lucasfwb89::MuCiLoN::
Nota: Endeavor, embora um tanto raso tematicamente em sua execução, talvez seja outro jogo que não apagou a existência da escravidão ou deu contornos mais suaves (como talvez alguns jogos brasileiros, por exemplo, insistam em fazer).
Esse "talvez" foi um dos usos de advérbios mais gentis que eu vi na vida kkkkkkkkk
Sobre a reflexão, é este o ponto mesmo. Existe muito revisionismo histórico pra continuarem contando as histórias sobre conquistas, colonizações e as "lambanças" oleosas de expandir os impérios (quase sempre eurocentrados). Ainda que falem que tá chato essa discussão "woke" como se isso fosse o normal, a realidade do mercado é que pra cada um jogo com tema "ideológico chato", existem novos 300 _jogo_genérico_sobre_exploradores. Não teria Freedom porque hoje creio mais na exaltação da cultura do que na lembrança das cicatrizes do passado, mas entendo seu ponto sobre o valor histórico do jogo. Acho que este "destino velado" que você sugere dele diz muito sobre o objetivo de tentar garantir o entendimento do que se trata o perfil do Freedom. Hoje, Lúdico engloba aprendizado tanto quanto diversão, então a simulação pode ter por objetivo o aprendizado, independente do quão doloroso possa ser. Fico feliz de ver cada vez mais discussões como esta tomando conta dos forúns da Ludopédia, mesmo dentro de um hobby majoritariamente racista, machista... (e segue a lista, infelizmente). Parabéns por trazer à tona este tipo de problemática.
Acho que é por aí. O teu ponto de vista é interessante (sobre a questão de cicatrizes) pois uma possibilidade de análise é que Freedom possa ser um jogo, embora correto e respeitoso no que faz, ainda assim um jogo feito para pessoas não-negras.
Ou seja, é possível que pessoas negras, conforme tu colocaste, prefiram jogos que exaltem a cultura e/ou deem protagonismo fora da discussão racial.
Em outras palavras, Freedom muitas vezes é criticado por não ser uma celebração da comunidade negra, mas sim o ponto de vista de pessoas da elite (-inclusive outras pessoas negras mas que eram livres e com condições) que se solidarizaram e lutaram pela causa abolicionista.
O jogo ignoraria, por exemplo, que há um universo além da problemática racial a ser explorado e vivenciado em jogos de tabuleiro com pessoas negras.
Ainda assim, acredito que o jogo nunca quis para si esse papel (de dialogar e ser um jogo inserido na comunidade que ele pretende se solidarizar), mas não gosto muito desse argumento pois é o mesmo utilizado em outros jogos:
"Não falaremos sobre escravidão na época desse jogo pois não é nossa intenção problematizar esse tema. "
What? Haha
Me parece que a intenção de Freedom sempre foi de informar, rememorar e instigar personagens e eventos desse período da underground railroad, sem a pretensão de ser um jogo visto sob a ótica de quem foi explorado e morto no processo. Eu diria que isso é uma falha, contudo que não invalida o fato do jogo conseguir fazer a sua denúncia e seus questionamentos sem ser panfletário e ainda assim ser um jogo desafiador.