fantafanta::iuribuscacio::Eu concordo totalmente com vocês de que a função da tradução é facilitar a compreensão.
Olá, iuribuscacio!
Rapaz, essa discussão das funções da linguagem ou da tradução vai longe... acho que resumir a questão a uma dicotomia pragmática entre "facilitar a compreensão" ou complicar com "erudição" acaba eliminando uma riqueza de diversidade de outras funções que a linguagem pode ter. É empobrecer o debate de certa forma.
Uma das funções que a linguagem e a tradução, no caso, podem ter é a de instigar em nós a curiosidade e o desejo por conhecer mais a respeito de um assunto. Por exemplo, ao tomar conhecimento da tradução do nome do besouro para "vaca-loura" imediatamente me senti instigado a tentar compreender de onde raios tiraram esse nome! Se tivessem deixando somente "besouro" mesmo eu teria pensado que "ah, é só um besouro qualquer" e jamais teria o impulso de investigar mais a respeito.
Um outro ponto fundamental também é gerar assunto, criar conexões, entre pessoas distintas, culturas distintas. Só pra ficar no exemplo da postagem, eu escrevi aquela resposta inicial à Rigueira após ter uma breve conversa com a minha mãe, que é bióloga. Foi ela quem me prestou essa pequena consultoria a respeito dos termos! hahahah
O que aconteceu é que isso gerou uma conversa descontraída entre nós, na qual eu aprendi um pouco mais e compartilhei esse pouquinho com vocês.
Novamente, essa conexão entre nós não teria acontecido se para começo de conversa o tradutor tivesse optado por usar o termo "besouro", já que provavelmente não teria incomodado a Rigueira.
Por isso eu digo: por mais "vacas-louras" em nossos dia a dia! XD
Caro
fantafanta
Eu acho que você tem razão em parte, e eu sou o primeiro a exaltar qualquer coisa que leve a uma debate sadio e a uma troca de ideias urbana e respeitosa. Do mesmo modo, eu sou um apaixonado pela linguagem escrita em especial a língua portuguesa, que é incontestavelmente riquíssima.
No entanto, eu acho fundamental atentarmos para o fato que essa discussão e esse debate, acontece em relação às opções de tradução do Forest Shuffle, de forma periférica, acessória e secundária. Certamente, a linguagem tem várias funções, e que podem levar o indivíduo ao enriquecimento cultural e de vocabulário. Mas todas essas funções interessantíssimas não são igualmente necessárias o tempo todo. Dito isso, em relação à tradução de um jogo, um melhor entendimento do seu funcionamento e de suas regras é a função precípua da tradução, e nesse caso, o enriquecimento da língua vem depois.
Explicando melhor, nós estamos debatendo todas essas questões, porque compramos o jogo abrimos a caixa e nos deparamos com termos estranhos como "corço", que é o que os boardgamers fazem. Quando se compra um jogo, o que se quer é jogar e para isso é fundamental compreender corretamente as regras e os componentes, é nesse sentido que a facilitação do entendimento se mostra um função da linguagem, mais adequado e superior ao enriquecimento cultural, nesse caso específico. Quando uma pessoa abre um jogo e se depara com um "corço" ou "vaca loura", ela não vai se preocupar com os motivos que levaram o tradutor a escolher termos tão estranhos ao invés de besouro. O que a pessoa vai pensar é porque catzo (é eu sou do tempo em que se falava isso) o jogo não veio escrito "besouro", ao invés do termo que eles efetivamente usaram.
Por outro lado, essas outras funções da linguagem se aplicam àquilo que nós estamos fazendo aqui, que é debater e inclusive aprender um pouco mais, só que nós não estamos diante de uma mesa, tentando aprender as regras e prestes a jogar um jogo com termos como "corço" e "vaca loura".
Essa é a minha única discordância, ou seja, as demais funções se aplicam muito mais a essa discussão em um fórum de jogos, do que para aprender a jogar o jogo.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio