Danielmw98::iuribuscacio::
Caros Boardgamers
Vou escrever aqui a minha opinião, que ninguém pediu, mas vou escrever assim mesmo.
Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que não vou discutir aqui a questão da escravidão, primeiro porque isso já foi discutido exaustivamente em outros tópicos, e segundo porque o quero falar mesmo é do lançamentos da versão nacional do Puerto Rico 1897. Por isso eu vou falar ada questão da escravidão, bastante "en passant", e apenas para contextualizar meu comentário.
Alguns anos atrás houve uma polêmica enorme a respeito do fato do jogador interpretar o papel de um dono de escravos no Puerto Rico original. Isso foi um problema muito sério e que reverberou no mundo todo, principalmente depois do envolvimento do Zee Garcia do Dice Tower, ele mesmo descendente de porto-riquenhos. Para não deixar dúvidas a esse respeito os meeples dos trabalhadores eram marrons (pelo menos na versão da Grow era assim).
A discussão foi enorme, com gente de um lado defendendo que era apenas um jogo, e as reclamações eram exageradas, outras pessoas defendiam que a reclamação era válida e que nada justificava que alguém se sentisse confortável fazendo um papel tão odioso, principalmente em sue momento de lazer. EU particularmente concordo com essa segunda posição, e confesso que durante algum tempo eu fiquei muito dividido, porque gosto de jogo, mas ao mesmo tempo essa questão da exploração de mão de obra escrava me incomodava bastante. Com isso, resolvi para de jogar e o Puerto Rico ficou algum tempo parado na estante, até que eu resolvesse como jogá-lo, sem que isso ofendesse o meu ponto de vista ético e de mais ninguém.
O tempo passou e finalmente a editora responsável saiu com o tipo de solução que empresas de board games mais adoram: ela lançou uma nova versão, o Puerto Rico 1897, que se passa na época da independência da ilha, e excluindo a questão da escravidão, que havia sido abolida quase três décadas antes em 1873. Isso resolveu o meu problema, porque, na impossibilidade de comprar a versão importada devido ao alto preço, seguindo o exemplo de muita gente, eu comprei meeples de outras cores, e comecei a jogar minha cópia da Grow mesmo, como se o jogo se passasse em 1897, e como se a mão-de-obra fosse composta de trabalhadores assalariados.
Por isso, fiquei muito feliz quando foi anunciada o lançamento da versão nacional, e mais feliz ainda, quando soube que além da edição especial para colecionadores cheia dos mais variados frufrus, também viria a edição normal, para reles mortais como eu. Infelizmente, minha alegria durou pouco, quando fiquei sabendo dos valores do jogo, mesmo na versão standard. Sinceramente, eu queria muito essa versão, mas pagar R$ 750,00 (preço do site da editora) está totalmente fora de questão, pelo menos para mim. Isso é muito dinheiro, para um jogo de tabuleiro, mesmo que se trate de um verdadeiro clássico como Puerto Rico, principalmente considerando que eu já tenho o jogo, na versão antiga
Acho que quem estiver disposto a gastar um preço tão alto tanto dinheiro, vai ter realmente um belo jogo, mas isso não é para mim. E nem é uma questão de não ter dinheiro, mas sim de não concordar e de não querer ratificar essa escalada de preços, que cada vez mais elitiza o nosso hobby, e literalmente afasta quem não é tão abastado, nem tão privilegiado socioeconomicamente.
Por isso, respeito quem pensa diferente, mas vou deixar esse lançamento passar, e aguardar para ver se daqui a alguns meses o preço baixa para um patamar menos absurdo. Se isso não ocorrer, ou se o jogo esgotar paciência. Enquanto isso, eu vou me divertindo jogando o meu Puerto Rico da Grow "véio de guerra", na minha "versão 1897 caseira" mesmo.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Fala Iuri! Só para esclarecer, a versão do 1987 (lançada fora em 2022) padrão nunca saiu no Brasil, e não é a que a Meeple está fazendo a pre venda. A que você queria é uma versão que lá fora vende por 40 dólares e aqui seria de 300 a 350 reais se lançasse por alguma editora. A confusão é que a Awaken Realms "deluxificou" o jogo e criou 3 níveis (resumindo por cima) de apoios: Standard, Special e Premium. A edição "normal" do 1987 não estava nos planos (você e alguns outros confundiram a versão "normal" com o que seria o "Standard" dos deluxes).
