dyupon::Meu irmão sempre teve um talento especial para me irritar nas horas mais impróprias. Ele nunca se interessou muito pelos jogos de tabuleiro em si, mas sabia que eram meu refúgio favorito. Minha coleção era motivo de orgulho: tudo catalogado, cartas plastificadas, peças organizadas por cor, tipo, e até frequência de uso. Um verdadeiro santuário de estratégia e imaginação.
Numa tarde chuvosa, enquanto eu organizava um novo jogo que tinha acabado de chegar — uma edição limitada que misturava ficção científica com táticas militares — ele entrou no quarto com aquele sorriso travesso. Não desconfiei de nada. Saí por alguns minutos para buscar um lanche e, quando voltei, levei um susto. Ele tinha juntado todas as cartas de todos os jogos que eu possuía, embaralhado tudo e espalhado como se fosse uma obra de arte caótica. UNO, Agrícola, Citadels, Spellbook, entre outros, tudo misturado numa sopa visual de pura desordem.
"Agora você pode criar um jogo novo", ele disse, rindo. Mas eu sabia que era só uma provocação. Passei horas tentando reordenar tudo. No meio da frustração, comecei a reparar em algo estranho. Algumas cartas pareciam diferentes. Eram de um material mais rígido, com um brilho metálico e símbolos que eu nunca tinha visto. Talvez fossem de alguma expansão esquecida… ou algo que ele mesmo criou?
Conforme fui recolhendo as cartas estranhas, o ambiente ao meu redor começou a mudar. A luz piscou, o ar ficou mais denso. Uma das cartas emitiu um som agudo, quase imperceptível. De repente, todas as cartas no chão se alinharam sozinhas, formando um padrão geométrico complexo. Corri para a janela, sentindo um calafrio. Vi o que parecia ser uma aeronave não tripulada pequena passando rápido, logo atrás uma espécie de exoesqueleto metálico armado com uma metralhadora, de repente, um estrondo ensurdecedor seguido de um clarão. Era o início da era das máquinas.
Continuando...
---
Por um segundo, congelei. Meu cérebro tentava processar se aquilo era real ou fruto da minha imaginação alimentada por anos de ficção científica. As cartas no chão tremeluziram, e o padrão que formavam começou a se abrir no centro, como se fosse um portal digitalizado. De dentro, um feixe de luz azul projetou hologramas de mapas, códigos binários e... rostos. Rostos que eu não reconhecia, mas que me encaravam como se me conhecessem há muito tempo.
— "Iniciando protocolo de transferência de comando." — uma voz metálica ecoou, sem fonte aparente.
— Que... que comando? — gaguejei, olhando em volta, tentando entender se aquilo era algum tipo de pegadinha do meu irmão.
Foi então que percebi: ele não estava mais no quarto.
— "Identificação genética confirmada. Herdeiro da Linha Primária encontrado."
As cartas flutuaram, rodeando meu corpo em uma espiral. Cada uma se encaixava em outra, formando algo que parecia um tabuleiro tridimensional flutuante. No centro, uma peça dourada brilhava: uma miniatura de uma torre, mas com antenas, canhões e painéis solares.
De repente, a porta do quarto se abriu com um estrondo. Era meu irmão, segurando uma tigela de pipoca, olhos arregalados.
— Cara... o que você fez?! Eu só queria te zoar... — ele disse, mais assustado do que arrependido.
O chão tremeu novamente. Pela janela, agora não era só uma aeronave. Uma frota inteira de drones cruzava o céu, como se estivessem procurando por algo — ou por alguém.
O tabuleiro flutuante piscou três vezes, e a voz metálica voltou:
— "Comandante, sua primeira missão: escolher. Defesa... ou ataque."
Olhei para meu irmão, que estava pálido.
— Cara... acho que agora você realmente me tirou do sério. E do planeta também...
---
Como essa história irá acabar?