calcionit::Odanan::calcionit::
Tudo bem que já tenho meu WAR, mas o pessoal que me segue no Ytb até desiste de comprar com o preço que está.
Nesse caso é livramento! War é um jogo muito ultrapassado (OK, as últimas versões dão uma modernizada...)
O único problema é que as alternativas melhores costumam ser bem mais caras, como:
- Northgard;
- History of the World;
- Small World / Small World of Warcraft;
- Kemet;
- A Guerra dos Tronos;
- Blood Rage / Rising Sun / Ankh...
Olha tenho que discordar que WAR seja ultrapassado.
Até onde sei ele ainda é um dos Boad Game mais vendido no pais, junto com outros clássicos como Detetive e Banco Imobiliário/Monopoly.
Outro ponto é que esses jogos clássicos são uma porta de entrada para diversos outros BG como os que mencionou e em mt gente eu me incluindo, traz a nostalgia de alguma forma.
Caro
calcionit
Rapaz, eu entendo perfeitamente esse sentimento de gostar muito de algo, e ter fortes laços sentimentais com esse algo. Mas nós precisamos tomar cuidado para que esse nosso afeto não nos deixe cegos para a realidade.
Certamente o WAR ainda é um colosso de vendas (muito mais que os board games modernos), do mesmo modo que o Banco Imobiliário e o Detetive, que foram muito mais importantes que todos os board games modernos juntos, no sentido de divulgar e criar o hábito do brasileiro em jogar jogos de tabuleiro. Isso ninguém discute, e nem tem como negar. Como eu sempre digo, para a quase totalidade de população, jogo de tabuleiro ainda é WAR, Banco Imobiliário, Detetive, Scotland Yard, Imagem & Ação, Jogo da Vida, Perfil, entre muitos outros dos chamados jogos clássicos. Mas é preciso entender que o tempo passou e que nós não estamos mais nos anos 70/80.
O WAR, de 1972, já é um "cinquentão", e nesses cinquenta anos, muita coisa mudou, muita coisa nova surgiu, então é natural que todo o "peso da idade" acabe refletindo no jogo, de alguma forma. É só dar uma analisada no jogo, que você vai entender o que eu digo. No WAR o jogador basicamente rola dados o tempo todo e movimenta seus peças, conforme o resultado, para alcançar o objetivo. Não vou negar que a rolagem de dados tem lá seus atrativos e que gera alguma adrenalina. A questão é que isso é a única coisa que se faz durante horas, e em algum momento isso acaba cansando, por mais que se goste de rolar dados.
E aí entram outros problemas que não dá para ignorar, em uma análise séria e isenta, que vá além do simples "eu gosto disso", ou eu "não gosto disso". Então eu peço que você veja a minha análise, numa boa, e com uma mente aberta. O WAR tem eliminação de jogadores, o que é um grande anátema dentro do hobby. Não é que a eliminação de jogadores sejam intrinsecamente ruim, e alguns jogos bons usam essa mecânica, como os sucessos, Coup, Bang, Love Letter e King of Tokyo. O problema é quando você usa eliminação de jogadores, em um jogo mais denso, e cuja partida demora horas. Basta pensar em uma partida que demore duas horas e meia ou três horas, o que é muito comum em se tratando do WAR, onde as partidas podem demorar muito mais, e onde um jogador foi eliminado na primeira meia hora. Ele não vai ter alternativa a não ser aguardar mais de duas horas olhando os outros se divertirem, até conseguir voltar a jogar. E mesmo que isso não ocorra, basta imaginar uma partida com 4 jogadores, em que todos os três primeiros atacaram fortemente o quarto jogador, de modo que quando chega a vez dele, as suas chances de vitória foram praticamente reduzidas a zero, e ele vai passar algumas horas apenas "cumprindo tabela", e isso se conseguir sobreviver!
