A gigante da fabricação de jogos de tabuleiro Panda declarou que pretende manter sua nova operação de produção no Brasil, apesar de sua primeira expansão fora da China ter sido imediatamente impactada por um anúncio surpresa dos EUA de tarifa de 50%.
O BoardGameWire revelou no mês passado que a Panda havia firmado uma parceria com a empresa brasileira de impressão e embalagens Kawagraf, oferecendo às editoras de jogos de tabuleiro a possibilidade de contornar a altamente volátil situação tarifária entre EUA e China e, em vez disso, aproveitar a taxa de tarifa de 10% aplicada pelos EUA ao Brasil.
No entanto, esse plano foi frustrado apenas um mês depois, quando Trump ameaçou impor uma tarifa de 50% ao Brasil a partir de 1º de agosto, a menos que o país encerrasse o julgamento por "caça às bruxas" contra o ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, acusado de participação em uma tentativa de golpe para reverter o resultado da eleição presidencial de 2022.
As tarifas dos EUA sobre produtos chineses chegaram a atingir 145% antes de uma "pausa" de 90 dias acordada em abril, e atualmente permanecem elevadas, em 30%. O prazo para que a China chegue a um acordo antes que essa taxa possa ser aumentada novamente foi definido para 12 de agosto.
O CEO da Panda, Michael Lee, disse ao BoardGameWire: "Tenho que dizer que estamos nos acostumando com decisões políticas repentinas e dramáticas desta administração dos EUA.
Obviamente isso altera a atratividade de produzir jogos no Brasil com o propósito de exportá-los para os EUA.
No entanto, desde que as tarifas EUA-China foram reduzidas de 145% para 30%, vimos um grande aumento no volume de negócios para jogos feitos na China, e temos apenas um número pequeno de jogos sendo produzidos atualmente no Brasil, então o impacto de curto prazo tem sido bastante pequeno.
Esperamos que no futuro o arranjo tarifário entre os EUA e o Brasil se torne mais favorável. Jogos produzidos no Brasil para o mercado sul-americano não são afetados por essa notícia, e esse foi um dos principais motivos para nossa expansão no Brasil."
Lee contou ao BoardGameWire no mês passado que a Panda vinha planejando expandir sua produção além da China desde o primeiro governo Trump, e havia considerado parcerias nos EUA, Europa e outras partes da Ásia.
Segundo ele, a escolha do Brasil se deu por conta de sua "indústria gráfica e de embalagens altamente desenvolvida, junto com uma cadeia de suprimentos robusta e integrada para matérias-primas", o que faz do país "um local ideal" para produzir componentes centrais como caixas, tabuleiros e cartas.
Lee acrescentou que a parceria também abre oportunidades de crescimento no continente sul-americano, graças aos acordos de livre comércio entre os países do bloco MERCOSUL.
Na época, ele afirmou: "O Brasil tem o maior mercado de jogos de tabuleiro da América do Sul e abriga editoras notáveis como Galápagos Jogos, Grok e Paper Games.
A Argentina e a Colômbia são as segunda e terceira maiores economias do MERCOSUL. Embora ambos os países tenham acesso limitado a jogos de tabuleiro, existem comunidades locais de jogadores.
Dadas suas grandes populações e culturas sociais, acreditamos que há um potencial não explorado para expandir nosso hobby nesses mercados.
Embora o Chile não seja membro do MERCOSUL, Santiago tem uma comunidade de jogos vibrante e abriga a feira Ludifest.
Algumas editoras locais, como a Fractal Juegos, também obtiveram sucesso internacional. Em um esforço para ampliar nossa presença na América Latina, a Panda contratou recentemente seu primeiro gerente de projetos hispanofalante, com base em Santiago."
Esse aspecto do acordo ganhou muito mais relevância após a ameaça de tarifa de 50%, e Lee confirmou ao BoardGameWire que a Panda pretende continuar sua parceria com a Kawagraf, embora tenha destacado que a operação ainda está em estágio inicial e não possui "um grande volume de pedidos por enquanto".
Ele disse: "Com o mercado sul-americano em crescimento, estamos confiantes de que teremos volume de negócios suficiente para sustentar a operação.
É possível que os acordos comerciais entre EUA-China ou EUA-Brasil mudem fundamentalmente no futuro, e ao termos uma opção alternativa de produção para nossos clientes, conseguimos mitigar alguns desses riscos.
Se as tarifas sobre a China subirem ou se as tarifas sobre o Brasil caírem, a equação pode mudar da noite para o dia, então precisamos estar preparados."
Entre os clientes da Panda afetados pelo aumento da tarifa sobre o Brasil está a editora Fort Circle Games, responsável por
Votes for Women, que havia firmado acordo com a Panda para produzir seu novo título,
The Halls of Montezuma, na fábrica da Kawagraf.
A Kawagraf, que fornece embalagens de papelão para bens de consumo como alimentos, bebidas, escovas de dente, pilhas e produtos de beleza, já produziu jogos como
Zombicide,
Exploding Kittens e
The Mind.
Fonte:
https://boardgamewire.com/index.php/2025/07/15/board-game-maker-panda-to-stick-with-new-brazilian-expansion-deal-despite-trump-threatening-country-with-50-tariff-rate/