butilheiro::diegosalerno::O jogo que mais me deu problema até hoje foi o Through the Desert. Mas, o que tenho visto de editoras e mercado como um todo, essa questão tem sido muito mais cuidadosamente trabalhada a medida que vão surgindo os problemas. Hoje vários designers tem preocupação se seus jogos são acessíveis aos daltônicos.
Bancando o advogado do diabo, acho que o maior problema que as editoras enfrentam é que existem vários tipos de daltonismo, e fica bem complicado contemplar a todos.
E só para um exemplo fora do nicho que achei bem interessante. Ano passado, na NFL, teve uma partida entre New York Jets vs Buffalo Bills num dia comemorativa em que todos os times jogaram com o uniforme de cor única. Da cabeça aos pés, todas as peças da mesma cor. Jets de verde e Bills de Vermelho. Imaginem a confusão para os daltônicos. As reclamações foram tamanhas nas redes sociais, que a NFL veio a público se desculpar e dizer que as equipes não iriam mais jogar nessas condições. O jogo é conhecido da internet como NFL Colorblind Game.
O episódio veio à tona novamente esses dias, no jogo entre Portugal e País de Gales pela Eurocopa. Os dois times também tem uniformes parecidos e, para evitar que o mesmo acontecesse, a UEFA pediu pra que as seleções usassem seus uniformes alternativos, que seriam mais amigáveis para os telespectadores daltônicos. Se falou bastante do caso da NFL na ocasião.
Mas voltando a falar do tópico, sim, existem de fato muitos tipos de daltonismo e seria quase impossível fazer algo que contemplasse a todos. Mas é possível minimizar a questão, algo que parece ter pouco interesse. Outro colega postou aí sobre o uso das cores básicas, que é difícil encontrar no mercado e tal. Outro ainda disse que o designer tem pouca influência em aspectos de layout. As duas afirmações não poderiam estar mais erradas.
1 - se o designer não tem relevância em decisões em termos de layout, ele não é designer. Ele é só o criador da mecânica. O designer é justamente o que toma essas decisões. Ele pode até contratar um ilustrador pra dar vida à sua criação, mas em geral, é o designer que define sim o layout e é ele sim quem deve se preocupar com essas ações, como, por exemplo, tornar o jogo acessível.
2 - na imensa maioria dos casos, as peças são fabricadas exclusivamente para aquele jogo. Ou seja, está sim nas mãos de quem faz o jogo escolher as cores das peças que serão utilizadas. Talvez o mercado brasileiro tenha se acostumado a fazer peças de plástico nas cores padrão, mas isso não quer dizer que não existam empresas trazendo peças de madeira. Da mesma forma, elas podem trazer as peças de outras cores. No mercado internacional, por exemplo, tem sido bem comum os jogos modernos terem cores como laranja, roxo, um verde com outra tonalidade que se diferencia bastante do vermelho, e etc. Os jogos da SM Games, por exemplo, praticamente não tem confusão de cores. Isso mostra que é possível fazer desas forma. Mesmo o jogo War: Batalhas Mitológicas, da Grow, escapou totalmente do padrão impregnado na cabeça das empresas e colocou no jogo 4 cores de peças bem distintas. Então, é possível fazer sim.
Bem caro Butilheiro vou debater o que você disse:
1 - Citei que nem sempre o game designer tem voz ativa sobre esse tipo de decisão. Como você disse que isso é errado, vou colocar três exemplos de jogos e você vai ver um detalhe :
ALIEN FRONTIERS
Game Design : Tory Niemann, Graphic Design : Karim Chakroun
ANDROID NETRUNNER
Original Game Design: Richard Garfield, Graphic Design: Michael Silsby with Chris Beck, Shaun Boyke,
Dallas Mehlhoff, Andrew Navaro, and Evan Simonet, Art Direction: Zoë Robinson
THE RESISTENCE
Game Design: Don Eskridge, Graphic Design/Illustration: Luis Francisco, Jordy Knoop, Michael Rasmussen
Poderia citar vários outros, mas nem é necessário. Como pode ver eles tem Designers Gráficos e adivinha quem que define a aparência e o layout ( isso sem contar com o Diretor de Arte )? Acho que houve uma certa confusão em que termos o designer do jogo define como o jogo será. Obviamente ele vai definir que dentro daquele jogo ele precisa de determinadas marcações, como por exemplo um contador ou um local com algum numero ou que tenha cores diferentes, mas qual é a aparência e aonde esses itens aparecem, isso nem sempre será escolha dele. O que eu citei que existem aqueles que também são designers gráficos e eles mesmos podem fazer isso. Mas uma vez que o contrato é assinado com a empresa, essa parte foge das mãos do game designer. Lógico que alguns acabam partindo para produzirem os próprios jogos ou montarem as próprias empresas, neste caso eles que definem isso, conforme falei antes.
