Originalmente postado em: https://www.facebook.com/caixinhaboardgames/posts/1202470336463797
Uma reflexão sobre a descrição dos jogos, por Osmar Campbell.
Eu entrei no hobby há aproximadamente um ano e meio e, quanto mais a coleção cresce, mais rigoroso vou ficando na hora de escolher o próximo ocupante da estante vermelha. Se eu não consigo jogar um jogo antes de comprar, eu tento ver vídeos dele. Se ninguém fez, procuro o manual para ver se tenho alguma luz. Às vezes, o máximo que consigo é a descrição do lado de fora da caixa. E é sobre ela que quero falar agora.
Quando o autor decide bolar um texto para descrever o seu jogo, o que você espera que ele descreva? Aparentemente há dois modos de descrever um jogo: o modo temático e o modo mecânico. São dois prismas muito importantes e não raro encontramos apenas o primeiro.
Em Flip City, Suburbia e Quadropolis nós construímos cidades. São jogos parecidos? Nem um pouco. O problema é que eu preciso jogar ou ler o manual pra saber disso. Porque a descrição não nos ajuda o quanto poderia?
Por exemplo, tematicamente, podemos descrever Lords of Waterdeep assim: “Aqui, você assume o papel de um dos senhores mascarados de Águas Profundas, governantes secretos da cidade. Através de seus agentes, você recruta aventureiros para sair em missões em seu nome, ganhar prêmios e aumentar a sua influência sobre a cidade. Também é possível espalhar intrigas pela cidade a fim de prejudicar os outros senhores ou beneficiar a si mesmo”.
Mas eu acho que é essencial uma descrição mecânica. No tema, eu já entendi o que é para imaginarmos que está acontecendo no mundo paralelo do jogo. Mas e eu? Eu mesmo, o cara que está sentado na cadeira. O que eu estou fazendo? Em outras palavras, como me divirto?
Eu sugeriria uma segunda descrição, algo como “aqui você deve disputar com seus adversários as limitadas localidades do tabuleiro com seus peões. Cada localidade irá lhe fornecer recursos úteis para completar os requerimentos das cartas de missão. Como prêmio, você pode receber mais recursos, pontos de vitória ou ainda, bônus que irão lhe acompanhar até o final da partida. Você ainda terá cartas na sua mão de conteúdo secreto aos outros jogadores. Usadas em um local específico do tabuleiro, estas servem para lhe ajudar ou prejudicar seus adversários, atrapalhando seus planos e atrasando o cumprimento de suas missões.”
Posso ter deixado passar alguma coisa, mas percebem a diferença que há entre o que o meu “eu lírico” na partida faz e o que EU faço? Eu, antes de comprar um jogo, quero saber as duas coisas.
Um outro exemplo, agora nacional. Vou mostrar aqui a descrição na caixa do recém lançado Blacksmith Brothers:
“Blacksmith Brothers é um jogo de estratégia onde os jogadores fazem o papel de dois irmãos ferreiros que buscam glória no Reino de Hammer Stones. O Rei sairá em busca dos melhores ferreiros para suas armas e competirá a você mostrar suas habilidades na forja, controlando seus dois meeples nas localidades do reino, como a forja, a guilda, a mina, o mercado e outros. Quando o Rei voltar ao seu castelo, os irmãos com mais pontos vencem a partida e serão contratados como ferreiros oficiais no Reino.”
Muito bem, a descrição temática está redonda. Mas como o jogo funciona? Eu tenho minhas mecânicas preferidas e ainda não consigo dizer, por essa descrição, o que EU vou fazer enquanto jogo. Como eu uso as localidades? Vou andando por elas “dando passos” e paro onde quiser (gerando possibilidade de bloquear os adversários)? Ou simplesmente coloco meu meeple lá? A descrição diz que eu devo “mostras minhas habilidades na forja”. Como? Há um item bigorna e eu devo bater nele? Malabarista estilo Dungeon Fighter? Essas habilidades que eu adquiro seriam cartas para montar um baralho? Não faço a menor ideia.
Isso me forçaria a ir atrás do manual ou sair perguntando por ai como é o jogo (o que eu já fiz e só ouvi elogios). Eu poderia muito bem já ter essa informação de cara, pra me conquistar nas mecânicas e me fazer imaginar mais fácil o desenrolar da partida.