Para falar de “Slay the Spire – Jogo de Tabuleiro” devo informar que sou fã do jogo digital o qual considero um dos melhores do gênero. A versão digital já me fez gastar horas experimentando cada personagem e montando diferentes decks. Um jogo viciante.
Dito isso, quando tomei conhecimento da versão analógica, distribuída pela Grok Games no Brasil, ela automaticamente se tornou uma “compra certa” para mim visto o apelo que o jogo tem para o meu gosto pessoal. Claro que procurei em variados fóruns na internet, informações a respeito para saber se a transposição do jogo foi bem realizada, antes de comprar de fato. E é sobre essa questão, dentre outras, que gostaria de falar nesta análise.
Não seria necessário eu dizer isso, mas leve em consideração que esta é minha opinião sobre o jogo e que eu sou um grande fã do vídeo-game relacionado. Isso claro pode potencializar minha opinião.
Slay the Spire – Jogo de tabuleiro: O que é?
É um jogo cooperativo para até 4 jogadores. Os jogadores devem escalar uma “torre”, entrando em salas e enfrentando inimigos cada vez mais poderosos, até o confronto com o chefe final. Se um dos jogadores morrer, a partida termina. No caminho pela torre existem variados tipos de salas, desde lojas para comprar itens a salas onde algum evento aleatório (bom ou ruim) acontece.
O jogo funciona perfeitamente para partidas solo e parece escalonar muito bem para mais jogadores.
Quem curte o vídeo-game vai gostar da versão analógica?
Em minha opinião sim. A versão de tabuleiro está fantástica. A transposição do digital para o analógico foi feita com cuidado para manter a essência do jogo digital mesmo com as mudanças necessárias para uma versão de tabuleiro.
Quais são as principais diferenças implementada na versão de tabuleiro?
Uma das principais diferenças é a simplificação matemática para a versão de tabuleiro. No vídeo-game um ataque pode causar escalas de 20, 30, 40 ou mais de dano. Isso foi simplificado para escalas bem menores, começando com 1 de dano nas cartas mais simples e escalonando para 4 ou mais nas cartas mais fortes. Essa mudança de escalonamento também foi aplicada em outros atributos do jogo, como defesa, quantidade de vida inicial dos personagens, indicadores de fraqueza, indicadores de vulnerabilidade, etc. Cabe dizer que é uma mudança necessária e muito bem feita.
Outras mudanças se percebem nas cartas, que traduzem esses valores de escalonamento em boa parte delas. Além disso algumas cartas tiveram suas habilidades modificadas para se adaptar ao jogo analógico enquanto que outras são exatamente iguais à versão do jogo digital.
Personagens mantiveram sua essência e habilidades iniciais praticamente iguais ao jogo digital (respeitando a questão do escalonamento já mencionado). O “Rígido” continua curando ao final do combate e interagindo mais com força e exaustão, a “Sorrateira” tem suas mecânicas de veneno e adagas muito bem implementadas, o “Defeituoso” manipulando orbes e poderes e a “Observadora” alternando entre os modos de fúria e calma.
Mas mudanças também são percebidas para os personagens. Um dos exemplos são os orbes do “Defeituoso”, que na versão de tabuleiro possuem uma dinâmica mais simplificada e muito bem implementada. Existem limites para adagas e veneno para a “Sorrateira”, não podem haver mais de 8 peças de força por personagem provavelmente para não tornar o “Rígido” imbatível, a “Observadora” não tem o modo “Divindade” implementado (pelo menos não vi até o momento, caso existam cartas a desbloquear que mencionem este modo).
Os tabuleiros (dupla face) representam o mapa da torre e também sofreram simplificações. A sensação é a mesma do jogo digital, mas o caminho é menor. Peças de salas são sorteadas e colocadas nos espaços vazios durante a preparação do jogo para criar variações de mapa em cada partida. Para o ato 1 dois mapas com layouts diferentes estão disponíveis, enquanto que o ato 2 e 3 tem um mapa cada.
Os chefes de cada ato são os mesmos do jogo digital e sua implementação está excelente. Cada chefe mantendo suas características principais do vídeo-game e passando a mesma sensação de dificuldade e estratégia de combate.
Como é o deck Building no jogo?
Também está fiel ao vídeo-game. Você começa com o mesmo baralho da versão digital, com cartas básicas não aprimoradas. Durante a jornada, o jogador pode acrescentar novas cartas, aprimorar cartas e remover cartas. Também pode receber maldições e durante o combate receber cartas de condições temporárias que "sujam" o deck. Tudo muito parecido e fiel ao vídeo-game.
Nesta questão do deck-building é que o jogo brilha. O jogador vai montando o deck gradativamente e tentando criar uma sinergia entre as cartas. As cartas podem ser comuns, incomuns ou raras. Ao adicionar uma carta ao deck nem sempre uma carta rara terá essa sinergia com as demais cartas existentes no momento, o que leva a decisões interessantes e não meramente pegar a “melhor” carta por conta de raridade.
Como na versão digital, no início do combate o jogador compra 5 cartas. E o desafio é utilizá-las da melhor maneira possível com as (geralmente 3) energias disponíveis para pagar pelo uso das cartas. Cartas melhores custam mais energia, enquanto outras podem ter custo zero. Devo atacar ferozmente cada rodada para eliminar a ameaça o mais breve possível? Devo equilibrar ataque com defesa e rodar mais o deck? Devo focar em efeitos que desarmam a ameaça e ir consumindo seus pontos de vida lentamente? Devo estabelecer poderes para fortalecer meus atributos e habilidades e ter um combate mais favorável?
Diversas estratégias podem ser testadas.
Componentes e preço – Está injusto o valor do jogo?
O jogo foi anunciado por 799 reais, mas pode ser encontrado a menos de 680 reais (acredito poder mencionar isso aqui, caso não for permitido peço desculpas). É um hobby caro, sem dúvida. Particularmente eu costumo entender a premissa de que “caro” e “barato” se devem ao valor que o objeto ou serviço tem para você e não para outros. Esse jogo, em minha opinião (ênfase em minha opinião), vale cada centavo mesmo se você pagou os 799 iniciais. Os componentes estão excelentes, as cartas tem a mesma arte do jogo digital e são de boa qualidade. Para estabelecer uma mecânica de cartas aprimoradas o jogo vem com 450 sleeves personalizados e de ótima produção. Os tabuleiros de personagens possuem espaços vazados para os marcadores de vida e são de uma espessura maior. O insert é perfeito e acomoda cada componente incluindo cartas já com os sleeves aplicados. Cartas de relíquias e poções também estão com boa qualidade.
Se você é fã do jogo e já o jogou na versão analógica, acredito que tem a mesma opinião que a minha de que o jogo está num preço que vale a produção levando em consideração que você irá se divertir muito com ele em inúmeras sessões solo ou com os amigos.
Se você não é fã do jogo, não sabe muita coisa sobre a versão digital ou nunca a jogou, provavelmente vai achar o preço alto e possivelmente criticá-lo. Particularmente não acho justo criticar um jogo exclusivamente pelo preço. Acho que a análise tem que ser mais sobre gameplay, rejogabilidade, componentes, quantas vezes esse jogo irá “ver mesa” etc.
Em resumo, ambas as situações acima se enquadram na questão que mencionei sobre “quanto esse produto tem de valor pessoal para você”?
O jogo é divertido?
Esse é a principal pergunta que se deve fazer. Minha resposta é que “Slay the Spire – Jogo de Tabuleiro” é extremamente divertido.
Grok Games
Parabéns a editora por nos proporcionar esta experiência trazendo um grande jogo para o Brasil, e com uma produção excelente. Já se tornou o meu jogo cooperativo favorito.
Desejo que esta opinião tenha sido suficientemente informativa para você que leu até aqui, lembrando novamente que é a opinião de um fã do jogo digital e que já jogou a versão de tabuleiro o suficiente para emitir essa análise.
Cadoo.