2 - Eu havia citado isso, porque muitos designes dizem que se importam com o custo final e no próprio desenvolvimento do jogo fazem escolhas devido a essa preocupação. Peças customizadas não são exatamente uma preocupação do game designer e sim da publisher. O game designer vai definir que tipo de peça será necessário, por exemplo: marcadores, workers, materiais, etc. Se todas as peças serão customizadas, miniaturas ou componentes básicos, isso sai do escopo dele. Você disse certo que "está na mão de quem faz o jogo" essas escolhas, só errou na ideia de "quem faz o jogo" seja o game designer.
Isso que você disse é correto, realmente existem empresas que usam peças de madeira e peças customizadas, mas analise o seguinte :
- Você precisa de um trabalhador você pode escolher entre : um meeple, um peão ou uma miniatura?
- Você precisa de marcador de material você escolhe entre : um cubo, uma forma distorcida ou uma miniatura?
Agora coloque quantidades de cada um desses itens. Me diga agora qual dessas opções é a mais barata.
Pense agora no seguinte : Temos 10 empresas fabricando componentes em cores padrão e 2 que fazem outros tipos de cores.
Qual a possibilidade de se conseguir melhores preços, entre as 10 ou entre as 2?
O fato que citou das empresas brasileiras optarem por padrão em usar plástico nas cores padrão é justamente por causa de custo.
Nas lista das coisas que podem aumentar o custo de produção, usar peças de madeira está no topo delas. E realmente para uma empresa é uma escolha complicada: colocar as peças mais caras e depois ficar com um jogo caro que ninguém vai comprar ou optar por componentes mais baratos para baixar o preço final do produto. Lógico que a qualidade pode ser muito ruim e isso é o risco quando se opta por diminuir o custo.
Dificilmente, alguém vai querer pagar mais caro apenas pelos componentes ( estou excluindo aqui os casos de financiamentos coletivos com componentes exclusivos e coisas desse gênero, apenas citando o "padrão de venda" ). No final vai acabar optando comprar o mesmo jogo de outro país, se for mais barato.
Em nenhum momento eu disse que é impossivel que isso ocorra e que as empresas nunca vão fazer esses tipos de escolhas, só disse que é mais facil encontrar componentes ( nem falei se são de plástico ou não ) nas cores básicas e isso é verdade basta pesquisar e a facilidade como citado na pergunta acima, faz com que seja mais barato adquirir esse tipo de componente. E essa linha de raciocínio também é válida para madeira, porque as pinturas padrão são justamente das mesmas cores básicas já largamente utilizadas, justamente por esse motivo, por que são largamente utilizadas e atender a maioria é maior garantia de vendas.
É lógico que lá fora, existe uma preocupação crescente com esse tipo de situação da dificuldade dos daltônicos, porque o publico faz um grande alarde quando essas coisas impactam, principalmente se vai afetar diretamente o faturamento da empresa e que com o aumento da demanda as fábricas vão se adequar a atender essa demanda. Mas como já citado anteriormente esse preocupação não é de todas as empresas.
Outra coisa que deve-se considerar é que, jogos licenciados normalmente devem seguir o que fora feito originalmente e alguns poucos casos mudanças de design deve ser aprovadas pela empresa criadora do jogo. Então não há muito que possa ser feito nestes casos se originalmente não houve essa preocupação.