Um fenômeno que tem preocupado psicólogos, médicos e até filósofos, é o uso excessivo de smartphones. O brasileiro passa em média 5 horas com o smartphone nas mãos todos os dias.
O hábito de pegar o aparelho nas mãos assumiu um automatismo, uma ansiedade. A interação com as mãos é uma função primitiva da nossa espécie, e por isso uma atividade impulsiva, instintiva. Na era dos dispositivos eletrônicos portáteis isso acaba resultando num comportamento compulsivo e muito prejudicial para a nossa saúde cognitiva. Essa atividade com eletrônicos que nos hiperestimulam minam a nossa finita energia cognitiva, um bem extremamente valioso.
Claro que outras tantas atividades similares ao nosso uso dos dispositivos eletrônicos contribuem para a nossa performance cognitiva, visto que nos treinam o raciocínio lógico, motor, percepção, tais como também os jogos de tabuleiro, em especial os modernos.
A vida tem se tornado cada vez mais digital, enquanto ainda temos um cérebro constituído originalmente para atividades analógicas. A principal vantagem cognitiva e psíquica dos jogos de tabuleiro em sua versão física é que eles nos trazem de volta a esse lugar ancestral e terapêutico das atividades analógicas.
As circunstâncias nos impedem de poder montar uma mesa de jogo de tabuleiro a qualquer tempo e lugar. Como alternativa temos os jogos de tabuleiro online, que eu mesmo tenho feito bastante uso pela famosa plataforma Board Game Arena. No entanto, essa é uma solução que nos empurra aos dispositivos eletrônicos mais uma vez.
Por essas razões é que me encantei com o jogo de cartas Palm Island, publicado no Brasil pela Paper Games. Palm Island é um jogo no qual as cartas não precisam ser apoiadas numa superfície, podendo ser jogado exclusivamente nas mãos. Ele tem um sistema de virar a carta em 90° para armazenar os recursos que nela se encontram, dos quais você utilizará para fazer melhorias em sua ilha. As cartas podem ser modificadas e melhoradas através de flips e giros em 180°. Há melhorias que aumentam os seus recursos, que oferecem pontos de vitória ou ambas as coisas.
Palm Island é um ótimo jogo para se jogar durante viagens, salas de espera, ao acordar e substituir aquela ânsia de logo mexer no celular. Ao desenvolver certa habilidade e conhecer de cor as cartas, uma partida de Palm Island não durará mais que 10 minutos. Quanto à rejogabilidade, o jogo brilha. Ao embaralhar as cartas, você é desafiado a organizar os seus recursos em ordens novas, visto que apenas 4 cartas podem ser viradas para o armazenamento. Porém, o jogo surpreende ao oferecer uma campanha com missões, que ao cumprí-las, você adiciona novas cartas ao jogo, alterando mais a forma de jogar. Não para por aí, o Palm Island vem com dois baralhos. Sim, dois baralhos de cores diferentes. O jogo acompanha outras cartas para você poder jogar com alguém em modos competitivos ou cooperativos. O modo cooperativo é particularmente interessante, pois ambos os jogadores precisam fazer diferentes melhorias e armazenar em conjunto os recursos.

A principal vantagem de vir dois baralhos numa caixa é do jogo poder ser partido em dois, de modo que duas pessoas podem ter em sua posse o jogo para jogar na rua. A versão internacional do jogo vem com cartas à prova d’água numa carteira de bolso, mas a versão da paper games vem no seu padrão tanto de cartas quanto da caixinha. Se você deixar na bolsa, provavelmente amassará. Solução: compre um estojo de cartas. A vantagem do estojo é que você pode separar o baralho com as cartas já adicionadas da campanha e deixar as outras num compartimento. Você também pode adicionar à sua bolsa 5 cartõezinhos para poder pausar o jogo quando necessário, colando os mesmos antes das cartas viradas e em seguida arrumar normalmente o seu baralho para guardar. A paper games ofereceu esses cartões oficiais no DOFF 2023, mas são facilmente feitos manualmente.
Faz quase 1 ano que tenho o jogo e ainda jogo sempre, ando com ele a todo tempo na mochila. O jogo continua oferecendo desafio e sendo bastante completo. Com certeza me ajudou a substituir muitas horas com o smartphone na mão. Vale muito a pena.