JuanC::Munchkin foi o primeiro amor e o jogo que me trouxe para o hobby. Até hoje lembro de ver o episódio do Tabletop do Will Wheaton jogando com o criador do jogo. Gostei tanto do jogo que tenho ele até hoje, comprei 5 expansões e joguei todas. Nunca fui de contar jogatinas, mas acredito ter +100 partidas de Munchkin na minha vida. Chegava em um ponto de apenas de ver a arte da carta, eu já saber o texto decorado e todos os efeitos. Enfim, depois de alguns anos no hobby e de ter jogados e colecionado mais de 150 jogos, acredito que tenho uma ideia do porque o Munchkin é tão odiado por algumas pessoas do hobby.
1- O problema do Take that: esse é uma mecânica que é bastante polêmica, e tem pessoas que não tocam em certos jogos se eles tiverem essa mecânica presente em qualquer nível. Depende muito do gosto de cada um, porém eu não vejo ela como uma mecânica necessariamente ruim, e sim o que importa é como ela colocada em prática. Tem jogos que ela é implementada como deveria, por exemplo em um dos meus jogos favoritos, Spartacus. Porém acredito que no Munchkin ela acontece de forma muito gratuita, e desbalanceada. Tem cartas muito melhores que outras (ex. perder 2 níveis contra perder um calçado), maldições do próprio jogo que você não pode fazer nada se não tiver proteção e outras coisas. Muitas vezes você não tem maneira de proteger e o sentimento que fica é de injustiça porque você não teve a sorte de ter uma carta que bloqueava aquilo. Falando em sorte vamos para o segundo ponto:
2- Sorte e mais sorte: combate de dados contra combate com cartas, eurogames contra ameritrash, o assunto de sorte também é muito polêmico no mundo dos bgs, e aqui no Munchkin é o que não falta. Novamente, não acho sorte uma coisa necessariamente ruim. Tire todo fator de sorte de um jogo e ele se torna algo como xadrez, onde o jogador mais experiente sempre tem vantagem sobre os oponentes. Faça um jogo só de sorte feito candyland, e qualquer pessoa pode ganhar se rolar os resultados certos, porém isso diminui o senso de recompensa e de conquista, sabendo que ao vencer não foi graças as suas decisões, mas sim, do "coração dos dados". A sorte pode ser bem implementada, para simular os fatores imprevisíveis do campo de batalha em um jogo de guerra por exemplo. Já no Munchkin, o caso é diferente. Quase tudo parece sorte. A sua mão inicial, os tesouros que você recebe ao matar um monstro, quando você saqueia uma sala, arromba a porta, enfim. O deck de porta é todo concentrado num deck só, e isso causa problemas, porque não tem muito sentido eu encontrar um dragão nível 20 sendo nível 1 ou 2. Também pode acontecer de ter uma partida inteira que uma pessoa não encontre monstro algum. Além disso, com a mão inicial uma pessoa pode começar como Elfo e Bardo (ou clérigo), com os melhores equipamentos (joelheira da sedução, capa da proteção etc) e outra pessoa cheia de equipamentos pra raças que não possui ou requerimentos que não pode cumprir. O jeito que o jogo "arruma" pra tentar consertar esse balanceamento é a negociação entre os jogadores e poder focar em quem está mais na frente. Mas isso só parece uma forma preguiçosa de tentar balancear uma coisa mal feita. O que nos leva pra o último ponto.
3- Kingmaking e Marcando quem está frente: um cenário normal de acontecer no Munchkin é: um jogador estar prestes a ganhar o jogo, ai todos os jogadores jogam poções e maldições que estavam guardando contra ele, e ai ele perde o combate. Na vez do próximo jogador, ninguém tem cartas para jogar contra ele e então ele ganha uma vitória sem gosto. Não só você é penalizado e se torna extremamente marcado ao se tomar o primeiro lugar, como o take that constante pode ser chato e até morgar certo jogadores. Já tive amigos que não queriam mais jogar jogos de tabuleiro em geral depois de partidas estressadas de Munchkin. Além do que, essa prática de constantemente marcar o primeiro jogador torna o jogo cada vez mais longo, o que é outro problema de Munchkin já mencionado aqui, ele excede seu tempo de estadia sem uma necessária progressão do jogo pra justificá-la.
Conclusão: Acho que o principal problema de Munchkin está em tentar ser um jogo casual, e usar essa desculpa para ter várias mecânicas desbalanceadas, e o jogo mesmo possuindo qualidades e bons momentos, estes se tornam repetitivos com um tempo, perdendo parte da magia das primeiras jogatinas. Quando se compara Munchkin com outros jogos do hobby percebesse as falhas do jogo, e que existem melhores alternativas.
GabrielAlmeida::iuribuscacio:::O problema maior do Munchkin é que ele demora muito mais tempo do que deveria.
Aqui foi cirúrgico,
iuribuscacio:::
No mais Independente disso tudo, o fato é que muita, mas muita gente mesmo, iniciou no hobby com o Munchkin, que foi um dos primeiros jogos modernos lançados por essas bandas.
e aqui adiciono só que muita gente apenas já cansou do munchkin mesmo, justamente por ter jogado à exaustão. A piada uma hora perde a graça. Mas é um jogo ok.