Outro problema do WAR é a superficialidade estratégica, porque você rola os dados, olha o resultado que saiu e pronto, acabou, ou seja, se ganhou o combate ganhou e se perdeu o combate perdeu. Agora compara com um jogo com alocação de dados, como As Viagens de Marco Polo, onde também se rola dados o tempo todo, mas que eles podem ser alocados em diversos locais diferentes abrindo um leque enorme de possibilidades. E mesmo comparando com jogos mais simples, o WAR ainda perde, como por exemplo em relação ao King of Tokyo, porque nesse você pode re-rolar os dados, mantendo os resultados interessantes, você pode decidir ficar ou sair de Tóquio, pode comprar cartas, e coisa e tal. E olha que o King of Tokyo tem um peso bem menor que o WAR, mas a variedade estratégica, é bem maior.
No BGG, o peso atual do WAR é 2.39, mas mesmo assim, você vai encontrar uma infinidade de jogos superiores estrategicamente, mesmo com menos peso. Mais uma vez, não querendo destratar o WAR, mas pessoa alguma com um mínimo de conhecimento do hobby, vai acreditar que o WAR é mais estratégico que por exemplo o 7 Wonders, cujo peso atual no BGG é 2.32. Nem o mais empedernido fã do WAR defenderia seriamente algo assim. E esse é apenas um exemplo. Nessa mesma situação de peso menor que o WAR, porém com mais profundidade estratégica, existem Carcassonne (peso 1.89, um verdadeiro clássico dos jogos modernos), Sagrada (peso 1.92, que entre no mesmo caos do As Viagens de Marco Polo, em termos de alocação de dados), Cascadia (peso 1.86, e vencedor do Spiel des Jahres de 2022), o Memoir '44 (peso 2.27), e o Pandemic (peso 2.39, igual ao WAR, mas muito mais estratégico).
Outra questão que conta muto contra o WAR é a total preponderância no fator sorte, que literalmente dita o resultado da partida. Assim sendo, no WAR, o fato de ser, ou não ser, um bom estrategista é indiferente, caso a pessoa não tenha sorte nos dados. E não há no WAR, nenhum mecanismo que possa mitigar isso, do tipo colocar esse dado ruim aqui, ou descartá-lo, ou usar o efeito X, que só acontece com o resultado Y. Isso ocorre porque quando o WAR foi lançado, nos anos 70, ninguém nem imaginava que essa preponderância da sorte fosse um problema, afinal todo jogo de tabuleiro era assim. Só depois do Catan e da Era dos Jogos Modernos é que esse tipo de consideração começou realmente a ser levada mais a sério, e o fato sorte, principalmente quando tendo preponderância total, é que passou a ser algo considerado tão ruim quanto é hoje. Evidentemente alguns jogos modernos contam com algum fator sorte, até para dar alguma aleatoriedade ao jogo, mas nunca como o elemento principal e mais influente do jogo.
Mais uma vez, eu reconheço toda a importância histórica do WAR, e todo a sua influência em termos de vendas no mercado nacional de jogos, mas a verdade é que o tempo passou e não dá para deixar de constatar, que mesmo ainda vendendo muito e sendo muito jogado, em termos de qualidade enquanto experiência lúdica, o WAR, infelizmente ficou muito para trás. Ele ainda trás boas recordações? Claro que sim, mas se não fosse pela nostalgia, e pelo desconhecimento dos outros jogos do mercado, vez que o que o WAR está custando atualmente já o coloca na mesma faixa de preço de alguns board games modernos (especialmente das cópias usadas), se não fosse por isso (nostalgia e desconhecimento das opções do mercado), certamente ele ainda não venderia tanto, nem seria tão jogado assim.
Pelo menos é o que eu penso, e olha que eu te falo numa boa, como alguém que jogou partidas homéricas do WAR na juventude e tem muito boas recordações do jogo. Eu também acho que se é o WAR que faz feliz você e o seu pessoal, vocês tem mais é que jogar WAR mesmo. Mas analisando de um ponto de vista mais geral e isento, meu camarada, hoje em dia não dá para o WAR mais não!!!!
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio