STEAMPUNK RALLY (por Thiago Boaventura)
Jogo de um até então desconhecido designer canadense, lançado em 2015, Steampunk Rally é uma grata surpresa. O tema trata sobre uma espécie de “corrida maluca”, onde inventores históricos como Einstein, Tesla, Santos Dumont, etc., partem para uma pista de corrida cheia de perigos, colocando suas geringonças para andar (ou voar) mais rápido que os concorrentes. O detalhe temático é que os cientistas constroem ao mesmo tempo em que pilotam suas máquinas, o que parece estranho, mas garante uma atmosfera muito divertida ao jogo.

Não obstante a regra ser relativamente tranquila e intuitiva, dada a inexistência de muitas exceções, mecanicamente, temos bastante coisa a comentar. Vamos lá.
Os turnos começam com um draft alá 7 wonders, com a diferença de que aqui você usa as cartas para fazer alguma coisa (construir novas partes da máquina, pegar recursos, engrenagens, poderes especiais, etc.), enquanto no 7 wonders você apenas as posiciona na sua frente.
O jogo também trabalha com alocação de dados, os quais são obtidos no draft e, depois de rolados, podem ser inseridos na respectiva máquina, a fim de obter outros dados ou, ainda, pontos de movimento que fazem avançar na corrida.
Nesse ponto, é interessante notar certa inovação no uso dos dados. Não basta apenas alocar dados como em qualquer jogo desse estilo. O jogador também precisa ser capaz de DESALOCAR os dados para novas alocações futuras. Ou seja, uma vez posicionado, o dado permanece lá até que o jogador consiga liberar novamente o espaço. Isso é feito por meio do uso de outro tipo de recurso: as engrenagens. Quanto mais alto o número rolado, mais engrenagens serão necessárias gastar para desalocar o dado.
Então, não é uma mera mecânica de alocação de dados, mas sim uma verdadeira administração desses componentes.
O jogo foi muito bem pensado nessa questão do aproveitamento de boas e más rolagens de dados, o que é essencial para esse estilo. Tanto números altos, quanto baixos, podem ser bons ou ruins a depender da situação da máquina de cada jogador.
Além disso, existe o aspecto espacial (ou geométrico), que pode lembrar vagamente o Galaxy Trucker. A montagem das máquinas deve seguir uma lógica típica de jogos de tile placement. As cartas que usamos para construir têm conexões que devem ser avaliadas na hora de acoplar mais um compartimento. A decisão não é simples porque a construção de uma extensa máquina de corrida faz você abrir mão de obter dados imediatos, úteis para ativar a estrutura que o jogador já dispõe.

E ainda resta lembrar que tudo acontece enquanto se está disputando uma verdadeira corrida. Essa parte também está bem cuidada, porque nada mais chato do que um jogo de corrida que permite a um jogador disparar na frente, antecipando a vitória. Para garantir que o negócio vai ficar divertido e empolgante até o final, o jogo dispõe de algumas cartas interativas que, para desespero de alguns, podem gerar algum caos à partida.

Mesmo com essa pitada de imprevisibilidade, Steampunk Rally ainda consegue ter uma estratégia envolvente. Cada personagem tem poderes assimétricos, o que faz querer buscar a especialização em algum atributo. É o tipo de jogo que te força a um pensamento estratégico bastante flexível. A ideia é claramente construir uma estratégia aos poucos, no decorrer da partida, tendo que rever e adaptar os planos cada vez que uma peça é destruída ou a depender do que se consegue no draft.
Considerando que as ações são resolvidas simultaneamente, a interação se concentra mais no draft de cartas e no aspecto corrida que o jogo é baseado. A interação seria mediana, se não fosse o fato já mencionado de que algumas cartas seguem uma linha caótica de mudar as condições da partida, dando um tempero à disputa.
A proposta é ambiciosa, pois ainda permite que 8 jogadores participem da partida. As ações simultâneas sempre economizam bastante tempo, motivo pelo qual não se trata de nenhum devaneio da editora jogar com este número elevado de jogadores.
Entretanto, considerando que a resolução da alocação de múltiplos dados podem deixar os jogadores confusos, recomenda-se ponderar se é melhor encher a mesa com esse tanto de jogador.


Pontuação: ruim, regular, bom e ótimo!
Implementação do tema: ótimo!
Elegância das regras: bom.
Mecânicas: ótimo!
Interação: bom.
Fator tático: bom.
Fator estratégico: bom.
Fator sorte: bom.
Fator diversão: ótimo!
Tempo de partida: ótimo!
* Com apenas duas partidas disputadas, não consegui enxergar desvantagens relevantes no jogo. Por isso, vou precisar adaptar minha forma usual de fazer resenha para apenas inserir alerta sobre quais pontos tendem a ter mais discordâncias, não necessariamente eu reconhecendo como sendo desvantagens.
Cuidado: eventos caóticos disparados pelos jogadores; presença de elementos fiddly: resolução trabalhosa das ações, com vários poderes e elementos a considerar, o que pode acabar alguém fazendo uma leitura errada da jogada; possibilidade de combos que desequilibrem a partida; elemento sorte típico de um jogo com draft de cartas.
Vantagens: regras intuitivas; tema original e divertido; mecânicas bem integradas com o tema, além da presença de boa originalidade no uso dos dados; estratégia flexível em que o jogador precisa sempre balancear decisões táticas com estratégicas; bom custo-benefício de tempo pela quantidade de jogadores; boa escalabilidade quanto ao número de jogadores.
VEREDITO: tenho bastante vontade de jogar e certamente indicaria para a mesa.