Meu irmão sempre teve um talento especial para me irritar nas horas mais impróprias. Ele nunca se interessou muito pelos jogos de tabuleiro em si, mas sabia que eram meu refúgio favorito. Minha coleção era motivo de orgulho: tudo catalogado, cartas plastificadas, peças organizadas por cor, tipo, e até frequência de uso. Um verdadeiro santuário de estratégia e imaginação.
Numa tarde chuvosa, enquanto eu organizava um novo jogo que tinha acabado de chegar — uma edição limitada que misturava ficção científica com táticas militares — ele entrou no quarto com aquele sorriso travesso. Não desconfiei de nada. Saí por alguns minutos para buscar um lanche e, quando voltei, levei um susto. Ele tinha juntado todas as cartas de todos os jogos que eu possuía, embaralhado tudo e espalhado como se fosse uma obra de arte caótica. UNO, Agrícola, Citadels, Spellbook, entre outros, tudo misturado numa sopa visual de pura desordem.
"Agora você pode criar um jogo novo", ele disse, rindo. Mas eu sabia que era só uma provocação. Passei horas tentando reordenar tudo. No meio da frustração, comecei a reparar em algo estranho. Algumas cartas pareciam diferentes. Eram de um material mais rígido, com um brilho metálico e símbolos que eu nunca tinha visto. Talvez fossem de alguma expansão esquecida… ou algo que ele mesmo criou?
Conforme fui recolhendo as cartas estranhas, o ambiente ao meu redor começou a mudar. A luz piscou, o ar ficou mais denso. Uma das cartas emitiu um som agudo, quase imperceptível. De repente, todas as cartas no chão se alinharam sozinhas, formando um padrão geométrico complexo. Corri para a janela, sentindo um calafrio. Vi o que parecia ser uma aeronave não tripulada pequena passando rápido, logo atrás uma espécie de exoesqueleto metálico armado com uma metralhadora, de repente, um estrondo ensurdecedor seguido de um clarão. Era o início da era das máquinas.