Claro! Aqui está um texto com o mesmo tom irônico e ácido, agora voltado para o outro lado da moeda — os jogadores que fogem de jogos pesados como se cada manual fosse uma convocação pro vestibular da Fuvest:
Aviso: este texto contém ironia densa, mais pesada que um jogo do Vital Lacerda em alemão. Não recomendado para quem acha que regra é palavrão.
Existe um tipo igualmente peculiar no universo dos board games. Uma criatura solar, animada, sorridente — até o momento em que você menciona a palavra
“manual”. Pupilas dilatam. O suor frio começa. “Quantas páginas tem?” pergunta, já com a caixa na mão. A resposta pode variar, mas se passar de 8 páginas, o jogo vai direto pra prateleira do trauma, entre
Diplomacy e “aquela vez que tentaram me explicar
Terraforming Mars”.
Esse jogador quer diversão instantânea, de preferência com regras explicadas em 5 minutos e reexplicadas a cada rodada. Começou a ouvir palavras como “draft”, “engine building” ou “alocação de trabalhadores”? Já procura a saída de emergência. Fase de manutenção? “Ai, que burocrático…” Setup que dura mais do que abrir um UNO? “Tô fora.”
Mas o mais curioso é que ele se orgulha disso. Como se a recusa em jogar algo que exige mais do que 15 minutos de atenção fosse uma prova de sanidade. “Eu jogo pra relaxar”, diz, enquanto grita com o amigo por ter trocado uma carta errada no
Dobble. E tudo bem, jogar pra relaxar é legítimo. Só não vem bancar o mártir do entretenimento quando alguém sugere
Brass.
Jogos com profundidade? “Ah, muito complicado.” Planejamento de longo prazo? “Pff, prefiro ver o que rola.” Rodadas em silêncio estratégico? “Sem graça, ninguém conversa.” Porque, no fundo, o medo não é do jogo ser difícil. O medo é de parecer
bobo. De não entender de primeira. De ser o último a sacar a mecânica. Porque, diferente do outro tipo, esse aqui não quer parecer inteligente. Ele só quer garantir que ninguém perceba que talvez… precise pensar um pouco mais.
Esses são os jogadores que, diante de um euro game complexo, preferem disparar uma piada do que fazer uma jogada. “Ué, pra que serve esse cubinho aqui?” — e repete isso toda vez que está perdendo. Rejeita o jogo, mas quer rir dele. Como se zombar do peso fosse uma desculpa aceitável pra não aprender a jogar. Porque perder num jogo leve? Dá pra rir. Mas perder num jogo difícil? Aí machuca.
É o equivalente lúdico do adulto que se orgulha de nunca ter lido um livro inteiro. Que diz que “filme com legenda é chato” e que “dicionário é só pra nerd”. Que trata a complexidade como arrogância — quando, na verdade, é só outra forma de curtir.
No fundo, julgar os jogos pesados como “encheção de linguiça” é só uma forma sutil de dizer “não quero sair da zona de conforto”. E tudo bem. Mas, por favor, pare de agir como se diversão e desafio fossem inimigos mortais.
Spoiler: não é o jogo. É você.
E se você achou esse texto difícil de engolir… talvez ele tenha
mais de duas fases.
Abraços e boa semana para todos.