dharrebola::A questão principal é: como o iuribuscacio tá perdendo esse tópico?
Um forte abraço e boas jogatinas!
Caro
dharrebola
Meu camarada, para ser muito sincero, aqui no Ludopedia de vez em quando se topa com pessoas tão grosseiras, desrespeitosas, e ofensivas, e algumas vezes de forma tão gratuita, especialmente quando a pessoa discorda da gente ou é amigo pessoal dos diretores de editora criticada, que para não passar por esses encontros desagradáveis, o sujeito tem de escolher com muito cuidado os tópicos onde comentar. E esse tópico tinha o potencial de ser muito explosivo, principalmente após incluir a questão ideológica.
Quanto a questão de se aproveitar do fenômeno da escassez, para comprar barato e vender caro, pela minha experiência no hobby, me parece que isso vai depender da posição que a pessoa ocupa nessa relação. Se o sujeito é quem está comprando então é claro que isso é imoral, mas se o sujeito é quem está vendendo, então não há imoralidade alguma, apenas o velho capitalismo. Vender um produto por um preço absurdamente mais alto do que aquele que se comprou, é superfaturar o produto, independente da motivação e das circunstâncias. O interessante é que eu vejo muita gente defendendo que isso não tem nada de imoral, mas se isso não é imoral e perfeitamente legítimo, quando se trata de nós meros compradores, por esse raciocínio, não deveria haver reclamação quando a editora do Apex, tentou vender o jogo cobrando o preço cheio da edição De Luxe, mesmo sendo uma editora parceira e mesmo entregando a versão retail. Isso me parece usar dois pesos e duas medidas. Quando eu faço está tudo bem, mas quando a editora faz é um absurdo.
Outra coisa que eu acho interessante notar é que muita gente defende que o board game é algo supérfluo, com o que eu concordo totalmente. Porém, não é com esse entendimento que as pessoas agem dentro do hobby. Basta ver a verdadeira obsessão com a qual foi lidado o lançamento do Heat e muitos outros jogos badalados e com muito hype, quando as pessoas agiam como se o jogo fosse realmente um item de primeira necessidade, obrigatório na cesta básica do brasileiro. Por isso, as pessoas até dizem que board game não é essencial, mas pelo que se vê, as pessoas agem como se fosse.
Indo além, se o board game fosse tão supérfluo assim, não haveria como explicar uma pessoa se sujeitar a comprar um jogo mofado, quando poderia abdicar do jogo e comprar algum similar, em melhores condições. Se toda a tiragem do Heat viesse mofada, nao tenho dúvida de que muita gente ia preferir ficar com o jogo e resolver com Sanol, do que comprar um Rallyman, que custa um terço do preço, e também é um jogo de corrida. Claro que se pode dizer que o Heat é muito melhor que o Rallyman, mas nesse cenário hipotético, o Heat teria vindo mofado e o Rallyman não. Nesse caso, insistir em um Heat, eventualmente mofado só porque ele é "o melhor jogo de corrida de todos os tempos, dessa semana", não me parece coerente com alguém que acha board game algo supérfluo. E só para esclarecer, eu estou usando o heat e o Rallyman, apenas como exemplo, mas isso também se aplica a diversos outros jogos, como por exemplo, os incontáveis jogos de alocação de trabalhadores, ou dungeons crawlers com miniaturas, lançados todos os anos.
O que eu também vejo, é que todo mundo gosta de dizer e acreditar que a moral é algo externo, geral, e que vale para todos os indivíduos igualmente. Mas, curiosamente, na vida prática o que mas se vê é cada um agindo com uma moral própria, e que estrategicamente sempre se adequa aos seus interesse e à sua comodidade. E a atuação dentro do hobby, seja pela comunidade, pelos influencers, pelas lojas e pelas editoras não parece fugir a esse triste cenário.
Assim sendo, eu acho que talvez nem faça sentido esse tipo de questionamento, se comprar um board game barato e vender muito mais caro, por conta da escassez, é moral ou imoral. E mesmo que isso faça sentido, a verdade é que quem se utiliza desse expediente não está nem aí para a moralidade do fato. O que importa é se a estratégia é eficiente ou não. Só para manter o exemplo do Apex, que infelizmente não é o único, a editora primeiro tentou vender o jogo por um preço muito alto e com um lucro totalmente absurdo. Como não deu certo, ela foi obrigada a baixar esse preço, não por uma questão moral, ou porque teria "ouvido a comunidade" como algumas pessoas preferem acreditar. Ela baixou o preço para tentar consertar a sua estratégia de lançamento inicial que foi um desastre. Ninguém estava comprando o Apex, e nem iria compra,r por aquele preço absurdo e injustificável, e olha que a empresa tentou justificar bastante.
Esse ponto de vista focado exclusivamente no resultado, excluindo a moralidade, também se viu no The Witcher Old World. Depois que o jogo chegou, as pessoas começaram a dizer que não interessava se o jogo que atrasou anos e se veio com erros grosseiros, mas apenas que ele havia chegado, e com um considerável esforço dava para jogar. No caso do Apex o raciocínio foi que não interessava a ética empresarial ou a eventual falta dela, por parte da editora, mas apenas que ela reduziu o preço do jogo em um terço, e isso era tudo o que importava.
Por isso que eu digo que a fixação do preço inicial do Apex e a posterior redução significativa, bem como o modo como foi gerido o projeto Old World, não tem nada a ver com moralidade, mas sim com a eficiência do ato. Na minha humilde opinião o mesmo ocorre com quem compra barato e vende muito mais caro um jogo escasso.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio