Caros Boardgamers
Com todo o respeito à divergência, eu tenho três "contras" em relação a essa chamada variante guerra.
Meu primeiro contra é que o World Wonders é um jogo onde se constrói monumentos e não se destrói. Além disso, essa maravilhas são monumentos da humanidade e não de um determinado povo. Sinceramente eu não vejo nenhum cenário, nem mesmo em um board game, em que faria sentido, hordas de soldados budistas chineses invadirem a Índia e destruírem o Taj Mahal, que é um mausoléu, mas de certa foram também um templo muçulmano. Claro que jogos não são calcados na realidade, e que se formos levar ao extremo, qualquer jogo em que há confronto, mesmo que econômico, contém algum nível de violência implícita.
Isso cai meio que naquela história elfos matarem anões ou vice-versa, ou como ocorre nos 4x, exterminar outro povo pode, mas destruir monumentos não. Concordo que isso é meio complicado, mas confesso que me incomoda muito mais quando isso ocorre em um jogo baseado na realidade, com monumentos reais. Além disso, vale recordar que uma das grandes sacadas dos jogos euros, e que em última análise deu origem à Era dos Jogos Modernos, foi o conceito de vitória baseada em uma melhor administração e um melhor gerenciamento os recursos disponíveis do que os seus adversários, ao invés de simplesmente eliminá-los no confronto direto. Essa diferença fica ainda mais gritante para mim, quando se pega um jogo em que originalmente e essencialmente se deve construir algo, e se incluí uma variante em que se tem, ou ao menos se pode, destruir algo. Isso talvez seja divertido para alguns, e até dê vazão ao "selvagem violento e destruidor, no melhor estilo Gengis Khan", que cada um tem dentro e si. Mas numa boa, para mim isso não tem nada a ver com o World Wonders.
Meu segundo "contra" é que, quando se busca uma variante de um jogo, normalmente isso é um forte indicativo de que aquele jogo já deu o que tinha que dar, na sua proposta original, tornando necessário introduzir algum elemento novo, para reacender o interesse pelo jogo. Nesse sentido, o World Wonders foi lançado em setembro de 2023, portanto temos pouco mais de um ano que o jogo está disponível, e eu acho isso muito pouco tempo para alguém ter jogado tanto a ponto de achar necessária a implementação de uma variante. Evidentemente se a pessoa passou os últimos meses jogado o World Wonders e apenas o World Wonders, possivelmente a pessoa já deva ter enjoado, e queira alguma novidade. Só que nesse caso, eu acho que o problema está mais na própria pessoa do que no jogo.
O terceiro e último contra é que eu a princípio sou muito avesso a "house rules", adaptações, e inovações dessa natureza. Obviamente, é a pessoa que jogo a o jogo e não o contrário, então se aquela "inovação" atende, e deixa o jogo mais divertido para a pessoa, ela tem mais é que utilizar a referida "inovação", e extrair o máximo de diversão que o jogo propiciar, seja do modo que for. Porém, qualquer "inovação" tem de ser implementada com muito cuidado e sabedoria, porque na maioria esmagadora das vezes, elas acabam mais piorando do que melhorando os jogos. E quanto maior e mais profunda for a "inovação", maior é a chance disso acontecer. É sempre preciso ter em mente que um jogo de tabuleiro, especialmente aqueles de médio para pesados, são criações complexas, e que o balanceamento é fruto de muita, pesquisa, muitos testes, e muito trabalho, até se atingir o equilíbrio. Por isso, qualquer alteração pode alterar profundamente esse equilíbrio e acabar estragando o jogo, deixando-o muito fácil, dificultando muito as coisas, criando estratégias obrigatórias sem as quais as chances de vitória são nulas (jogo scriptado), ou fortalecendo exageradamente alguma facção, de modo que todos só queiram jogar com ela. Esses são os perigos quando se tenta melhorar aquilo que não tem nenhuma necessidade de ser melhorado.
Meus dois centavos.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio