Para ler a sessão I: Sessão I
Olá, pessoas!
Jogamos a 2a missão de nossa campanha de Descent.
Fabiano - Overlord
Marcelo - Avric Albright
Pedro - Leoric do Livro
Cesar - Grisban, o Sedento
Eu - Tomble Burrowell
Goblin Gordo - Sessão I
A aventura escolhida foi a do Castelo Daerion.
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Capítulo 3 - Castelo Daerion
"Nós ficamos só dois dias em Arhynn!", bufou Grisban, apertando a amurada do barco até ficar com as juntas das mãos brancas.
Tomble estava mais humildade e contido que o normal pois sabia quando estava andando sob gelo fino - fino, furioso e potencialmente assassino, por sinal. "É que... Assim...", começou Tomble, incerto de como proceder. "Era algo para ser certo!"
"Certo?", o anão largou o costado e pegou o machado que estava encostado ali perto. "Certo?"
"Grisban", disse Leoric, "calma."
"Não, não", Grisban respondeu, desconsiderando com a mão o pedido de Leoric. "Eu não estou bravo, Leoric. Eu estou interessado. Bastante interessado em saber como é que estava tudo tão certo."
Tomble não falou nada, até entender que era esperado que falasse. "Ah, sim, é que, veja bem, eu tenho uns amigos... colegas, sabe? E um deles me disse que aquele cachorro tinha sangue de dragão e cresceu comendo carne de troll. Um monstro, ele falou. Não tinha como ele perder."
"E ainda assim", adicionou Grisban, passando o dedo no fio do machado.
"E ele era realmente grande, maligno até. Mas aconteceu que veio do outro lado um bicho que, sei lá se era um cachorro. Parecia mais um touro. A coisa foi violenta, mas..."
"Mas seu cachorro perdeu", Grisban completou. "E eu também."
"É..."
"E agora?", questionou Grisban, aproximando-se. Tomble andou para trás.
"Eu vou lhe pagar, sabe?", Tomble prometeu, levantando as mãos em sinal de amizade.
"Como?"
"Com dinheiro?", respondeu Tomble, sorrindo.
"Quanto você tem?"
Tomble checou a bolsa de couro que trazia presa ao cinto. Doze moedas de bronze, duas de prata e três de ouro - duas delas falsas. "Cinco ouros?", mentiu ao mais que dobrar a quantia.
"Isso não dá, não é?" O avanço deliberadamente lento de Grisban empurrou, como um força invisível e irresistível, Tomble até este dar de costas na amurada do barco. "Quanto que falta, Leoric?"
"Duzentas e quarenta e cinco", respondeu Leoric, desinteressado.
"Parece bastante", comentou Grisban, sabendo precisamente o quão bastante era.
"Bem, é. Não dá para eu pagar exatamente agora, mas o Avric disse que o Sir Palamon será generoso...", justificou-se Tomble.
"Leoric, quanto custa um escravo em Costa Azul?"
Leoric suspirou e fechou o livro que lia. "Adulto? Umas duzentas moedas de ouro, se for saudável."
Grisban franziu a testa, como que avaliando Tomble. "É, acho que aceito o prejuízo."
Avric desceu do castelo de proa e chamou os companheiros.
"Só um momento", pediu Grisban.
"Ainda é por causa da armadura, Grisban?", perguntou Avric.
"Sempre", retrucou o anão, nervoso.
"Chega disso", falou Avric. "Já temos nossas conclusões sobre o assunto: o tal 'amigo' dele era dono do outro cachorro e Tomble é um imbecial", declarou.
"Eu tinha bebido um pouco", explicou-se Tomble.
"Mas, enfim, temos problemas maiores no momento", avisou Avric, vigiando o horizonte onde o sol se punha e o céu era vermelho. "Estamos chegando ao local de nosso desembarque, preparem suas coisas."
A expectativa de viajar a pé, durante a noite, fez o humor do grupo alterar para um estado de alerta taciturno. O rio inchado pelas chuvas de alguns dias antes corria veloz e foi com trabalho que os remadores fizeram a curva no rio.
O capitão, um homem baixo, de barba grossa e sobrancelhas densas, que lhe davam a aparência de uma pessoa feroz, veio até a balaustrada do convés superior e informou que só podia levá-los pouco mais além - suas ordens era para levá-los até ali, onde uma enorme ponte de pedra cruzava o rio e, entre suas arcadas o navio poderia passar, mas os remos tiraram a velocidade da embarcação e a âncora foi lançada. "A Estrada do Riacho, que segue para oeste, os levará até a vila em torno do castelo. É só segui-la", indicou o capitão. "Boa sorte."
As direções informadas eram precisas, pois a estrada seguia praticamente reta até a Cidaerion, o nome da vila em torno do castelo. Após uma leve subida, o caminho descia até Cidaerion e, dali, o grupo viu que havia algo de errado: o vento parecia carregar o som de gritos distantes e sombras diversas corriam por entre as casas.
"Armas", alertou Avric, e todos armaram-se. "Vamos."
Os quatro aventureiros desceram o caminho em marcha acelerada, pouco preocupados em serem silenciosos, principalmente porque, ao estarem mais próximos, ouviram os apelos abafados e os ruídos de luta. Ao lado do riacho que dava nome à estrada havia um confronto entre pessoas da vila e um par de Meriods, que certamente tinham a vantagem.
Grisban deu vazão à fúria que carregava pela perda de sua armadura e chegou enterrando o machado na grossa carapaça do monstro. Avric o alcançou e lhe deu apoio no combate, enquanto Tomble e Leoric interpelaram alguns dos moradores para questionar o que ocorria. "Os sinalizadores!", berrou um dos moradores, com a roupa marcada por rasgos e tendo o rosto e braços respingados de sangue. "Precisamos avisar o castelo!"
Enquanto Avric e Grisban protegiam os camponeses das criaturas, Leoric e Tomble auxiliaram os moradores no trabalho de acender os quatro grandes montes de madeira que serviam para sinalizar ao castelo que havia problemas em Cidaerion, o que permitiria o castelo defender-se e enviar ajuda. Dentro da vila havia um pelotão de goblins, muitos dos quais divertiam-se com a matança, mas outros, comandados por seu líder, destruíam os sinalizadores. Ao notarem a chegada dos aventureiros e, com isso, a perda da vantagem pela surpresa e pelo terror causados, os goblins começaram a recuar, lutando à distância, protegidos pelos destroços das casas, de forma a atrasar os trabalhos de incendiar as toras dos sinalizadores. Foi uma tarefa amarga e difícil, posto que os Meriods, mesmo caindo, continuavam surgindo das águas escuras.
"Não haverá fim para o suprimento de monstros deste riacho?", exasperou-se Avric, tornando-se a cada momento mais lento devido aos ferimentos e fatigado pelos esforços, situação parecida com a de Grisban. Ainda assim, ambos resistiam.
Leoric e seu servo-esqueleto conseguiram incendiar um dos sinalizadores enquanto Tomble, passando furtivo entre as posições dos goblins, ateou fogo em outro. O líder gritou para ordenar a retirada; Leoric clamou para que os camponeses se reorganizassem e organizou a formação de uma equipe armada entre aqueles que estavam em condições de lutar. Talvez sob algum comando silencioso dado pelo Mestre das Sombras, os Meriods desistiram da luta e retrocederam para dentro do riacho profundo.
Leoric liderou o pequeno bando para que, primeiro, procurassem por invasores dentro das casas ainda de pé e, depois, seguissem para o castelo. A procura não deu resultados, exceto por revelar cadáveres demais. O ódio tomou conta dos sobreviventes que correram, enfurecidos, para o castelo. Avric, Griban e Tomble seguiram junto da pequena milícia da vila, com Leoric pouco atrás.
Quanto chegaram ao castelo, a cena era de destruição. O grupo que atacou a Cidaerion não era a vanguarda de um exército, ao contrário, era a retaguarda de uma força muito maior, com a missão de apenas tornar o ataque principal mais fácil, ao invés de acobertá-lo. O portão da fortaleza estava em pedaços e o pátio interno tomado por criaturas - elementais, zumbis, ettins e outras, lideradas por Sir Alric Farrow, um dos tenentes do Mestre do Escuro.
Do alto da torre principal o velho cavaleiro Sir Palamon pedia para que sua guarnição resistisse, e também suplicava por reforços. Os aventureiros abriram caminho por entre os monstros até ultrapassarem os muros do castelo, mas era tarde demais: a sala do trono fora invadida e Sir Palamon foi golpeado e morto, e seu cadáver, quebrado e ensanguentado, foi jogado da varanda e bateu, com um baque úmido, nas pedras.
Os elementais fizeram uma barreira de terra e fogo, que deu tempo para que os as forças da escuridão se retirassem para a noite. Houve alguns combates esparsos, contudo, quando a manhã chegou o castelo ardia e os aventureiros deram-se conta de que haviam fracassado.
"Droga do inferno maldito", praguejou Grisban, largando o machado no chão, fazendo o metal ressoar na pedra e o ruído espalhou-se pelo pátio, misturando os gemidos, ao estalo da madeira que ainda queimava dentro do castelo e aos lamentos.
"Isso ainda não terminou, Grisban", garantiu Avric, abatido e mancando.
"Até porque eu continuo pobre", Tomble emendou, saindo de dentro da torre, enegrecido pela fumaça.
"Algum sobrevivente?", perguntou Leoric para Tomble. O braço do necromante pendia ao lado do corpo - havia no braço um ferimento fundo do qual fluía sangue, e o manto estava todo estropiado pela luta. Tomble balançou a cabeça em negativa.
"Mas encontrei isso." Tomble mostrou uma armadura de couro batido em excelente estado de conservação. Grisban ponderou sobre o achado e pareceu mastigar a ideia.
"É um começo", anunciou. "Um começo."
Realmente era.
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A aventura foi um massacre. O primeiro encontro do cenário foi equilibrado, ainda que absolutamente inútil. Já começo a me questionar qual é o real motivo de se esforçar para vencê-lo - mais vale se concentrar em pegar os itens e deixar o resto se danar. Pouco heroico, eu sei, mas certamente mais eficiente.
Da mesma maneira, também não encontro razão para o Overlord se esforçar na primeira parte, quando economizar suas cartas é provavelmente a melhor decisão. Penso que, nas próximas, existe uma chance de que precisaremos marcar um tempo limite para os primeiros encontros, pois com cada lado enrolando o máximo de que pode, quem sabe quanto eles irão demorar?
A segunda parte do cenário foi ridícula: demorou duas rodadas - os heróis não chegaram a sair do corredor. Deve ter durado mais tempo montar o tabuleiro, ler as regras específicas e o texto de ambientação do que a partida em si. Que noção de equilíbrio foi aplicada? Escolha um cenário e já perca? Isso pareceu divertido para os que testaram? Para mim foi absolutamente frustrante.
Darei outras chances para o jogo, afinal das 5 partes, somente esta última foi ridícula. Porém começo seriamente a questionar a qualidade e o equilíbrio dos cenários (pois, fosse o Fabiano mais canalha, colocando os monstros mais difíceis ao invés de querer usar os mais legais para o cenário, não tenho dúvidas que os heróis teriam perdido todos os cenários). Ficarei de olho e espero não ter de abandonar a campanha mais cedo do que o esperado.
Abs,