Caro
JuanC e
GabrielAlmeida
Rapazes, eu concordo com tudo que vocês falaram. Realmente o Munchkin tem muita sorte, as cartas são desbalanceadas, o take that é exagerado, e coisa e tal. Além disso realmente as partidas são muito arrastadas e demoram uma eternidade. Quando o hobby estava bem no início o jogo fazia muito sucesso, tanto que as pessoas jogaram exaustivamente a ponto de enjoarem. Porém, novos jogos surgiram, o mercado nacional cresceu, a quantidade de lançamentos de edições nacionais dos grandes board games gringos aumentou, jogos 100% brasileiros deram as caras, assim como novas editoras pintaram. Por conta disso, o Munchkin deixou de ser aquela única opção do início do hobby.
Apesar disso, eu gostaria de acrescentar duas coisas. A primeira é que certamente muita gente que comenta aqui no Ludopedia já tem anos de estrada, e provavelmente já jogou muito o Munchkin. Por outro lado, sempre tem gente nova descobrindo o hobby a cada ano. Em função disso, talvez o Munchkin tenha enchido o saco, para o sujeito depois da centésima partida dele. Mas para quem ainda está começando o jogo pode agradar, como acontecia com muita gente no início do hobby, embora as pessoas tenham vergonha de admitir hoje em dia. Eu vejo algo assim acontecer com o Dixit por exemplo, que parece que de alguns anos para cá, se tornou necessário falar mal dele e dizer que não gosta do jogo, como forma de se afirmar com grande conhecedor de board games. Contrariamente, eu não tenho a menor pretensão nesse sentido, e sou o primeiro a reconhecer que diversas pessoas conhecem de jogos de tabuleiro modernos muito mais do que eu, e que quase sempre que eu entro aqui no Ludopedia, acabo aprendendo um pouco mais. Por isso, não tenho a menor vergonha de dizer que adoro o Dixit, e que nenhum outro jogo me diverte mais e me satisfaz tanto, nem o meu muito amado Stone Age, o que para mim significa muita coisa. Também não tenho problema nenhum em dizer que gosto do Munchkin, embora jogue-o raramente, e sempre aplicando as minhas regras da casa para diminuir o tempo de partida. Se isso levar a uma queda do meu conceito prante algumas pessoas, por mim tudo bem, porque eu não tenho problema algum com isso, e para mim vale muito mais a autenticidade do que um eventual prestígio, entre os pares.
Outra questão caso que eu vejo que serve de fundamento para muito da antipatia, que algumas pessoas tem pelo Munchkin, me parece nascer de uma forma equivocada de ver o jogo. Com toda a certeza o Muchkin é desbalanceado. Com toda a certeza o Munchkin tem muita sorte. Com toda a certeza o Munchkin tem Take That demais, e essa é inclusive a premissa base do jogo. A questão, pelo menos do meu ponto de vista, é que ele é feito exatamente para ser assim mesmo, totalmente desbalanceado, injusto, caótico e aleatório. Em uma partida você terá enorme vantagem com as cartas que receber, e os números que tirar no dado, e na partida seguinte o universo inteiro vai conspirar contra você. E o Munchkin além não fazer nada para equilibrar isso, ainda procura tornar as coisa ainda mais desequilibradas. Isso tudo porque o jogo não tem absolutamente nenhum compromisso com a seriedade. Ele é um jogo escrachado mesmo, portanto eu não vejo muito sentido de exigir dele coisas como balanceamento, equilíbrio e mitigação do fator sorte. Se alguém joga o Munchkin com esse tipo de expectativa, na verdade a pessoa é que está equivocada (no meu ponto de vista), do mesmo modo que estaria equivocada uma pessoa que fosse jogar TI4 ou Mage Knight com 6 jogadores esperando um partida rápida, ou alguém que fosse jogar Brass: Birmigham ou Food Chain Magnate como jogos famílias leves e casuais.
Dito isso, eu entendo perfeitamente quem já tirou tudo o que havia para tirar do Munchkin, e reconheço que ele tem vários problemas, sendo a longa duração das partidas o principal deles. Só não acho justo que se analise negativamente o jogo partindo do pressuposto de que ele tem "defeitos", por não atender determinados padrões de jogos mais sérios, coisa que o jogo jamais tentou fazer, nem que ele seja avaliado partindo do pressuposto de que a pessoa já jogou até enjoar.
Por isso, a reflexão que eu faço é que o fato do jogo não atender as nossas expectativas, incompatíveis com a proposta do jogo, ou o fato de nós já termos enjoado dele, não torna necessariamente o Munchkin ou qualquer outro jogo ruim, por si só. Ele apenas pode continuar sendo um jogo bom, mas inadequado para aquele nosso momento atual dentro do hobby, mas para outra pessoa servir muito bem.
Pelo menos eu acho que em uma coisa todo mundo concorda, tenha se jogado Munchkin uma, dez ou cem vezes. As partidas são realmente muito longas, o que realmente torna fundamental utilizar alguma house rule para diminuir esse tempo.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio