Bom, eu sou desses que mais coleciona do que joga - e estou no hobby há bastante tempo - então vou aproveitar a sua reflexão para registrar a minha.
Quando eu comecei a minha coleção jamais conseguiria imaginar que ela teria o tamanho que tem hoje. No início eu fiz uma lista de jogos que eu considerei que seriam representativos de determinados estilos e imaginei que isso seria o suficiente - ledo engano, jogos com temática atraente e novas edições dos mesmos jogos acabam te forçando a revisitar a composição da coleção. Por exemplo, eu gosto muito, até hoje, do Fury of Dracula 2nd edition - e tenho o jogo - só que depois saiu a terceira edição... e aí, atualizar ou não? Eis que eu tenho as duas na coleção, a segunda em inglês e terceira em português (com a justificativa de que, assim, posso também jogar com amigos gringos). Depois vêm as expansões: quando dizer "chega, o que eu já tenho está bom?" São as respostas a esses dilemas que fizeram com que a minha coleção crescesse no início. Aí chegou um ponto em que eu parei de comprar jogos. "O que eu tenho está bom". E assim ficou por vários anos... até que um dia eu me dei conta de que, nas rodas de conversas com conhecidos do hobby, ninguém mais falava dos jogos da minha coleção que até anos atrás eram "clássicos", "essenciais", etc. Foi aí que, ano passado, eu resolvi dar uma "repaginada" na coleção e acabei comprando mais dezenas de jogos.
A verdade é que o maior motivo para que eu tenha tantos jogos é que eu não tenho um grupo fixo. Eu tenho conhecidos que jogam os mesmos jogos há anos e não veem necessidade nenhuma de comprar novos jogos. Se você tem amigos que começaram a jogar Twilight Imperium 3 e se reúnem duas vezes por mês para jogar principalmente esse jogo dificilmente você verá necessidade de comprar outros 30 jogos, no máximo vai considerar fazer um "upgrade" para o TI4. Pois eu conheço um grupo que fez basicamente isso! Se você joga Catan com a sua família há dez, quinze anos, e todo mundo gosta, vai comprar mais jogo para quê? Pois bem, também conheço um caso assim! Eu, no entanto, sou aquele cara que, da família, é o único que realmente se interessa pelo assunto. Não há nenhum jogo que seja unanimidade por aqui como nos casos que citei. Assim sendo, minha esperança para jogar os jogos que eu quero acaba sendo trazer os jogos para pessoas que estão no hobby. E esse é o maior gerador de hype que existe: não adianta levar seus dez jogos antigos que você adora na convenção porque todo mundo quer ver aquele jogo que é novidade e que Fulano trouxe. Além disso, o mesmo hype gera comparação e ninguém quer sentir que tem na coleção um jogo tido como pior do que outro que está no hype (a não ser que você possa ter os dois). Por exemplo, eu gosto mais do Ave Caesar do que do Heat - Pedal to the Metal (ambos são jogos de corrida, certo?), aí eu levo um Ave Caesar e necessariamente o Heat surge como tópico de conversa, seja antes, no meio, ou depois da partida. Novamente, se você joga com fiéis amigos isso é irrelevante (até porque eventualmente o grupo ganha uma "cara" e aí só entra o que faz sentido para o grupo), mas se você não tem amigos de verdade com quem jogar, o jogo do hype acaba sendo extremamente atraente - e é aí que você acaba ficando com os dois jogos: afinal, um não precisa substituir o outro, não é?
Na minha casa os jogos de tabuleiro ficam no mesmo ambiente que a maior parte dos livros, tanto que ainda chamamos o cômodo de biblioteca embora os jogos já ocupem mais prateleiras do que os livros, e vejo muitas semelhanças nos processos mentais que me levaram a ter muitos livros e muitos jogos; da mesma maneira, vejo muita semelhança nas decisões editoriais que levam certos títulos a serem promovidos (e digo isso já tendo um livro publicado). No caso dos jogos de tabuleiro, muitos jogos que são lançados tem no fundo um aspecto "amador" ou "indie". É aquele título daquele designer que teve uma ideia, montou um protótipo, colocou debaixo do braço e levou para a editora - e a verdade é que é muito mais fácil criar um jogo de tabuleiro do que um de computador, e isso ajuda no alto número de lançamentos. Ninguém sabe bem se vai vender e, se vender no mercado X, se vai vender bem no mercado Y, e se até o próximo print o hype já não passou. O heat, mesmo, é um: é hype agora, vai ser hype se chegar até o ano que vem, mas passado disso a editora já tem que pensar em alguma coisa para chamar a atenção de quem já comprou o jogo no passado, para ver se volta o hype. Eu tenho diversos títulos da GMT (especializada em wargames; aliás, provavelmente a maior editora de wargames no mercado), e os números do P500 são, no geral, públicos. O jogo mais famoso e o maior best seller deles é o Twilight Struggle, que está em sua oitava edição e fechou seu último P500 lá por 1000 pedidos. Ainda que outros 10.000 sejam vendidos depois do lançamento, esse é o best seller da empresa, conhecido mundialmente! No geral, os jogos ficam um tempão na fila e o número de pedidos dificilmente chega a 1000 (e são pedidos do mundo inteiro). No fim, é mais fácil a empresa me vender um jogo novo do que me convencer a me desfazer do meu Twilight Struggle para comprar uma cópia nova, a não ser que surja uma nova edição muito "superior" (e sim, geralmente é só perfumaria, mas, fazer o que, é o que funciona!).
Eu poderia continuar escrevendo aqui por mais muitos parágrafos, mas por hora fico por aqui. Enfim, bom tópico.