rafapaz::Excelente análise!
De fato a humanidade não está preparada para lidar com a quantidade imensa de informação que recebe hoje.
O resultado disso são problemas psicológicos, de ansiedade, medo, pânico e outros que não existiam a até 100 anos atrás.
Não é a toa que hobbies como jardinagem, ciclismo e boardgames tem crescido ultimamente... muitos estão descobrindo que a felicidade está longe das telas.
Sobre a ansiedade na compra desenfreada de boardgames... acho que é uma questão de fase do hobby. Todos vão passar por essa fase de querer comprar tudo o que vê ela frente... podendo ser uma fase longa ou curta, dependendo da pessoa. Mas a tendência é o amadurecimento e enxugar a coleção, ficar mais focado e jogar mais os jogos preferidos.
Abs
Caro
rafapaz
Meu camarada você tem toda a razão. O "on-line" está cada vez mais onipresente, principalmente na vida da classe média/alta, que é o público dos boardgames. Depois da pandemia, uma parte significativa dessa camada social viu o home office entrar em sua vida, forçando a pessoa a passar ainda mais tempo na frente de um computador.
Além disso a quantidade de informação disponível está chegando a um nível tal, que forçou inclusive a mudança de alguns hábitos de consumo. Uma parte do lazer, como filmes, seriados e música, já migrou do "ter" para o "usar". Praticamente ninguém mais compra DVDs ou Cds, e esse tipo de produto é vendido em lojas especializadíssimas. Ao invés de comprar, as pessoas contratam um serviço de Tv por assinatura, de streaming ou uma plataforma de música. Só que isso só piora a questão da ansiedade, porque as possibilidades de escolha são virtualmente incontáveis.
Obviamente o número de escolhas possíveis não é infinito, mas dada as limitações (inclusive cognitivas) do cérebro humano é como se fosse. Por isso, com certeza você está correto, e é um fenômeno observável, a quantidade de atividades, principalmente físicas como corrida, que ganham adeptos todos os dias, como uma forma de contrabalancear a ansiedade gerada pelo "on-line".
No caso dos board games, essa questão da ansiedade e da fase de compra desenfreada, tem dois aspectos. O primeiro é que 10 anos atrás nem se falava disso, porque a quantidade de lançamentos era tão pouca, que dava para comprar uma boa parte do que era produzido. Apesar disso, o pessoal mais antigo, que entrou no hobby nos anos 2000, e estava acostumado com importações, já sofria esse tipo de efeito em alguma medida, porque a quantidade de opções era muito maior. O segundo aspecto é que justamente porque os lançamentos nacionais eram poucos, ninguém se preocupava em tocar nesse assunto, de modo que o HYPE e o FOMO, começavam a mostrar sua garras sem que ninguém se desse conta. Mas hoje em dia, esse é um dos assuntos mais comentados aqui no Ludopedia, e muita gente "mais antiga", fala abertamente, e alerta, para os efeitos do HYPE e do FOMO, sempre que surge um lançamento.
Por tal motivo, era de se esperar que as pessoas demorassem menos tempos nessa fase de compra desenfreada. Mas me parece que esteja ocorrendo o inverso, porque a quantidade de pessoas que permanecem escravas do HYPE e do FOMO, aparentemente aumenta a cada dia. Claro que é preciso considerar o aumento quantitativo da comunidade board gamer, e o aumento do poder econômico das editoras, que podem gastar mais dinheiro, fomentando ainda mais, tanto o HYPE como o FOMO.
Assim sendo, só nos resta, pelos menos escrever aqui no Ludopedia, denunciando esse lado perverso do hobby, que faz com que tanta gente gaste fortunas de dinheiro, sem necessidade. Por isso, não apenas eu, mas muita gente boa também escreve (muitos deles bem melhores, e mais conhecedores, do que este que vos escreve), no sentido de contribuir da melhor forma possível para a melhora do hobby e esperar que pelo menos algumas pessoas, que chegaram agora ou há pouco tempo, não cometam os mesmos erros cometidos por mim e tantas outras pessoas que conheceram o hobby logo no início da década de 2000/2010 cometeram.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio