralmente, oriento os jogadores mais novos antes, para se previnirem do que está por vir.
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As Sessões Parlamentares, são a penúltima fase do jogo, onde o primeiro ministro colocará para voto uma lei que entrará em curso. Neste momento do review aqui será a minha única comparação com outro jogo. No Hegemony que muitos o colocam como jogo político e de leis, gostaria de dizer que discordo fortemente, pois em aqui sim há uma política e leis que mundam o jogo, a dirença entre eles é que Hegemony é um jogo com política (rasa por sinal) e aqui é um jogo de política. Então veja, as políticas votadas no Hegemony mudam sua estratégia, no John mudam o jogo, as vezes acrescetam novas fases, mudam ações, portanto, o jogo inteiro pode mudar aqui. Caso a votação da política seja negativa, o primeiro ministro perde seu cargo e umas taxações são aplicadas de acordo com a decisão da lei colocada por voto do primeiro ministro. Ou se aprovada, ele se mantem no poder, a lei entra em vigor e taxações também serão aplicadas.

Por fim, Manutenção e Atualização, sendo a última fase para ajeitar o tabuleiro para a próxima rodada.
O jogo acabará de acordo com a rodada limite do cenário ou se a empresa faliu, novamente se falir o jogo acaba imediatamente.
Então veja, acima eu fiz um resumo sobre o jogo, acredito que já é possível perceber sua complexidade, mas também se ele pode ou não te agradar!
Acredito eu que John é um jogo tático em suas primeiras partidas, você sentirá que está apenas respondendo a mesa, assim como, pode parecer muitas vezes que um King-Making esteja rolando. Mas em uma segunda ou terceira partida você já percebe as nuances. É importante você perceber a malicia, se impor, chantagear, NEGOCIAR... É assim que jogo crescerá e se tornar divertido, por mais longa que seja a partida. A média que tenho de partida é de 6 horas, isso é inviável para muitos e não acho que seja interessante parar o jogo que continuar em outro dia, ele deverá ser jogado em um mesmo momento. O número ideal de jogadores que eu achei é realmente 6, mas em 5 já excelente, 4 sinto que negociação fica um pouco fraca. A quantidade de player não implica diretamente ao tempo de jogo, pois o jogo "não tem downtime", pois você mesmo que não esteja fazendo uma ação está jogando.
A fase da índia é um dos momentos que mais incomoda, geralmente pela dificuldade (que é real) de enterder como ela funciona. Muitas pessoas, chegam para jogar aqui já tendo experiência no jogo, quando eu dou uns toques, explico esta fase corretamente, sempre me falam que o jogo muda no conceito, que faz sentindo a lógica por trás. Não gosto de ficar dando pitaco na jogada dos outros, mas sinto que em um primeiro contato, aqui é importante dar noções futuras do que virá pela frente dependendo da ação do jogador.
Outro tópico sensível do jogo e o "Calcanhar de Aquiles" para muitos, é a falência da empresa. Ela termina o jogo de maneira subida e você abre uma carta que pode mudar completamente a pontuação. Eu acredito que o motivo da carta, que muitos não gostam e justamente para você como jogador não achar ser interessante quebrar a empresa como uma ação corriqueira, mas sim ser um All-in, como uma possibilidade de vitória não garantida. Isso, deve ser levado pro jogo inteiro, em uma balança de quando vale a pena arriscar ou se deve-se jogar sempre de maneira segura.
Sobre a fase de votação, acho uma representação muito boa da realidade. A votação não é feita, por cada jogador tem 1 poder de voto, ou você compra votos ou você usa suas influências que construiu ao longo do jogo.
Um aspecto a ser levado em conta é o visual, o jogo para mim é lindo e muito elegante, as imagens da época como quadros, os desenhos cartunescos que também são temáticos. Os componentes são impecáveis, todos de materiais muito bons. O tabuleiros mesmo sendo grande, pode ser um pouco confuso e poluído em um primeiro momento. A caixa também é um desbunde para mim, por fora extremamente elegante e no seu interior com uma arte linda... Acho que aqui é "chover no molhado", pois todos os jogos da Wehrlegig estão em um outro patamar.
Agora sobre o "core" do jogo, eu gosto muito da liberdade que é dada na negociação, no manual há uma lista do que não pode ser negociado e são pouquíssimas coisas. Você negocia, traí, se sente traído, tenta dar passos maiores que a perna e vai arcar com as consequências disso, não só você, toda a mesa. Suas ações, falas, jogadas, parecem que reverberam até o final da partida. Como um jogo evento tem que ser!
Se você não está disposto a interagir, constantemente, praticamente em todas as ações esse não é um jogo para você e tá tudo bem!
Mesmo contando tudo isso e sem jogar os cenários com a companhias privados, John já era meu Top1 entretendo, no momento que joguei com essa mecânica (chamada de: Desregulamentação), tudo mudou, o jogo escalonou em um outro patamar para mim. Muitos provavelmente nunca jogarão com esse "módulo", pois o jogo é já muito complexo, mas é nele que está a experiência suprema do jogo. Ao mesmo tempo que não muda muito as regras, o jogo como é jogado vira do avesso. Para mim, parece que os jogadores ficam mais gananciosos, mais ferozes pela sua ascensão!
Por fim, gostaria de compartilhar como era para mim, o final de cada partida deste jogo. Eu sempre olhava retrospectivamente e pensava, eu fiz tudo isso: causei guerras, traí, levei o vício e coloquei impérios no chão... Tudo por mim. Isso me refletia sobre o momento histórico do jogo, pois tudo isso realmente aconteceu e por mais absurdo que seja, em um momento lúdico eu repetia a história da humanidade em um dos seus piores momentos...
Isso tudo pra mim é John Company!
Muito obrigado por ver esse review, espero que ele te ajude na decisão de jogar ou não este jogo!
Atenciosamente, Lucas Ortiz