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Tabuleiro na Escola: Projeto “Sua Vez”

Ricardo Gama17/10/14 09:04

Ricardo Gama

17/10/14 09:04

4575 mensagens MD
O Redomanet apoia todas as ações relacionadas à Jogos de Mesa com Educação. Apresentamos agora o projeto “Sua Vez”, organizado pelos amigos Fernando Tsukumo e Alexandre Carvalho (Ale AC).

Redomanet: O que é o projeto “Sua Vez”?
Fernando Tsukumo: O Sua Vez é um projeto de oficinas e atividades direcionado para escolas e famílias que buscam oferecer alternativas saudáveis de diversão, e ao mesmo tempo proporcionando momentos que propiciam o desenvolvimento de valores e saberes que são fundamentais para a formação de qualquer jovem. Isso é feito de forma supervisionada por educadores que trazem os jogos, pensam em jogos de acordo com o perfil do aluno e dos participantes da oficina, prescrevendo jogos como formas de se trabalhar cada uma dos saberes necessários aos nossos jovens. Os professores e monitores não apenas mediam os jogos, mas também observam todas as atitudes e valores necessários para se ter um ambiente saudável e divertido para todos.
Ale AC: “Sua Vez” são jogos em sala de aula. Diversão com aprendizagem. Aprendizagem com diversão.

Fernando Tsukumo e Ale AC com a turma do Projeto Sua Vez

R: Como surgiu a ideia para este projeto?
Ale AC: Imagino que todos professores gamers tentam, de uma forma ou outra, aplicar jogos em sala de aula. Dei aula regular de biologia até 2004, e naquela época eu não tinha conhecimento desse mundão dos jogos modernos, mas já curtia fazer uns jogos competitivos com temas da atualidade (era época da ovelha Dolly, do boom dos transgênicos e do sequenciamento genômico). Então, o desejo vem de longe. E o Fernando (daqui em diante chamado pelo codinome “Buda”) foi quem o cristalizou. Não sei se eu mencionei a primeira vez, ou foi ele, mas o fato é que no ano de 2012 o assunto “oficina de jogos” apareceu diversas vezes em nossas conversas (obviamente depois que eu viciei meu caro amigo nos jogos). E 2013 começou com um “Alemão, se prepara aí, vamos dar aulas de jogos”.
FT: O Sua Vez surgiu da observação de que jogos do gênero educativo em geral subestimavam a importância dos mecanismos do jogo quando eram concebidos. Isso acabava gerando uma certa rejeição das crianças e jovens em relação a jogos educativos, que eram sempre preteridos aos jogos eletrônicos. A outra preocupação era oferecer alternativas aos vídeo games para os jovens. Mesmo com novos jogos eletrônicos bem mais interativos, há uma preocupação de pais e educadores em relação a adolescentes que passam horas seguidas em vídeo games, relativamente isolados.
Quando percebemos o potencial educativo que os já existentes jogos de tabuleiro modernos tinham, montamos o projeto e passamos a oferecer para as escolas, que rapidamente viram esse potencial e resolveram apostar nas oficinas que montamos.

R: E como foi apresentar esta ideia para a escola? Quais escolas aderiram ao projeto?
FT: Esse é o primeiro semestre que o projeto é colocado em prática, assim começamos com projetos piloto em duas escolas de ensino fundamental II (para os mais velhos, o antigo ginásio), a Stance Dual School e o Colégio Oshiman. As duas escolas têm como característica comum o fato de serem bilíngues e tempo integral. Isso permitiu que trabalhássemos com sessões mais longas com os alunos e oferecêssemos oficinas de longa duração, de 2h20min e 1h30min, respectivamente.
Ale AC: Posso comentar sobre a apresentação que fizemos em uma delas, pois era necessária para cativar aos alunos, já que as disciplinas extras (como a nossa) deveriam ser escolhidas (cada aluno poderia escolher duas opções, mas só cursaria uma delas). Eu que apresentei a parte específica do projeto, falei em um auditório para todas as classes envolvidas, assim como para os professores ali presentes. Fazia 9 anos que eu não dava uma aula. Quase chorei, voltei a ter a indescritível sensação de estimular um grupo com algo que conheço, que domino, e ver como resultado seus olhos brilharem como o meu – foi maravilhoso. Como maravilhosa foi a recepção ao projeto, pois apesar da escola não ter revelado (todas as) opções feitas pelos alunos, numa “boca-de-urna” conseguimos identificar o nome de nossa disciplina na maioria dos formulários. Porém a escola permite um máximo de 8 alunos em cada uma destas disciplinas, assim os demais entraram na sua segunda opção.

R: Como está a organização do Projeto? Fale um pouco sobre planos futuros e metas.
Ale AC: É um ano de aprendizagem para nós também. Nesse início, a ideia é estimular as mais diversas habilidades possíveis através de jogos. Vale dizer também o óbvio (para nós, mas não para os alunos, escolas e outros envolvidos): queremos levar os tabuleiros modernos a mais pessoas, torná-los acessíveis, e assim criar uma futura geração de disseminadores do hábito de jogar. Queremos crianças que, mesmo depois do fim do curso, procurem amigos e familiares, e mostrem o que sabem: um jogo cooperativo (como o Forbidden Island), um onde aflore a criatividade (como o Dixit), ou ainda outro onde ganhará o melhor planejamento estratégico (como o Pueblo – apenas para citar os jogados em sala até o presente momento). E com tanta temática dando sopa, quem sabe um projeto interdisciplinar ainda floresça algum dia…
FT: O projeto tem tido uma recepção surpreendente, tanto da comunidade de jogadores, quanto da comunidade de educadores. Isso foi muito bom, sinalizou para nós o quanto esses dois mundos precisam se aproximar. Adiantamos a segunda fase do final do ano para o meio do ano, quando pretendemos levar as oficinas para mais alguns colégios daqui de São Paulo e depois no final do ano, aumentar a quantidade de escolas atendidas. A ideia para o ano que vem é também trabalhar com treinamento, permitindo que essas oficinas se multipliquem pelas escolas através de iniciativas semelhantes ao Sua Vez.

R: Com qual faixa etária vocês trabalham neste Projeto?
FT: Começamos inicialmente no fundamental II, de 10 a 14 anos, e estamos dando início ao trabalho com o ensino médio, de 15 a 17 anos.
Ale AC: Agora, meu desejo particular é usar os jogos no ensino médio, primeiro porque eu tenho mais facilidade de lidar com os maiores, e segundo pois acho que podemos aprofundar bem mais, seja na dificuldade, seja na interdisciplinaridade.

R: Conte um pouco como foi a reação dos alunos e quais jogos eles gostaram.
FT: Em todas as escolas que apresentamos o projeto, a recepção é fantástica. Numa das escolas onde fizemos a apresentação da oficina, os alunos podiam escolher uma lista de dez oficinas eletivas como música, culinária, teatro, dança e robótica. A resposta que tivemos foi de mais de 50% dos alunos escolhendo a nossa oficina. Infelizmente a escola precisava distribuir melhor os alunos, assim alguns tiveram que ser remanejados para outras oficinas.
Todos os dias que temos oficinas vemos alunos “namorando” a oficina da porta da classe. A oficina está indo tão bem que estamos conversando com a escola sobre a possibilidade de oferecer as oficinas para todos os alunos depois do horário de aulas. Adolescentes que nunca tinham tido contato com jogos de tabuleiro agora chegam toda semana perguntando qual será o novo jogo trazido na semana.
Recentemente, o Lucas Pereira levou o jogo de sua autoria para a oficina e os alunos adoraram, mesmo o jogo não tendo nenhum atrativo visual, eles ficaram fascinados simplesmente com a mecânica do jogo e o estímulo imaginativo que o jogo proporciona.
Há alguns depoimentos de nossos alunos no site do Sua Vez que mostram bem a afinidade deles com esses jogos.
Os jogos que eles mais gostam variam MUITO. Alguns gostam de jogos abstratos, enquanto outros são mais party games. Mas o que é mais interessante notar é que o tema em geral influencia MUITO na escolha deles. Temas associados a universos de fantasia e zumbis em geral fazem muito sucesso. Entre os mais estratégicos que trabalhamos, o Catan é certamente um preferido e entre os ameritrash, dá pra destacar o Zombie Dice. Eles são pirados nesse jogo! Outro que fez muito sucesso foi o Shear Panic. É muito engraçado, o jogo atrai no começo pelas peças e depois eles descobrem que o jogo é estratégico. Descobri várias meninas que gostavam de estratégia nesse jogo.
Outro aspecto interessante do projeto é que trazemos diferentes jogos de acordo com o perfil da turma e do aluno. Jogos cooperativos, onde os jogadores jogam como uma equipe apenas contra o jogo, são ótimos para trabalhar auto-estima de alunos com problemas nesse campo enquanto que ao mesmo tempo ajudam a trabalhar a capacidade de trabalhar em equipe. Coloca dois alunos “mandões” em um mesmo jogo cooperativo tende a criar situações onde o professor/monitor pode intervir de modo a resolver os conflitos de forma amigável. Já jogos onde há negociação apresentam situações onde os jogadores têm que ceder e entender as necessidades do oponente para que possa haver o acordo. Para dar um exemplo, jogos como o Dixit, estimulam a imaginação, a ponderação, o exercício de se colocar no lugar do outro, comunicação enquanto que ao mesmo tempo valorizam a diversidade das maneiras de pensar. Fizemos nesse jogo uma pequena modificação onde cada um explica o que pensou no final ao dar a dica e quem quiser pode explicar porque escolheu uma determinada carta.
Tudo isso é feito dentro de regras gerais definidas dentro de princípios básicos onde, dentre outras coisas, todos têm o direito de se expressar e se divertir de maneira saudável.
Ale AC: Algum transeunte desavisado, ao ver os alunos, diria: “as molecada pira, véi!” Party games fazem muito sucesso (Dixit já é um clássico – até em aula!). Mas qualquer jogo que colocamos é visto com curiosidade, com desejo de “desvendá-lo”. Jogos que eu não esperava aceitação me surpreenderam, como o Balloon Cup, o Vale dos Monstros e o Saboteur. Creio que a grande diferença para os jogos clássicos é fator fundamental para entreter a garotada. O visual dos jogos é fator importante também (todos acharam as ovelhinhas do Shear Panic o máximo), mas não é decisivo – digo isso pois um tabuleiro de papel e um jogo apenas de cartas, não impediu o sucesso fenomenal do Summoner Wars.

R: O que outras escolas precisam fazer para implantar o projeto “Sua Vez”?
Ale AC: Disposição. Tempo. E nós, é claro, hehe.
FT: Basta nos contatar. As informações de contato estão presentes na nossa página do Facebook.

R: Existe um cadastro ou inscrição para outros voluntários que gostariam de participar deste projeto?
FT: Hehe, nunca tinha pensado nisso, mas acho que está na hora de pensar em fazer um. Mas nos contactando estamos sempre interessados em pessoas para nos ajudar nessa empreitada. A ideia é futuramente selecionar alguns monitores remunerados dentre os voluntários para fazer as oficinas.
Ale AC: Apesar de a seleção ser extremamente rigorosa (nosso time de advogados e detetives tem muito trabalho), ainda não houveram rejeições aos pedidos. Se alguém quiser passar por esse crivo (até estamos pensando em implementar um polígrafo), é só entrar na nossa página do facebook (http://www.facebook.com/pages/Sua-vez/108987569287566) e nos contatar (um comentário é suficiente, mas ainda temos por lá o e-mail e o telefone do Buda).

R: No que os jogos de tabuleiro contribuem para a formação dos alunos?
Ale AC: Resposta difícil. Depende de muitas coisas, em especial do enfoque do professor, o que por sua vez, tem muita dependência do tipo de aluno, tipo esse que varia principalmente conforme a idade e a motivação (escolheu ou foi obrigado a fazer essa aula?). Mas sempre dá para achar generalidades. A proximidade dos jogos com o raciocínio lógico-matemático e a desenvoltura social, permite aos alunos crescer bastante nestes quesitos. No nosso caso, também trabalhamos o respeito à propriedade e às regras (obrigado Airton Brisolla e seus Mandamentos!). No estágio em que estamos há também um pouco de sedimentação do conhecimento, afinal vários temas são tratados e discutidos informalmente; é isso que um dia virá a se concretizar (na prática) em interdisciplinaridade, e desta forma atingir um potencial multiplicador no aprendizado.
FT: Nossa, mas é tanta coisa! Claro que tudo isso vai depender de cada jogo que ajuda mais a desenvolver uma coisa ou outra, mas eu creio que dá para definir algumas coisas:
- Honestidade;
- Memória e raciocínio;
- Socialização e, em alguns casos, a cooperação entre os jogadores;
- Valorização das regras como parte essencial da socialização;
- Planejamento estratégico e gerenciamento de recursos;
- Vivência de diferentes papéis em diferentes situações;
- Contorno de adversidades e perseverança;
- Esportividade: competitividade e, ao mesmo tempo, o respeito pelos outros jogadores;
- Negociação
Para o pessoal que conhece jogos, vai perceber que alguns itens são mais gerais enquanto outros são mais específicos. Aconselho a cada um de vocês que tem filhos, gostam de crianças ou trabalham com crianças a pensar bem o que pode ser trabalhado com os diferentes jogos que há no mercado. É de uma riqueza estarrecedora! Quanto mais pessoas tivermos para aproximar a educação dos jogos de tabuleiro modernos, melhor será esse mundo! Vamos jogar mais, pessoal!

Post original feito em 16 de abril de 2013
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MVMVasconcelos
649 mensagens MD

MVMVasconcelos17/10/14 13:52

MVMVasconcelos » 17/10/14 13:52

Acompanho o "Sua Vez" pelo facebook, acho fantástico o trabalho que eles fazem! E é legal ver que cada vez há mais projetos como esse por todo o país!

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Shaman
38 mensagens MD

Shaman17/10/14 15:55

Shaman » 17/10/14 15:55

Pô, que legal. Existem formas de contribuir pra projetos assim?

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professor
1120 mensagens MD

professor19/10/14 10:56

professor » 19/10/14 10:56

Muito bacana esse tipo de ação. Além de disseminar os jogos de tabuleiro modernos, contribui MUITO para a educação desse jovens. Parabéns.

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