Mas dada a situação, talvez seja difícil agora alguma editora querer trazer a versão normal do 1987, agora que a versão da Awaken está na pré venda. Quem sabe algum dia, caso a Meeple não venda tão bem (mas acho improvável, se deu certo com o Burgundy, talvez dê certo com com Puerto Rico também).
Caro
Danielmw98
Rapaz, muito obrigado pela explicação. Na verdade eu tinha essa dúvida logo que a MeepleBR anunciou o lançamento e me explicaram, em outro tópico, que essa versão mais simples seria na verdade a versão standard lançada em 2022, daí o meu equívoco.
Mas independente disso, a verdade é que eu tenho cada vez mas pensado em me "aposentar", pelo menos por hora, da compra de board games. Eu tenho uma coleção de tamanho padrão grande (mais de 100 e menos de 200), e hoje não consigo jogar nem os jogos que eu já tenho. Para piorar, os jogos já chegaram em um patamar de preço tão absurdo, que mesmo que a pessoa não reconheça, se ela paga 700, 900, 1100 reais, em um jogo, ela na verdade já é uma colecionadora, porque só um colecionador paga tão caro por um exemplar de um jogo de tabuleiro.
Sem quere me gabar (não sei de onde esse povo tira que ser veterano é tirar onda, porque na verdade essa é uma forma mais politicamente correta de dizer velho), mas eu já tenho alguns anos de estrada. Portanto eu acompanhei de perto essa escalada de preços, quando ao longo do tempo os jogos iam ficando cada vez mais caros, e a comunidade simplesmente ratificava esse esquema "o Y reais é o novo X reais". Lá no início do mercado nacional de board games, 2013/2014, os jogos saíam por algo entre 150 e 200 reais. Por volta de 2017, salvo engano, o "300 reais virou o novo 200 reais". Depois disso, em 2019, mais ou menos, o "400 reais virou o novo 300 reais". Em 2022 o "500 reais virou o novo 400 reais". Hoje já estamos na casa do "700 reais virou o novo 500 reais", e dentro de uns três ou quatro anos, chegaremos no preço padrão de R$ 1.000,00. E isso para jogos família, porque para os jogos médios e os pesadões, recheados de miniaturas, literalmente "o céu é o limite". Não posso afirmar categoricamente que a escalada foi exatamente essa, em cada ano, mas acho que deu para entender a mensagem. E olha que eu nem estou falando de jogos top de linha com toneladas de componentes, miniaturas fantásticas e coisa e tal. O Heat, que é um ótimo jogo, mas que do ponto de vista de componentes não tem nada demais saiu por 500 reais. Por isso, os board games já chegaram a um nível de preço, que eles são caros, até para quem tem muito dinheiro.
