Eu tenho hoje bastante dificuldade em enxergar a importância do tema no exercício de jogar jogos de tabuleiro. Falo isso porque acho que em termos de imersão temática os jogos de tabuleiro se encontram num limbo entre os jogos de videogame e os RPGs de mesa que, em geral, minimizam ou até anulam o impacto da temática nas tomadas de decisões ao longo da partida e até mesmo no saldo de diversão ao final da partida. Com isso quero dizer o seguinte:
Video games têm muitos estímulos sensoriais para auxiliar a imersão: imagem em movimento, interfaces gráficas interativas, efeitos sonoros, dublagem, feedback háptico. Tudo isso com o bônus da automatização da matemática do jogo - entradas de comandos e saídas na forma de resultados que nos jogos de tabuleiro são obrigatoriamente feitos pelo jogador. Com isso resta para o jogador apenas desfrutar, se for o caso, da história que está ali sendo contada.
RPGs de mesa não têm quaisquer estímulos nesse sentido: é só teatrinho de dragão, orcs e magos soltando bolas de fogo. Não há nenhuma restrição para o que pode acontecer, nem limitação de componentes, independente de haver um sistema. Se houver um acordo entre o mestre e os jogadores de que o mago nível 1 soltou uma bola de fogo no dragão malvado e ele morreu, vai acontecer. Então só depende da imaginação dos jogadores para a temática florescer e a imersão rolar. PS: eu não vou com a cara de RPG, então a simplificação acima foi só uma brincadeira (embora toda partida de RPG tenha um mago que solta bola de fogo no orc).
BGs ficam num limbo: aqui há limitação de componentes estáticos, não há estímulos sensoriais, os jogadores precisam cuidar por si só das mecânicas para o jogo funcionar e por conta disso, mesmo o jogo mais temático depois de algumas horas vira só um exercício de matemática por mais que você não queira que seja assim. Quem já jogou uma partida de 6 horas de Eldritch Horror sabe do que estou falando. Loucura, força, inteligência são só palavras para explicar o que os números dos dados e cartas fazem no que, sem eles, seria uma equação algébrica de mais difícil compreensão.
Com isso finalizo com meu ponto de vista (e consequentemente respondo à pergunta proposta): temas em tabuleiros servem para 1. vender jogos porque há apelo temático ao mercado amplo; 2. facilitar a explicação e entendimento das regras. Portanto, não vejo nenhum tema como enfadonho. Apenas prefiro que, já que não vejo necessidade de haver tema, se for para haver algum que pelo menos ele não seja ofensivo. Tirando isso, alguns temas acabam sendo historicamente atrelados a mecânicas específicas, das quais me afasto. Dou alguns exemplos: jogos de zumbi costumam ser "mover bonequinho e rolar dado", bem como jogos de fazendinha costumam ser multiplayer solitaire. Como não gosto dessas mecânicas (independente do tema), acabo me afastando desse tipo de jogo.