Reflexão interessante a ser feita, porém me incomoda que sempre seja trazida para o universo dos board games de forma restritiva.
Essa prática já ocorre faz bastante tempo em vários segmentos da indústria, por exemplo, sneakers exclusivos da Nike / Adidas.
Sei que estamos em um fórum sobre board games, mas sempre vejo os tópicos tratando questões econômicas como se fossem exclusivas ao hobby. Resselers, alta dos preços, tiragens limitadas, impostos de importações, etc.
Falando especificamente sobre o tema do tópico, não é de hoje que artigos colecionáveis sofrem grandes variações de preço por questões de tiragem/exclusividade, edições limitadas ou qualidade. Temos cartas de Magic/Pokemon/Yugioh que tem um preço muito alto. Isso ocorre por dois motivos, ou são extremamente raras de serem encontradas, ou são extremamente boas para serem utilizadas nos decks que estão no META. Temos Sneakers das principais marcas do mercado que trazem exclusividade ao realizar colaborações com artistas que estão em evidência, produzindo tiragem limitadas destes produtos e causando FOMO nos colecionadores e amantes destes produtos. É só parar e pensar que encontramos diversos exemplos disso aplicados aos produtos que consumimos no nosso dia a dia.
Se eu percebo que tem um Travis Scott SB Dunk Low que o (insira sua celebridade aqui) está usando, de uma cor específica, por óbvio será mais visualizado nas mídias e as pessoas terão mais curiosidade e vontade de adquirir esse modelo. Algumas pessoas, tendo recursos, podem decidir que essa é uma boa oportunidade de investimento, comprar vários desses tênis específicos, esperar acabarem, e lucrarem muito vendendo esses produtos por preços muito acima do mercado.
É o caso do Sky Team, e vários outros jogos que estão no mercado de usados.
Essa prática é ética? É moral? Isso realmente existe dentro do capitalismo?
A questão principal é tentar entender por que isso acontece. Por que as pessoas compram esses produtos mesmo com preços altíssimos?
Será que pra elas esse preço faz diferença? Será que elas sabem o preço real? Se sabem, por que o ignoram e compram mesmo assim?
FOMO, hype, exclusividade, induzidas por criadores de conteúdo, demonstração de status em mídias sociais.
Continuando o comparativo com sneakers, a própria Nike está tomando medidas para prejudicar os revendedores, aumentando o preço base e aumentando o número de exemplares produzidos. Mas será que isso realmente é para que você consiga comprar um tênis por um preço acessível? Não. É algo que beneficia exclusivamente a própria Nike. Eles enxergaram uma oportunidade de aumentar os lucros e após muito estudo de mercado resolveram utilizar essa estratégia.
Será que as editoras/distribuidoras de jogos de tabuleiro aqui do Brasil querem correr mais riscos, ter estoques maiores, com capital parado, só para que você possa comprar seu jogo a um preço que você considera justo? Não faz sentido. Se eles sabem que você vai ser pego pelo FOMO, pelo hype e pelos criadores de conteúdo, não tem porque mudar essa estratégia, pois no momento é rentável para eles.
Quanto aos revendedores, eles também se aproveitam do seu FOMO, do seu hype, e da sua busca desenfreada por informações sobre jogos recentes e lançamentos, e conseguem fazer investimentos de baixo risco comprando vários exemplares de jogos que sabem que estão na moda, diminuindo muito o risco de ficarem com esse patrimônio parado.
Não adianta ficarmos esperando que alguém resolva os nossos problemas se continuamos tendo as mesmas atitudes. Mesmas atitudes, mesmos resultados.
Agora o maior "problema", a coletividade. Não temos um líder / representante que escolhe o que todos nós consumidores de jogos de tabuleiro vamos fazer, somos um grupo muito diversificado. Então eu posso ficar sem entrar no hype de um jogo, mas 80% da comunidade pode entrar. Eu posso deixar de comprar jogos acima de 400 reais, mas vários outros consumidores não tem essa mesma restrição.
Minha solução? Faça o melhor que conseguir dentro das suas próprias condições.
Não seja refém de mídia social, de grupinhos de whatsapp e também não seja refém dos seus próprios pensamentos. Entenda se você quer realmente um jogo, se você tem condições para comprá-lo, e fique satisfeito consigo mesmo, não importa qual for a resposta.
Não espere que alguém se preocupe com você, se você pode ter esse jogo, se você está começando agora no hobby e não tem jogos disponíveis para comprar (dentre as recomendações dos criadores de conteúdo), ou se você é um trabalhador que precisa fazer grandes sacrifícios para poder adquirir um HEAT para jogar com seus amigos ou seus filhos. Para o mercado você é apenas um número. Ninguém liga para a frustração de quem ficará sem poder jogar aquele jogo precioso, ou se está criando uma barreira para ingressar no hobby. Quem sabe essa pessoa nem seja interessante, do ponto de vista comercial, para uma editora. Ninguém sai dizendo que a Ferrari deveria baixar os preços para dar condições de todos entrarem no mundo dos carros superesportivos.
Sei que a minha opinião pode parecer um pouco dura e insensível, mas saibam que eu também compro e gosto de estar ciente das novidades. Comprei o Sky Team na pré-venda por FOMO. Comprei o Ark Nova e sua expansão, pelo hype e por consumir conteúdos no Youtube, e estou bem com isso. Estou bem com isso, pois embora isso me faça consumir algo que provavelmente nem precisava na minha coleção, eu já consegui entender que nem todos os jogos que eu quero eu vou ter. Isso não me frustra mais. Se eu realmente quiser um jogo, eu não vou vir reclamar de preço, eu vou juntar dinheiro e vou comprá-lo, pelo preço que estiver.
O problema é a pessoa que quer tudo, todos os dias, e não tem as condições financeiras necessárias. Essa vai viver frustrada.