As pessoas tem a falsa impressão de que se alguém ganha 30k de rendimento por mês, ele pode se dar ao luxo de acender charutos com notas de 100 dólares que está tudo certo, ou pagar 1.300 reais em um versão deluxe do Puerto Rico. Mas a verdade é que só quem faz isso, é quem já é boardgamer, no estilo hard, há alguns anos, e que muitas vezes tem de dividir "a perder de vista no cartão", ou causar um rombo no orçamento. Assim sendo, na minha opinião atual, não é nem que o hobby se elitizou a um ponto do sujeito ter de possuir um rendimento altíssimo, mas sim que os preços estão tão caros, que só quem é muito fanático por jogos que continua comprando. E nisso as empresas precisam investir cada vez mais na promoção do HYPE e do FOMO, para convencer à comunidade que vale a pena comprar esses jogos cada vez mais caros. Isso gera um efeito cascata, porque mais investimento na divulgação, em canal de "boardtuber" e em festa de spoiler, torna o projeto dos jogos cada vez mais caros, o que demanda mais investimento na divulgação e por aí vai. Como para as empresas se o jogo vender 1.000 unidades o projeto já se pagou (e isso dá o que pensar em como os jogos aqui são caros), e conseguir 1.000 fanáticos dispostos a pagar o que for não é tão difícil (em alguns casos apenas 500 cópias já está valendo), os jogos mesmo caríssimos acabam vendendo, e a escalada de preços se mantém. Por isso, se o mercado de jogos hoje atingiu uma patamar impraticável para os meros e assalariados mortais, a culpa não é exclusiva das editoras. Nesse sentido, eu acho que nós, enquanto comunidade, também temos a nossa parcela de culpa, pelo atual estado das coisas. Isso porque ao longo dos anos, nós sempre ratificamos e apoiamos, mesmo contrariados, a escalada de preços, reclamando aqui no Ludopedia, mas continuando comprando. Se você reclama, mas ainda assim compra o jogo, para a empresa, simplesmente é como se você não tivesse reclamado nada, porque, mesmo reclamando, você já fez a única coisa que importa, que é comprar o jogo, o resto não passa de detalhe. A opinião que se dá com a carteira é a única que conta para as editoras, e isso funciona para qualquer empresa de qualquer setor econômico.
Eu sei que talvez muita gente entre na discussão, para explicar que de 2013/2014 para cá a evolução inflacionária é essa mesmo, que os 200 reais de 10 anos atrás, são os 700 reais de hoje, devidamente corrigidos, e coisa e tal. E talvez essas pessoas até tenham alguma razão. A diferença, que normalmente não se leva em conta nesse tipo de análise, é que para quem entrou para o hobby mais cedo, por volta de 2010/2012, havia apenas uma dúzia de lançamentos por ano, Assim sendo, nessas "priscas eras" não havia tanta opção, além do fato de tudo ser novidade. Hoje o mercado nacional de jogos está muito diferente. É tanto jogo que sai, e todo ano, que eu já desisti de acompanhar tempos atrás. Além disso, pode ser que a minha memória esteja me pregando uma peça, e que, proporcionalmente, os jogos antigamente fossem tão caros quanto hoje, pelo menos do ponto de vista estritamente econômico. Mas, com toda a sinceridade, o Zombicide e o Blood Rage até foram mais caros por conta das miniaturas, mas eu não me recordo que o 7 Wonders, o Catan, o Carcassonne, o Ticket to Ride, o Pandemic, o Guerra dos Tronos BG, e o Summoner Wars tenham sido tão absurdamente caros assim. Está certo que board games não eram, nem nunca foram algo barato, mas caro do jeito que é hoje, eu numa boa não me recordo de ter sido assim, lá atrás, quando saíram os primeiros lançamentos nacionais.
Dito isso, não vou dizer "dessa água não beberei", mas de hoje em diante eu que já era seletivo na compra dos jogos, passarei a ser ultra seletivo. Se for para comprar alguma coisa, só depois de um ano após o lançamento, com preços mais próximos da realidade no Mercado de Usados. E assim mesmo, só se for um jogo no qual eu esteja absurdamente interessado, algo totalmente fora da curva. Depois de mais essa decepção com o preço do Puerto Rico 1897, e mais ainda com essa Guerra Tarifária entre a China o megalomaníaco presidente norte-americano, aí mesmo é que já deu para mim.
Para terminar, desejo muito boa sorte, para quem entrou no hobby recentemente, e ainda está batalhando para montar uma coleção, mas eu que já tenho a minha estou mais do que satisfeito, e muito mais focado em jogar do que comprar, que é o que eu acho que será o futuro do hobby, pelo menos no curto prazo. Só deixo aqui o conselho para a rapaziada recém-chegada, para só comprar os jogos que vocês vão jogar efetivamente, ou pelo menos que vocês vão ter condições de jogar, porque o real "Canto da Sereia" do hobby é entrar numa de comprar primeiro para só depois tentar ver se vai dar para jogar. Caso contrário se corre um alto risco de terminar feito o "coroa" aqui com diversos jogos que foram vendidos sem nem sair do plástico, só porque eu achei que seria uma boa comprar.
Perdão pelo longo desabafo, mas é isso que eu penso.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio