Vim comentar (não tão) rapidinho essa conversa que já está longa e já descanbou para outros rumos.
Eu acho que todos os canais de boardgames são sinceros. Sim, é isso mesmo que você leu. O Augusto se destaca claramente dos outros Youtubers. Mas não por esse motivo, na minha opinião, é claro. Explico.
O fato de muitos ou quase todos os criadores de conteúdo não apontarem problemas de produção ou não fazerem análises críticas decorre do fato de estarem subsumidos a um contexto maior que impõe uma demanda à sociedade. A lógica de promoção ou divulgação de produtos em um nicho de mercado excludente, mas que movimenta considerável quantia de dinheiro e muita paixão também, impele as pessoas a tomarem uma atitude e se colocarem à frente desse negócio, a se disporem, caso queiram fazer parte desse mercado. Em outras palavras, elas precisam mostrar serviço e iniciativa para abocanhar a sua pequena fatia no mercado, já que as próprias editoras não vão investir na contratação de estúdios de marketing e propaganda, por exemplo. Especialmente quando estão preocupadas com "redução de custos operacionais" (alô Magos da Costa) e podem ter esse mesmo conteúdo produzido de maneira orgânica e de graça! Veja, nessa situação são os Youtubers que precisam se provar relevantes e não as editoras ou os produtos. Os produtos estão dados, ame-os ou odei-os.
Sendo assim, retomando meu ponto, ninguém precisa abrir um canal de YouTube para conversar sobre jogos de tabuleiro, para "compartilhar sua paixão" ou mesmo para divulgar o hobby. Essa prerrogativa de divulgar o hobby deveria ser das empresas, já que são beneficiadas diretamente por essa prática. Quando há a percepção de um bom retorno sobre os investimentos, elas investem sem pensar duas vezes em torneios, encontros e toda sorte de eventos. É óbvio que alguém pode ainda assim, por livre e espontânea vontade, começar um canal para produzir conteúdo. Sim, somos livres para estragarmos a nossa vida como quisermos. Isso evidência, no entanto, que alguém que começa um empreendimento desse tipo possui expectativas, apontadas anteriormente. Expectativas essas que devem estar alinhadas aos interesses gerais do mercado. Caso contrário ela está fora do jogo.
Então, os produtores de conteúdo não são coniventes com erros. A verdade é que no fundo eles não vêem isso como um erro ou apenas não se importam, como muitos já confessaram de forma não intencional (alô João Zé Regrinha e Objetivamente ao Alvo). Existe inclusive um conceito da teoria do Design e do Marketing amplamente utilizado em tempos de austeridade, o de Produto Mínimo Viável, que ajuda a entender um pouco dessa treta. Diz respeito a uma versão mais elementar de um produto, cujo interesse em seu lançamento é reduzir tempo de produção e custos diretos de fabricação. E isso não quer dizer lançar um produto mal acabado ou mal produzido, necessariamente, mas implicitamente o que esse discurso evidencia é a ideia de aderência comercial de um produto a despeito de julgamentos a priori ou mesmo a posteriori. Ou seja, se o produto é aceito, então está tudo às mil maravilhas! Se ele vende, vende e vende, então o que poderia ser encarado como um problema, não é. Na realidade é tido como uma "característica peculiar". Inclusive às vezes um "problema" pode gerar pontos de interesse que se convertem em mais valor de troca, criando assim produtos exclusivos, únicos e mais desejados por isso mesmo.
Como diriam os teóricos do Marketing e do Design, Draker e Munari, um problema é uma situação para a qual se requer uma solução ou resolução. Ou seja, se não se requer uma solução, então não é um problema.
E eu nem vou entrar no mérito da ancoragem e alavancagem de produtos como técnica de convencimento para vendas pois esse texto iria muito além da proposta...
No fim das contas o que quero dizer é que não posso julgar a intencionalidade de quem faz ou produz conteúdo para a internet. Isso seria ridículo. O que quero dizer é que é absolutamente normal e esperado esse tipo de atitude, por parte de muitas pessoas, dentro de uma lógica de mercantilização da sua imagem que é exigida pelo "capetalismo".
Dito em outras palavras, não posso afirmar com 100% de clareza que algum criador de conteúdo está passando pano para essa ou aquela editora, por exemplo, mas só o fato de ignorarem o que para mim é um problema já é o suficiente para passar a ignorar também esses criadores de conteúdo.
Por isso eu parei de seguir quase todos os criadores de conteúdo. Porque são irrelevantes para mim. Porque não entregam o que eu espero de um criador de conteúdo. Eu não quero perder o meu tempo assistindo a "análises pós-estrutiralistas de aplicação de verniz localizado" em caixa de jogo (alô Código aleatórioBG), então eu não assisto.
Já sobre o Augusto em si. Acho incrível o seu senso de humor e a edição dos seus vídeos é muito inventiva! Ele faz um ótimo trabalho de entretenimento. Quando quero dar risada, certamente esse é um dos primeiros canais que me vem à mente para visitar. Dito isso, acho que as análises dele são fracas pois não são críticas materialistas histórico-dialéticas. Além de não ter qualquer embasamento teórico, evidentemente. Ele fala tudo de orelhada. Na realidade ele só está descrevendo, relatando, o óbvio de um jeito engraçado. Qualquer um pode conferir e fazer essa "análise" descritiva por si só, se tiver acesso ao produto. O problema é que na sociedade do espetáculo o óbvio não é dito. Só há espaço para evidenciar o próprio espetáculo, o show. E todo espetaculo é, por definição, uma farsa montada. Justamente por isso que ele se destaca dos outros e parece "sincero" na sua abordagem. Porque expõe em partes o ridículo da situação. Mérito total dele, já que escolheu trabalhar dessa maneira a despeito disso desagradar alguém. Muitos antes dele tiveram a oportunidade de fazê-lo e optaram por outro caminho, seja esse mais fácil ou não.
Dessa forma fica fácil entender o porque não me importo com os produtores de conteúdo. Simplesmente porque eles não entregam críticas materialistas histórico-dialéticas em suas análises. São apenas descrições seguidas de opiniões vazias, que podem ou não coincidir com os meus gostos. Inclusive já passei muita raiva por causa disso.
São no fundo guias de consumo por afinidade. O senso de comunidade foi para o beleléu há muito tempo, se é que já existiu um dia! Mas essa é outra discussão...