rodrigogianni::É isso. Enquanto não houver uma vontade politica para realmente mudar o país, isso não vai andar. Quantos anos estamos para fazer uma reforma tributária. Faz-se remendos, mas nunca uma reforma que seja robusta. Ela e robusta para o bolso dos politicos que se beneficiam. Em que lugar do mundo existe fundo partidário? Dinheiro para movimentar eleições.... isso é surreal. É um dinheiro que poderia ser destinado para diversas melhorias...
O Brasil tem um potencial enorme, poderia usar malha ferroviaria, hidrovias, mas qual o interesse nisso? Melhor deixar todo mundo rodar por estradas bostas e continuar pagando pedágio absurdos.
Ouço desde pequeno que o Brasil é o país do futuro. O problema é que esse futuro nunca chega e pelo visto o futuro não parece ser promissor.....
Caro
rodrigogianni
Em primeiro lugar, eu sei que muita gente hoje em dia é bastante avessa à política, embora não devesse ser (o preço do aluguel, da gasolina, da comida, os impostos, as taxas de importação e tudo mais que se refere a todos nós é definido por gente, que gosta muito de política, então o fato da pessoa não gostar de política não impede que essa pessoa seja atingido por ela). É fundamental lembrar que tudo na vida são decisões políticas que impactam diretamente na vida de de todos nós. O fato da pessoa anular o voto, ou não ir votar e pagar multa, não impede que a eleição ocorra, e até facilita que os mesmo políticos safados de sempre continuem se elegendo. Além disso, não podemos esquecer que absolutamente tudo é fruto de decisões políticas, e por isso o preço do board game, e a carga tributária sobre produtos importados, que é o que se discute aqui, também depende da política. Por isso, pelo menos no meu ponto de vista, falar um pouco de política nesse tópico, faz todo o sentido, mesmo que isso seja complicado atualmente por conta dessa polarização rasteira e destituída de razão, que tanto nos assola e nos divide atualmente (como se tudo se resumisse a "L" ou "arminha").
Quanto ao fundo partidário, para mim, ele não é algo intrinsecamente ruim. O que é ruim é o uso que se faz dele no Brasil. Nós temos de lembrar que aquele político que se candidata, se for eleito vai virar o o vereador, o prefeito, o deputado, o governador, o senador ou o presidente. E são essas pessoas que vão administrar o dinheiro público. Se não houver o fundo partidário, esse político ou o partido, vai precisar arrumar o dinheiro em algum lugar, porque sem dinheiro não se faz campanha. Nessa hora entre em cena o empresário corrupto que vai dar o dinheiro para o político, mas vai querer algo em troca. As empresas não fazem doações de campanha, o que elas fazem é investimento. Por isso, a empreiteira que doa um milhão de reais para a campanha do prefeito ou do governador, no dia seguinte ao da posse, manda a conta para o seu "apadrinhado". E é daí que surgem as licitações com cartas marcadas, as obras superfaturadas e as compras de urgência, sem licitação, em que sempre se paga muito mais do que o preço real dos produtos e serviços. Aquele um milhão que foi "investido" na campanha, instantaneamente se transformam em 10, 50, 100 milhões, até porque uma parte do dinheiro tem de ir para o partido, e outra parte para o bolso do próprio governante ou legislador.
