orlandocn::Gostaria de propor dois exercícios imaginativos que tem muito mais relevância com os comentários da reportagem e com o perfil de nós, "hobistas", do que com a reportagem em si:
1) Estamos jogando um jogo onde existem dois grupos de meeples, um branco e outro preto; o objetivo é fazer com que os meeples pretos consigam empurrar os meeples brancos para fora do tabuleiro, desta forma, conquistando e subjugando este grupo; neste jogo os meeples pretos representam, segundo o estória do jogo, os Salvadores que tem o direito divino de dominar e subjugar os meeples brancos que, ainda de acordo com a estória do jogo são chamados, pelos Salvadores, na tradução do idioma deles, de diabos impuros brancos. Daí vem a questão: será que nos incomodaríamos com esta situação? Será que não acharíamos melhor que as cores dos meeples ou as denominações (Salvadores, diabos impuros brancos) fossem outras ou mesmo invertidas?
2) Ficaríamos confortáveis em jogar um título em que o objetivo é juntar a maior quantidade possível de pessoas de um povo em trens, despachar para um local em que serão obrigados a trabalhar e você ganha pontos pelas quantidades destas pessoas que você mata e/ou faz experiências médicas? Será que alemães (que não nazistas, obviamente) se sentiriam confortáveis em jogar este jogo? Será que nós nos sentiríamos confortáveis?
E finalizo (mentira) compartilhando a única coisa que me veio à mente enquanto lia os comentários e fazia os exercícios imaginativos aqui propostos: Para mim, é impossível de medir a “dor” alheia, não gosto de ver sofrimento ou situações que possam levar ao sofrimento (sei que existem); assim, acho digno (pelo menos eu) tentar minimizar o máximo possível o sofrimento alheio e situações que possam incorrer em sofrimento.
Só mais uma reflexão (não consigo não expor, desculpem). Neste hobby, acabamos que nos tornamos como super especialista (como acontece, também, em qualquer área acadêmica): nos aprofundamos e nos cercamos de pessoas que já foram tão fundo quanto a gente no hobby e acabamos nos tornando insensíveis e/ou ignorantes à assuntos tão ou mais importantes quanto aos que a gente é "especialista", acabando ainda, por pensarmos que “o nosso mundo” é mais importante do que os demais. Diante disso, acho louvável e importante que tenhamos essa consciência, busquemos conhecimento e empatizemos com realidades que não à nossa.
Complicado isso. Dizem que a História serve para lembrarmos de não cometermos os mesmos erros do passado. Se formos abolir todos os fatos históricos em que alguém se sente ofendido temo que os jogos, livros, os filmes, seriados e tudo o mais ficará muito mais pobre e raso.
Lembro das críticas que fizeram ao jogo Brazil por ele fazer exatamente o que você disse. Retirou toda a parte ruim da história e ficou somente com a boa do Brasil. Já choveu críticas de que o jogo era ufanista e por aí vai.
Quanto ao tópico eu acho o seguinte se a pessoa tem alguma deficiência sensorial, ou é uma pessoa de mais idade, colocar esse sistema neutro é um obstáculo para entender e conseguir compreender o jogo. Imagina uma certa editora do Brasil traduzindo um manual inclusivo como seria de she para they e essas coisas. A linguagem neutra pode ser difícil de entender por algumas pessoas, como as que têm deficiência sensorial ou precisam usar tecnologias assistivas para navegar na web.
Do modo como fazem, a força, estão incluindo alguns e excluindo vários outros. A realidade é que alguém escolhe a sua minoria favorita para incluir sob o argumento do politicamente correto enquanto exclui várias outras pessoas.
Imagina alguém que tem de se utilizar de tecnologias assistivas para jogar numa situação em que há 02 personagens no jogo e somente um deles tem a habilidade de abrir uma porta. Em manual não inclusivo seria como She can open the door o que dá a entender que na regra seria apenas a personagem feminina que consegue abrir a porta. Mas no manual inclusivo seria They can open the door o que te faria jogar errado acreditando que todos os personagens podem abrir aquela porta.
E na boa é complicado querer que pessoas de mais idade tenham que se atualizar em neologismo de dicionário criado arbitrariamente por uma certa ideologia para conseguir jogar corretamente um jogo. O jogo deveria ser de fácil acesso a todos e o mais simples possível. Acho radical e extremista taxar alguém de Paladino só porque quer a aplicação da norma que determina a aplicação da língua oficial em livros, periódicos, manuais, etc.