Olá, pessoal. Tudo certo? Segue uma crítica rápida sobre o TES: Betrayal of the Second Era (jogo base, versão EN) e algumas considerações diversas.
Componentes
Pra quem já conhece os jogos da Chip Theory, nada diferente aqui. Pra quem não conhece, saiba que o neoprene dos tiles é de boa qualidade, embora não seja tão grosso quanto o de alguns playmats e mousepads mais caros vendidos por aí. As cartas de PVC são de excelente textura, mas bem finas e maleáveis, não são tão grossas e rígidas quanto as de um baralho de plástico comum (esses de naipe). Como são finas e deslizam facilmente, convém tomar cuidado ao pegar um tanto de uma vez pra não cair tudo da mão. Todas as fichas de personagem e inimigos (e as fichas premium de vida compradas à parte) têm uma fina camada de metal dentro, então elas podem ser atraídas por imãs. Os dadinhos são bons de pegar e têm +- 15mm, não chegam a ter 16mm como os dados “padrão” do mercado não.
O jogo também já vem com as mini caixas pra guardar os componentes separadamente. As caixas de guardar as cartas e folhas de raça/classe/habilidades são de papelão de boa qualidade com textura encerada. As caixinhas dos tiles, dos dados e dos tabuleiros dos personagens são de um plástico maleável, porém firme o bastante pra não estragar se você mexer com cuidado. Já as caixas das fichas de personagens/inimigos/vida e o expositor de cartas são de acrílico rígido, bem resistentes.
Embora não seja um jogo caótico em termos de componentes, uma mesa de 150 cm X 80 cm (como a minha) fica no limite do confortável pra jogar em 2 jogadores. Com mais pessoas, recomendo uma mesa de pelo menos 160 cm X 100 cm pra organizar tranquilamente o jogo de uma forma em que todos os jogadores fiquem confortáveis e todos os componentes sejam expostos de forma folgada.
Narrativa
A narrativa das missões/encontros tem ganchos narrativos que te fazem imaginar e querer saber mais sobre os acontecimentos, e no geral é “amigável pra família”, isto é, não tem nada muito violento, melancólico, erótico etc. Algumas poucas histórias são até mais puxadas pro humor. Algumas missões das guildas geram efeitos futuros a depender de escolhas feitas em momentos-chave da história, enquanto as missões secundárias e os encontros costumam ser resolvidos rapidamente e não se desdobram em acontecimentos futuros, com raras exceções. A quantidade de texto no jogo tá na medida certa, longos o bastante pra contextualizar a situação e atiçar a imaginação, mas sem tentar ser literatura, sem firulas poéticas, linguagem rebuscada e tal.
As campanhas ocorrem com 3 aventuras (sessões) em conjunto, o que torna o jogo menos “épico” do que jogos de campanhas gigantes, por exemplo Frosthaven, mas mais realista pra grande maioria dos jogadores que carecem de tempo sobrando e de amigos pra se reunirem por várias vezes pra jogar o mesmo jogo. A estrutura de “mini campanhas” as torna mais rejogáveis do que uma “mega campanha” também.
Vale ressaltar que cada campanha do Betrayal leva +- 10h pra terminar e que cada província de Tamriel tem 9 inícios diferentes de campanha, o que no fim das contas resulta em +- 450h de jogo “diferente” apenas com o material do jogo base.
Combate
O combate da regra base já envolve um certo grau de tática, mas não é nenhum simulador militar, e sim algo que um pré-adolescente já consegue resolver. As ações dos inimigos são bem básicas, todos vão mover a mesma quantidade (até 2 hexágonos) e atacar com os mesmos dados. Acho que nesse ponto faltou um pouco mais de profundidade, talvez as brigas ficassem ainda mais divertidas se tivessem sido acrescentados modificadores referentes a, por exemplo, cobertura e diferença de altura. Contudo, novas opções oficiais de dificuldade prestes a serem lançadas adicionarão novas camadas de desafio, por exemplo com ordem de iniciativa baseada na habilidade Combate, movimentação variada para inimigos e otimização da escolha de alvos dos inimigos. Quando saírem as alterações e eu testá-las, atualizo essa parte da crítica.
Considerações diversas
A caixa do jogo base é pesada, tem +- 10,5 kg. Se somar a expansão Valenwood e as fichas premium de vida, esse peso vai pra +- 12 kg, o que faz com que o jogo não possa ser armazenado em qualquer prateleira.
Embora haja um livro de arte oficial do Betrayal, caso você queira algum material que tenha arte, mas foque mais no conhecimento do universo Elder Scrolls, recomendo os 2 livros “Tales of Tamriel”, que compilam vários textos presentes no jogo TES Online, que se passa na mesma época do Betrayal dentro da cronologia do TES. Esses textos podem ser achados gratuitamente nos sites de fandom, mas nos livros eles são organizados por tema e, como mencionado, são ilustrados.
No momento desse texto a Chip Theory já confirmou que pretende lançar muuuuuita coisa pro Betrayal ao longo dos próximos anos, mas a editora brasileira ainda não confirmou que traduzirá os próximos materiais. Portanto, pra quem pretende investir no jogo e não gosta de conteúdo com idioma misturado, talvez a cópia em inglês seja uma boa opção, apesar de mais cara quando fora de promoção (na data desse texto a expansão Valenwood importada está em promoção por +- 2/3 do valor da edição PTBR na pré-venda).
Veredito
Feitas as ressalvas acima, TES Betrayal é atualmente meu jogo de tabuleiro favorito e, na minha opinião, um “clássico instantâneo” com o mesmo potencial de ser tão significativo no futuro quanto um Mage Knight é hoje. Está no mesmo patamar que outros grandes dungeon crawlers, por exemplo Frosthaven, Arydia e Oathsworn. Tem um pouco de tudo que eu gosto em jogos desse gênero: boa narrativa, bom combate, boa exploração, campanhas rejogáveis, excelentes componentes, regras relativamente tranquilas, grande potencial de regras pessoais sem quebrar as mecânicas principais e enorme potencial pra lançamento de mais conteúdo no futuro, o que tende a deixar o jogo “infinito” e passível de ser jogado por décadas. Tomara que a edição PTBR venha com boa tradução e que os próximos materiais continuem sendo traduzidos. Quem quiser tirar alguma dúvida específica, só perguntar aqui ou no privado.
Obrigado!