Mas não é só isso. Existe um motivo para o Brasil ter 32 partidos políticos cadastrados na justiça eleitoral. Nesse quesito nós só perdemos para a Índia com mais de um bilhão e meio de habitantes, que possui 36 partidos. A maioria esmagadora desses partidos políticos não tem a menor pretensão de fazer política, e isso é algo que atinge tanto a ultradireita quanto a extrema esquerda indiscriminadamente. Na ultradireita você tem os partidos nanicos, mas que tem direito a tempo de televisão, e vendem esses míseros segundos, para partidos maiores com estrutura e com chances reais de eleger um prefeito ou governador. Em troca o partido nanico recebe uma secretaria ou o controle de algum órgão, e aí vira uma festança de desvio de verbas. No outro extremo há os partidos da extrema esquerda, que também não tem nenhuma intenção real de fazer política, através de representantes eleitos. São partidos como PSTU, PCO, e o "partidão" (antigo PCB), que há muito tempo não são partidos políticos e, quando muito, são apenas "exercícios teóricos de ciência política", para estudantes que ainda não ingressaram no mercado de trabalho (quando o discurso deles muda da águia para o vinho), e para intelectuais frustrados. Esses são partidos que não conseguem eleger um vereador sequer, mas que lançam candidatos a governador e a presidente da república. Mas eles não largam o osso, porque essa é uma forma de se infiltrar nas universidades públicas e continuarem com alguma relevância, mesmo que mínima, dentro da esquerda, e com isso conseguirem se infiltrar nos sindicatos. E eu estou dizendo isso para você ver que os absurdos da política brasileira não são privilégios nem da ultradireita e nem da extrema esquerda. A bem da verdade é que a ultradireita é desonesta, venal e corrupta, e a extrema esquerda é totalmente anacrônica e irresponsável, e com um papo que não saiu dos anos 60/70, quando ainda se acreditava que o comunismo conquistaria o mundo, e acabou sucumbindo com a queda do Muro de Berlim (na cabeça dos comunistas diga-se de passagem), teve um fim melancólico, com a dissolução da União Soviética e da Cortina de Ferro.
Agora, isso não quer dizer que os valores do fundo partidário sejam sérios e adequados, e não a verdadeira imoralidade, e suprassumo da roubalheira, que os valores deles representam. Quem é mais velho deve lembrar das propagandas eleitorais das primeiras eleições após a abertura em 1979, que reintroduziu o pluripartidarismo (antes só havia o MDB da esquerda e da democracia e o ARENA representante da direita e da ditadura, isso é História gente, portanto não adianta me xingar!!!

). Em 1982, houve eleições estaduais no Brasil inteiro. Em São Paulo foi eleito governador Franco Montoro (PMDB), concorrendo contra Reynaldo de Barros (PDS), Lula (PT), Jânio Quadros (PTB) e Rogê Ferreira (PDT). O debate foi hilário (especialmente entre Montoro e Jânio), e está disponível no Youtube. No Rio de Janeiro, quem ganhou para governador foi Leonel Brizola (PDT), que derrotou Moreira Franco (PDS), Miro Teixeira (PMDB), Lysaneas Maciel (PT) e Sandra Cavalcanti (PTB). Em Minas Gerais o vitorioso foi Tancredo Neves (PMDB), vencendo Eliseu Resende (PDS), Sandra Starling (PT) e Thetônio dos Santos (PDT). Só para que ninguém se espante, eu lembro apenas dos principais concorrentes nos maiores estados, e os outros eu confesso que precisei pesquisar no wikipedia, afinal se passaram 40 anos e a memória não é mais a mesma (quando passarem dos 50, vocês entenderão). E para quem deve estar se perguntando, eu estou apenas citando essa eleição tão antiga, para as pessoas verem como as propagandas e o horário eleitoral daquela época, eram muito mais simples. No Youtube ainda se consegue encontrar a propaganda eleitoral do Brizola na eleição do Rio de Janeiro de 1982. Mas, de forma geral, era tudo mais simples e muito menos dispendioso. Passava um filme com algumas fotos, ou então o jingle da campanha, e em alguns casos o próprio candidato sentado em uma bancada, estilo Jornal Nacional, explicando os principais pontos da sua plataforma política e do seu plano de governo.
Hoje, a produção das propagandas políticas é "hollywoodiana", com efeitos especiais, tomadas aéreas de drone e coisa e tal, porém com um custo igualmente "hollywoodiano". Anteriormente também se faziam campanhas eleitorais, mas sem se gastar as imensas fortunas que se gasta hoje. E isso mostra que é possível fazer política sem gastar tanto. O problema é que nenhum candidato, principalmente dos grandes partidos, não querem mais nem viajar em voos de primeira classe, mas sim em jatinhos fretados. Aí não tem fundo partidário capaz de sustentar tanta gastança, e que no fundo (com perdão do trocadilho mequetrefe), quem paga sou eu, você e todo o povo brasileiro, através dos impostos.
Por isso, eu concordo com o fundo partidário só acho que os seus valores indecentemente astronômicos deveriam ser reduzidos a uma fração do total que se gasta com ele. As eleições já forma muito mais baratas no passado, quando quase não havia recursos técnicos de ponta, e por isso não há razão, pelo menos na minha opinião para que elas sejam tão absurdamente caras nos dias de hoje.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio